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Terra na Copa

CE: repórter "fujão" admite que não checou informação

Dinamarquês Mikkel Jensen, 27 anos, chamou a atenção nas redes sociais nesta semana ao informar que decidiu abandonar o Brasil após ficar traumatizado com informações sobre extermínio de crianças no Ceará

17 abr 2014 - 16h25
(atualizado às 18h13)
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<p>Jensen denunciou "limpeza" social nas ruas de Fortaleza</p>
Jensen denunciou "limpeza" social nas ruas de Fortaleza
Foto: Facebook/mtkjensen / Reprodução

Na última segunda-feira, o jornalista dinamarquês Mikkel Jensen, 27 anos, publicou em seu perfil no Facebook uma carta de despedida ao Brasil, em que expunha em tom dramático que voltaria à Dinamarca após seis meses por conta de assassinatos de crianças de rua em Fortaleza – segundo ele, os crimes seriam ordenados pelas autoridades para que os estrangeiros não vissem a miséria nas ruas da cidade.

A repercussão, porém, ao invés de ter sido vista como uma denúncia alarmante causou indagações de muitas pessoas no Brasil sobre a veracidade do caso e fez com que a vida do dinamarquês fosse esmiuçada, como nesse post do brasileiro Igor Natusch em seu perfil no Facebook. Muitos questionaram o motivo de Jensen não ter ido mais a fundo e investigado o caso, ao invés de deixar o País sem denúncias concretas. 

Repórter inexperiente, o dinamarquês admitiu em contato com o Terra não ter seguido a regra número 1 do jornalismo: checar a informação. No entanto, diz que acredita que sua decisão pode salvar a vida de outras crianças. Segundo ele, a informação foi conseguida através do contado dele com pessoas responsáveis por cuidar de crianças de rua em Fortaleza. Em entrevista ao site UOL, membros de duas ONGs voltadas ao cuidado de jovens na capital cearense (O Pequeno Nazareno e Barraca da Amizade) confirmaram que tiveram contatos com Jensen, mas negaram veementemente que tenham falado sobre extermínio de menores. 

Não era a primeira vez de Jensen no Brasil. Ele já tinha passado dois meses de férias no País em 2007 e retornado para um intercâmbio no Rio de Janeiro em 2012. Um ano depois, colocou seu material de filmagem na mala e retornou para gravar um documentário sobre a Copa do Mundo para uma emissora dinamarquesa de televisão. Passou por diversas cidades-sede da competição, mas decidiu abandonar o projeto de ficar até o fim do Mundial depois de visitar Fortaleza.

"Meu objetivo era mostrar o quanto os brasileiros estão pagando pela organização do Mundial. Não apenas o valor em reais, mas o preço de verdade, os efeitos que essa Copa tem na vida das pessoas, tanto pobres quanto ricas", contou.

Um vídeo, no qual ele aparece respondendo perguntas de uma colega brasileira, chegou a ser publicado no Youtube, mas Jensen decidiu tirá-lo do ar. "Vou publicá-lo novamente nesta quinta-feira. Prefiro não falar do conteúdo por enquanto, pois essa história tomou proporções muito grandes", disse, negando que queira promover seu documentário a base de polêmica.

Confira a entrevista com o jornalista dinamarquês:

Terra - Em sua carta de despedida ao Brasil, você diz que foi embora por não querer ser responsável pela morte de crianças.

Mikkel Jensen - O motivo foi esse. As pessoas no Brasil estavam pagando o preço (da Copa) por mim, porque eu sou um gringo e o governo estava organizando o evento para mostrar as belezas do País para pessoas como eu. A limpeza das cidades é por minha causa.

Terra - Quando foi o momento exato em que você decidiu deixar o Brasil?

Mikkel Jensen - Eu estava em contato com pessoas que ajudam crianças de rua. Essas pessoas me contaram que muitas dessas crianças estão sendo mortas por causa da Copa. Talvez a vida delas esteja em risco por causa de uma pessoa como eu. A Copa é um evento para festejar, não para tirar vidas de crianças inocentes.

Terra - Você checou essa informação?

Mikkel Jensen - Não posso ter certeza de que essas crianças estão morrendo mesmo por causa da Copa, mas sinto meu coração doente só de pensar que seja por causa disso.

Terra - O que mais te motivou deixar o País?

Mikkel Jensen - Eu adoro o Brasil, é um País maravilhoso, mas fico triste de ver o que está acontecendo. (Com a organização da Copa) existia a possibilidade de melhoras. No entanto, está melhorando para quem tem mais e piorando para as pessoas pobres. É preciso que o Brasil use o crescimento da economia para toda a população.

Terra - Você está sendo criticado por algumas pessoas por ter deixado o Brasil em vez de ficar no País e contar o que está acontecendo.

ikkel Jensen - Acho que talvez eu vá levar mais problemas para essas crianças fazendo jornalismo crítico no Brasil. Procurar essas crianças talvez seja mais perigoso para elas.

Terra - Foi difícil tomar essa decisão?

Mikkel Jensen - Foi. Eu tenho muitos amigos no Brasil. Eu adoro o Brasil. Conheço muitas cidades lá. Mas acho que agora é perigoso voltar. Tem gente que acha que eu não deveria estar lá.

Terra - Você tem medo de voltar para o Brasil agora?

Mikkel Jensen - Tenho.

Terra - Mas você pretende voltar algum dia?

Mikkel Jensen - Quero muito voltar, mas vou esperar um pouco.

Governo do Ceará desmente denúncia

Em contato com o Terra, a assessoria de imprensa do governo cearense negou qualquer registro de morte de crianças de rua e disse que não existem denúncias de casos como os relatados por Mikkel Jensen. 

"A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS – CE) informa que não há registro de mortes de crianças em situação de rua. A Delegacia Geral da Polícia Civil frisa que não existem denúncias em suas delegacias sobre a alegação do suposto jornalista. A SSPDS reitera que, na ocorrência de crimes reais, a população deve entrar em contato com a Coordenadoria Integrada de Operações Policiais (Ciops), por meio do telefone 190, ou procurar a delegacia mais próxima".

CORREÇÂO

Diferente do que foi informado anteriormente pelo Terra em uma parte da notícia, publicada às 16h25 do dia 17 de abril de 2014, o caso relatado pelo jornalista dinamarquês foi no Ceará, e não em Pernambuco. A informação foi corrigida no mesmo dia, às 18h05. 

Fonte: Terra
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