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Terra na Copa

Copa: preso por desvio de ingressos denuncia membro da Fifa

Onze pessoas foram presas em operação da Polícia Civil acusadas de venda ilegal de ingressos da Copa do Mundo; autoridades querem encontrar responsável dentro da Fifa

3 jul 2014 - 12h51
(atualizado às 15h18)
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<p>Ingressos da Copa do Mundo eram negociados ilegalmente em aeroportos e porta de estádio</p>
Ingressos da Copa do Mundo eram negociados ilegalmente em aeroportos e porta de estádio
Foto: Divulgação

 Polícia Civil do Rio de Janeiro já deu o primeiro passo para identificar um possível membro da Fifa que estaria envolvido no esquema de desvio de ingressos para cambismo, que na última quarta-feira levou à prisão onze pessoas envolvidas num esquema que faturava até R$ 1 milhão por partida da Copa do Mundo de 2014. José Massih, advogado e braço direito do argelino Lamine Fofana, um dos cabeças da possível quadrilha, de acordo com a PC-RJ, foi o único dos indiciados que optou por falar em depoimento e indicou que um membro da Fifa poderia ser o líder do bando e repassava, dentro da entidade, ingressos para serem comercializados.

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Tal dirigente, ou mesmo membro da Fifa, estaria hospedado no hotel Copacabana Palace, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, junto a outros membros de alto escalão da entidade, como o próprio presidente Joseph Blatter. "O depoimento está sob sigilo. Ele teve intenção de ajudar. Ele está querendo falar e indicar a pessoa, trocando essa informação de forma de delação premiada", destacou o delegado Fábio Baruck, titular da 18a DP (Praça da Bandeira) que está à frente do inquérito instaurado para investigar o desvio de ingressos.

"Eu conversei com ele. Eu sozinho não posso oferecer a liberdade, tem que ter aval do Ministério Público e do judiciário, que vão avaliar essa informação que ele passou, que é valiosa. A gente não poderia ter (sem esse depoimento). Isso está sendo avaliado. Vamos ver se alcançamos essa pessoa", disse, sem dar maiores detalhes sobre quem seria esse membro da Fifa, até para não atrapalhar as investigações ainda em curso pela Polícia Civil do Rio, com auxílio da Polícia Federal.

Ainda de acordo com Barucke, tal membro da entidade seria um estrangeiro "que estaria pronto para deixar o Brasil assim que a Copa do Mundo acabar". Daí a necessidade da celeridade das investigações de forma a impedir que esse possível integrante da quadrilha possa evadir-se do País.

"Ele não sabe dar todos esses elementos e por isso será imprescindível a ajuda da Fifa. Falta a qualificação completa", complementou o delegado sobre o depoimento de Massih, outro personagem que tem longo currículo no mundo do futebol - ele chegou, por exemplo, a ser agente do jogador Elano, com passagem pela Seleção Brasileira, e que atualmente veste a camisa do Flamengo.

A  porta-voz da Fifa, Délia Fischer, falou nesta quinta-feira sobre o suposto envolvimento de membros da Fifa na revenda de ingressos. “É necessário identificar quem, quando, onde e porquê. Em vários processos dizem que é a Fifa que está envolvida, porque é muito fácil uma pessoa dizer que é da Fifa. Mas às vezes não é da Fifa. Estamos avaliando e esperando informações adequadas e só depois vamos divulgar algo”, esclareceu.

A Polícia Civil divulgou que espera agora a colaboração da entidade nas investigações, e sobre isso, a porta-voz disse aos jornalistas, no briefing diário da Copa do Mundo, que "sempre foi uma prioridade proteger os torcedores da revenda e dizemos sempre que é apenas no site oficial da Fifa que se pode comprar ingressos sem risco". Sobre punições a possíveis membros envolvidos, “a Fifa está analisando isso atentamente e estamos tomando medidas necessárias. Não posso dizer que ações. Temos que esperar e não podemos mais dizer nada”.

Demais envolvidos

Até o presente momento, a Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou nesta quinta-feira que já teve acesso apenas a metade do material de escutas telefônicas autorizadas pelas Justiça - num total de 50 mil chamadas grampeadas. Diante deste fato, o delegado responsável pelas investigações acreditam que novos membros envolvidos no esquema possam surgir, além de outros sete já detectados e que ainda não foram presos. 

"Temos que alcançar essas pessoas desde o baixo escalão, quem fica na porta do estádio vendendo, até pessoas como o (argelino Lamine) Fofana, o de maior escalão. Precisamos achar as pessoas acima dele. Acreditamos que ele era o integrante da Fifa, uma vez que ele tinha livre acesso aos lugares privados (o veículo de Fofana possuía credencial de acesso livre a qualquer evento da Fifa). Mas com o aprofundamento percemos que não, e estamos tentando identificar quem seria a origem primária", explicou Barucke. 

"Essas fontes (de bilhetes para os jogos) são facilitadas pela forma de distribuição, pela própria Fifa, que grande parte são destinadas a agências, ONGs, jogadores de futebol, e especialmente uma nova fonte que surgiu que foi o argelino, uma pessoa altamente influente que conseguia ingressos mais valiosos. Os ingressos 'hospilaties' (que garantem mais comodidade), e são mais valiosos, e garantiam mais fundos", complementou ainda. 

Diante disso, existe uma celeridade junto ao poder judiciário afim de que novos membros da quadrilha não fujam do país antes do término das investigações - um possível suspeito, de origem chinesa, foi identificado como chefe da quadrilha em São Paulo para o repasse dos ingressos para as partidas na Arena Corinthians

Ainda de acordo com a PC-RJ, a quadrilha agia há quatro Copas do Mundo, uma vez que informações já obtidas nas escutas telefônicas indicaram isso plenamente. Isso passava pela própria boca dos investigados no momento de identificação. "Algumas pessoas desconfiavam (na tentativa de compra de ingressos) e ele (Lamine) falava: 'estou nessa há quatro Copas do Mundo'. Um dos presos se declarou jornalista na Copa de 98. Essas ligações foram ricas. Um deles dizia que trabalhava como cambista havia mais de 30 anos." 

Segunda também os grampos telefônicos obtidos, ficou constatado que os criminosos, que podem, dependendo de cada caso, pegar até 18 anos de prisão, tiveram dificuldade de trabalhar no Brasil, diferentemente do que haveria ocorrido na África do Sul (2010), Alemanha (2006) e Japão e Coreia (2002). "Todas essas apreensões deixaram eles com medo. Eles diziam que não sabiam o que estava acontecendo, que só no Brasil isso acontecia. Eles citavam que ao redor do Maracanã estrava impossível e que isso era uma situação inédita para eles", finalizou Barucke.

Fonte: Terra
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