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Eliminatórias 2014

A um ano da Copa, organização tenta superar "fantasmas"

11 jun 2009 - 08h28
(atualizado às 09h20)
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Nesta quinta-feira, faltará exatamente um ano para o início da Copa do Mundo de 2010 e a África do Sul está perto de enfrentar seu principal teste antes do início do torneio: a disputa da Copa das Confederações. Na passagem por Johannesburgo, o que se percebe é uma cidade ainda em retalhos. Apesar das propagandas espalhadas pelas ruas, o clima ainda não é de total euforia.

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Mas o que se passa na cabeça dos organizadores? A equipe do Terra conversou com o porta-voz do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2010, Rich Mkhondo, sobre os principais problemas que ainda restam.

De acordo com o porta-voz, a África do Sul corre contra o tempo para que todos os locais de competição sejam concluídos a tempo, um dos maiores "fantasmas" e temores.

O porta-voz disse também que uma das grandes preocupações é tentar incentivar a presença de torcedores sul-africanos brancos nos jogos da seleção local: a maioria de fãs de futebol no país é da raça negra; os brancos costumam torcer e acompanhar o rúgbi e o críquete. Outro ponto que ainda tira o sono dos organizadores é a questão dos ingressos. Mkhondo diz que eles estão fazendo o possível para que o povo sul-africano tenha condições de assistir aos jogos não apenas pela televisão.

Confira a entrevista na íntegra:

Terra - Sabemos que é um grande desafio organizar um evento desse porte? Qual você citaria como o maior desafio?
Rich Mkhondo - O maior desafio é ter certeza de que a infra-estrutura - o que significa estádios, hospedagem, transportes e hospitalidade - estejam prontos em tempo. Vamos começar pelos estádios, que são o ponto principal da Copa do Mundo. Tudo que você faça tem como objetivo final a disputa dos jogos. E os jogos são disputados nos estádios.

Você pode viajar desde o Brasil, mas o seu destino final é um estádio. Você pode passar uma noite no hotel, mas no dia seguinte você vai querer voltar para um estádio. Temos dez estádios, sendo seis novos e quatro reformados. Todos terão que ser concluídos em tempo. Esse é o maior desafio, já que não vamos querer inaugurar um estádio às vésperas. Mas temos sorte em poder dizer que a maioria deve ficar pronta ao final de outubro. O único que deve ser finalizado no meio de dezembro é o de Cape Town.

O segundo grande ponto é a hospedagem. Quando você convida pessoas para visitá-lo, você precisa conseguir acomodar a todos. Estamos felizes em poder dizer que as hospedagens estão seguras. Já temos os 55 mil quartos para a família Fifa, que é composta pelos 32 times, pelos árbitros, patrocinadores e etc. Então quando o Brasil se classificar, os jogadores já terão seus quartos.

Terra - Outro assunto que muitos querem falar é a segurança. As pessoas estarão seguras quando vierem?

Rich Mkhondo - Sim. O governo investiu 1,6 bilhão de rands (cerca de R$ 385 milhões) para ter certeza que os 40 mil seguranças serão treinados e estejam aptos em tempo. Também haverá 700 policiais em volta dos estádios, sem contar o exército e os seguranças particulares que trabalharão dentro e fora dos locais de jogos.

Mais um desafio é ter certeza de que o transporte vai funcionar. É preciso estrutura para levar as pessoas aos estádios. Quando falamos sobre jogadores e delegações, o transporte é fornecido pela organização. Mas os espectadores usarão transportes públicos, como táxis, ônibus e trens. Mas também teremos um sistema de linha rápida de ônibus. Você estaciona, faz a baldeação para um ônibus e vai ao estádio. Vai ser muito fácil. Teremos também um grande trem que ficará pronto apenas dois meses antes da Copa do Mundo, mas ficará pronto.

E o mais importante para nós é que estamos dentro do orçamento. Trabalhamos com a Fifa, com o governo, com as províncias e as cidades para ter certeza que tudo vai dar certo.

Terra - O que teve de mudar no projeto inicial?
Rich Mkhondo - O problema principal foi o dinheiro. Estamos sob recessão e gastamos mais dinheiro do que o planejado. O governo está nos ajudando para que tudo seja feito com total transparência. Mas não é apenas isso. Você tem que lembrar que as reformas nas estradas, no transporte e nos aeroportos são feitas pelo governo. Todas essas coisas são desafios para a gente. Temos que ter certeza que tudo estará pronto.

O assunto da crise financeira é importante, porque quase todas as pessoas estão cortando gastos para economizar. Mas fico feliz em dizer que tudo que estava planejado está em andamento. Outro desafio é com a questão dos ingressos. Nós temos a grande preocupação de satisfazer todos com relação aos ingressos. Porque a Copa do Mundo é para todos. Tem muita gente querendo os ingressos e o povo da África do Sul está insatisfeito de não ser capaz de comprá-los.

Terra - Nós estivemos no jogo amistoso entre África do Sul x Polônia, no Orlando Stadium, e reparamos que a maioria dos torcedores da seleção são negros. Outro objetivo da organização também é atrair a população branca do país para os estádios de futebol?
Rich Mkhondo - Na África do Sul, a maioria dos brancos gosta de assistir rúgbi e críquete. Mas o futebol é um dos esportes mais seguidos no país. Infelizmente, a população branca do país acompanha mais os times estrangeiros como Manchester United, Liverpool e outros. Nós esperamos que com a Copa, muitos apóiem os Bafana Bafana (como é conhecida a seleção sul-africana).

Outra coisa que conta é que a partida que vocês assistiram foi realizada em uma área onde a maioria das pessoas é da raça negra (Soweto) e sempre existe a questão da preocupação com a segurança. O que é um pensamento, porém nosso exagerado, de qualquer forma. Mas estamos trabalhando pesado para que o futebol do país seja acompanhado pelos brancos.

Terra - Você acha que as pessoas se sentem inseguras de vir para a África do Sul e andar no país por conta da violência e falta de segurança?
Rich Mkhondo - Todos os lugares, todos os países têm problemas com falta de segurança. Nós também temos problemas com a questão de segurança. Mas nós estamos com o apoio dos governantes e dos responsáveis pela segurança no país. Não acho que os brasileiros e nem outro estrangeiro tenham de ficar preocupados com isso. Eles vão estar seguros. Nós já fomos sedes de competições importantes como o Mundial de Rúgbi, em 1995, a Copa das Nações Africanas, em 1996, o Mundial de críquete, em 2001, e outros grandes eventos que transcorreram bem, sem nenhum problema.

Terra - O que vai ficar de legado para a África do Sul após a Copa do Mundo?
Rich Mkhondo - Esses 10 estádios serão usados pelas nossas crianças e pela geração seguinte. Antes, todas as facilidades foram feitas para os brancos. Agora deixaremos isso para trás e todos poderão tê-las. Os aeroportos serão usados por várias pessoas, inclusive vocês. Eles estão muito bons, modernos e poderão ser usados por milhares de pessoas no futuro. Além disso, haverá mais dinheiro para o país por conta dos patrocinadores, dos visitantes. Os hotéis vão fazer muito dinheiro por conta da Copa do Mundo.

Além da questão da infra-estrutura, outra coisa importante é lembrar que graças às construções dos estádios nós criamos 145 mil novos empregos para a população do país, que são importantes para essas pessoas alimentarem suas famílias. Mesmo que estes empregos não prossigam após a Copa do Mundo, as pessoas continuarão com as habilidades que elas ganharam com esses empregos. A mulher que foi motorista durante esse período e nunca tinha feito isso antes. Agora ela tem uma habilidade e pode levá-la para frente e tentar arranjar outro emprego na área.

Eu mesmo nunca tinha trabalhado na organização de uma Copa do Mundo. Quem sabe, os brasileiros não me chamam para ajudar quando eles forem organizar a Copa de 2014. Vocês me chamam e eu vou poder passar minhas experiências para vocês. Isso é que eu digo que é o legado que você leva para sempre.

Na opinião de porta-voz, atrair brancos e negros é desafio para sul-africanos
Na opinião de porta-voz, atrair brancos e negros é desafio para sul-africanos
Foto: Allen Chahad / Terra
Fonte: Terra
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