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Terra na Copa

Famílias desapropriadas por Copa lutam por indenização em Pernambuco

7 dez 2013 - 11h31
(atualizado em 8/12/2013 às 07h35)
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<p>Manoel Sebasti&atilde;o da Silva sofreu AVC durante jogo da Sele&ccedil;&atilde;o Brasileira</p>
Manoel Sebastião da Silva sofreu AVC durante jogo da Seleção Brasileira
Foto: Eduardo Amorim / Brisa Comunicação e Arte - Especial para o Terra

Filha de Manoel Sebastião da Silva, Veronica Maria mora em Camaragibe, cidade vizinha ao município de São Lourenço da Mata, onde foi construída a Arena Pernambuco. Mas na casa deles, quando se fala em Copa do Mundo, o sentimento é de angústia. “Logo no começo dessa história das desapropriações, ele (Manoel) andou muito perturbado com isso aqui. De repente era uma quarta-feira, estava passando jogo do Brasil e ele teve um acidente vascular cerebral (AVC). Quando minha mãe chegou, ele já estava no chão”.

Antes muito organizado, Manoel deixou toda a documentação dos imóveis regularizada. Mas perdeu a visão, os movimentos de um dos lados do corpo e, paraplégico, vive em uma cadeira de rodas. Não aguentou a pressão de ter de deixar todo o patrimônio que construiu ao longo da vida. Hoje, já não fala mais e chora quando ouve algo sobre a Copa do Mundo. E sua família aguarda o pagamento das indenizações pelos imóveis dele para conseguir se mudar para uma casa adaptada para essa nova condição.

Loteamento São Francisco já não existe e deu lugar aos escombros de demolições
Loteamento São Francisco já não existe e deu lugar aos escombros de demolições
Foto: Eduardo Amorim / Brisa Comunicação e Arte - Especial para o Terra

A família hoje vive em um dos mais desoladores cenários da Região Metropolitana do Recife. Os tijolos e restos de metralha espalhados no chão têm nomes, memórias e agora ganham histórias tristes. O Loteamento São Francisco, onde eles moraram, já não existe e deu lugar aos escombros de demolições.

Agora, eles só querem receber o dinheiro a que têm direito antes de reiniciar uma vida. A casa do irmão de Manoel, Gerônimo Sebastião de Oliveira, foi demolida e ele não recebeu a indenização. Muitos amigos já aguardam há meses os pagamentos após saírem de suas residências, morando em casas de familiares ou alugando imóveis com os poucos recursos que lhes restam. A população do bairro simples – mas longe de ser uma favela – empobreceu com os transtornos criados pelas remoções para obras de mobilidade para a Copa do Mundo.

Irmão de Manoel, Gerônimo é um exemplo. Trabalhou muito para construir sua casa, mesmo depois de perder um dos braços. Diz que catou até pedra no rio para erguer a residência: lajeada, tinha várias bananeiras como cenário e uma vizinhança muito amiga. Dos R$ 72 mil da avaliação, ele ainda não recebeu nada. Pagou R$ 2 mil para regularizar a situação do imóvel. Aguarda o pagamento sabendo que não conseguirá comprar outra casa com o valor que aceitou, morando na casa de uma sobrinha. Mesmo assim, mantém o sorriso aberto e a esperança "só em Deus".

A mulher de Manoel, Severina Maria da Silva, espera poder comemorar seu aniversário de 80 anos no próximo dia 5 de janeiro. Desde 2011, quando surgiram as notícias de que por ali passaria o Ramal da Copa e seria construído o Terminal Integrado de Passageiros de Camaragibe, eles perderam a referência de bairro e hoje já querem sair, mas aguardam o pagamento das indenizações.

Para governo, valores de indenizações são altos no Loteamento São Francisco

Dos R$72 mil da indenização, Gerônimo (à esq.) ainda não recebeu nada
Dos R$72 mil da indenização, Gerônimo (à esq.) ainda não recebeu nada
Foto: Eduardo Amorim / Brisa Comunicação e Arte - Especial para o Terra

Moradores do Loteamento São Francisco formam quase que diariamente uma fila no Fórum de Camaragibe nas últimas semanas. O bairro é um dos mais atingidos por remoções da Região Metropolitana do Recife, pois fica no caminho de dois acessos para a Arena Pernambuco: o Terminal Integrado de Camaragibe e o Ramal da Copa. Dezenas de famílias foram removidas de suas casas, muitas não receberam as indenizações e agora seguem sempre que podem para a sede municipal do judiciário para tentar resolver pendências que fazem que suas indenizações sejam retidas pela Justiça.

A relatora da ONU para o direito à moradia adequada, Raquel Rolnik, esteve na comunidade em Camaragibe na última sexta-feira. E denunciou no seu blog a pressão que moradores sofrem na comunidade: “a ordem é pra sair, sem compensações financeiras que garantam previamente o acesso a uma nova moradia, muito menos uma alternativa de reassentamento”.

A Secretária Extraordinária de Desapropriações do governo do Estado, Analúcia Cabral, respondeu ao Terra por e-mail em relação às famílias que saíram sem receber os valores das desapropriações que “existe um Projeto de Lei Ordinária 1743/2013 já aprovado pela Assembléia Legislativa, em Redação Final, que disciplina Auxílio Moradia para expropriados do Loteamento São Francisco do Timbi. Ressaltamos que o expropriado deve optar pelo auxílio moradia ou indenização. O que constata-se é que os valores médios das indenizações são mais vantajosos para a maioria dos moradores, de forma que o auxílio moradia deve ser para situações pontuais necessárias para atender a demandas habitacionais."

Para o governo do Estado, no Loteamento São Francisco estão sendo desapropriados 77 imóveis. No entanto, as famílias dizem que o número de residências é muito maior. A família de Manoel Sebastião da Silva, por exemplo, conta que no lote de 12 x 25 m que seu pai comprou em 1971 tem duas casas de Veronica avaliadas em R$ 140 mil, outras duas de irmãs dela avaliadas em R$ 85 mil e R$ 23 mil, uma loja que era do patriarca e ficou em R$ 17 mil, além da casa dos pais que foi avaliada em R$ 50 mil.

As famílias não sabem precisar o quantitativo (que não é divulgado pelo poder público). Questionado após a visita da relatora da Onu, o Governo do Estado emitiu nota técnica em que conta que a “Procuradoria Geral do Estado (PGE), através da Secretaria Executiva de Desapropriações (Sedes), em parceria com a Secretaria das Cidades (SECID), promoveu uma série de ações para orientar e esclarecer os moradores, os proprietários dos imóveis e os comerciantes sobre o procedimento completo das desapropriações referentes às obras da Copa a partir de julho de 2012”.

Para o governo do Estado, uma equipe multidisciplinar, formada por engenheiros, arquitetos, assistentes sociais e advogados, vem conduzindo o processo de desapropriação e disponibilizando, constantemente, um canal de diálogo com a comunidade. O documento destaca ainda que no início do processo de desapropriação foram realizadas audiências públicas onde os moradores e comerciantes tiveram a oportunidade de assistir às apresentações dos projetos das Obras da Copa, que fazem parte do Promob (Programa de Mobilidade do Estado Secretaria Executiva de Desapropriações) e que foram realizados 263 plantões sociais com moradores de Camaragibe.

Emergencialmente, alguns moradores já solicitam em seus processos a liberação de 80% do valor das indenizações. É o caso de Edson Bernardo da Silva, que tem dois filhos, recebeu visita do oficial de justiça na última segunda-feira e conta não ter a mínima condição de relocar as duas famílias que moram no seu imóvel sem antes receber algum dinheiro.

Ele vive de fazer bicos, tinha como principal renda o aluguel do imóvel onde voltou a morar após o início das remoções no Loteamento São Francisco e seus dois filhos estão desempregados. O Comitê Popular da Copa de Pernambuco, organizou a vinda da relatora da ONU para o seminário Legados e Relegados da Copa do Mundo e divulgou nota nesta semana solicitando audiência com o governador Eduardo Campos.

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Fonte: Brisa Comunicação e Arte - Especial para o Terra Brisa Comunicação e Arte - Especial para o Terra
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