Infraestrutura é maior desafio para Copa de 2014, dizem autoridades
Com Ronaldo como novo dirigente do comitê organizador e as diferenças entre o governo federal e a Fifa praticamente equacionadas no texto proposto da Lei Geral da Copa, os preparativos do Brasil para o Mundial de 2014 entram em 2012 tendo nas obras atrasadas o principal gargalo de uma preparação que demorou a engrenar e agora precisa correr contra o tempo.
O país custou a perceber que a Copa era "amanhã", conforme alertou o presidente da Fifa, Joseph Blatter, em março, e se viu diante de uma série de problemas a resolver este ano, desde disputas entre governo, Fifa e comitê organizador até os atrasos em obras de ampliação de aeroportos e melhorias no sistema de transportes das cidades-sedes.
A 18 meses da Copa das Confederações - evento teste que acontecerá um ano antes do Mundial - a prioridade precisa ser a conclusão das obras dos estádios e de infraestrutura.
"O primeiro grande desafio (para 2012) é a gente conseguir avançar na infraestrutura, começando principalmente pelos estádios. E o papel do governo é acompanhar que estejam num ritmo adequado", disse Fernando Trevisan, consultor da Trevisan Gestão do Esporte.
"O segundo desafio é o capital humano: como a gente vai preparar os profissionais para atender de forma adequada os turistas. Eu diria que estamos em estado de alerta. Muitas coisas já avançaram, mas num ritmo lento", acrescentou.
Desde a confirmação do Brasil como a sede do Mundial, em outubro de 2007, a maior preocupação da Fifa e do comitê organizador sempre foi que as condições dos aeroportos e a mobilidade urbana fossem adequadas para o fluxo de turistas e jornalistas durante a competição, o que está longe de ser resolvido, segundo o presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco) em São Paulo, José Roberto Bernasconi.
"Dada a dimensão do descompasso entre a demanda e o que as estruturas existentes oferecem, acho que nós não teremos possibilidades a não ser fazer alguns arranjos, os puxadinhos como se diz na linguagem popular", afirmou o engenheiro, cujo sindicato acompanha minuciosamente todas as obras relacionadas ao Mundial desde o início da preparação.
O governo aposta na concessão dos aeroportos à iniciativa privada como fórmula para realizar os investimentos para adaptar os aeroportos ao crescimento da demanda por transporte aéreo, e reconhece que é preciso acelerar o ritmo. O leilão de concessão dos aeroportos de Cumbica (SP), Viracopos (SP) e Brasília foi mercado para 6 de fevereiro.
"Precisamos agilizar as obras de infraestrutura e mobilidade não apenas para a Copa, porque de fato elas já são, hoje, uma necessidade dos próprios brasileiros", afirmou o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, em entrevista este mês.
Apesar do atraso nas obras de infraestrutura, os especialistas consideram que ainda há tempo de recuperação para o país preparar uma boa Copa.
"Estamos completando 49 meses da indicação do Brasil como sede da Copa do Mundo, e estamos a 30 meses da Copa do Mundo, portanto estamos já aos 11 minutos do segundo tempo. Ainda temos mais de 30 minutos do segundo tempo para ganhar esse jogo bem", disse o dirigente do Sinaenco.
Estádios e Lei Geral
Sobre a reforma ou construção dos doze estádios que vão receber jogos do Mundial, três são citados pelo Sinaenco como preocupantes: as arenas de Porto Alegre, Curitiba e Natal.
"São os três estádios que precisam entrar num ritmo importante de obras. Todos os demais estão num ritmo bom, e alguns estão avançados no cronograma", afirmou Bernasconi.
O ministro Aldo Rebelo admitiu que no estádio Beira-Rio, de propriedade do Internacional de Porto Alegre, há uma polêmica sobre um contrato escolhido e outro que uma parcela de sócios do clube defende.
"Mas nada que comprometa do calendário. A questão é ter rigor no controle, empenho, aprovar a Lei Geral da Copa. Tudo pode ser resolvido com eficiência", declarou Aldo.
Se nos canteiros de obra ainda há muito trabalho a ser feito, pelo menos as diferenças entre o governo brasileiro e a Fifa parecem ter sido resolvidas no texto proposto da Lei Geral da Copa, um conjunto de leis que regulariza a realização da Copa do Mundo.
O Brasil cedeu ao aceitar a venda de bebidas alcoólicas nos estádios nos jogos da competição - uma exigência da Fifa para atender a uma cervejaria que a patrocina -, enquanto a federação internacional colocará 300 mil ingressos a venda a preços populares para estudantes, idosos, pessoas de baixa renda e até cidadãos que entregarem armas.
O governo também bateu o pé sobre o direito dos idosos à meia-entrada, previsto no Estatuto do Idoso, e a Fifa já sinalizou que aceitaria a medida.
"A Fifa acabou cedendo mais que o Brasil", disse o deputado Vicente Cândido (PT-SP), relator do texto que deve ser votado no início de 2012 na Câmara.
"Eles concordaram com a questão dos ingressos e também vão cumprir a lei brasileira vigente sobre os direitos de imagem da Copa do Mundo, que é do interesse dos nossos torcedores."
Ainda longe dos campos, a chegada de Ronaldo ao comitê organizador anunciada este mês deve melhorar a interlocução da entidade com o governo, que nunca teve as portas abertas para o presidente do comitê, Ricardo Teixeira.
"Foi excelente, ajuda muito na imagem bastante deteriorada do comitê. Foi uma bela sacada", disse Trevisan sobre a nomeação de Ronaldo para o um recém-criado conselho de administração do Comitê Organizador Local. Ele ressaltou, no entanto, que há dúvidas sobre como o ex-atacante vai agir.
"Em termos práticos, a gente precisa ver em que isso vai contribuir realmente... para conferir mais agilidade, mais transparência na atuação do comitê organizador local."