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Terra na Copa

Infraestrutura é maior desafio para Copa de 2014, dizem autoridades

16 dez 2011 - 18h14
(atualizado às 20h39)
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Com Ronaldo como novo dirigente do comitê organizador e as diferenças entre o governo federal e a Fifa praticamente equacionadas no texto proposto da Lei Geral da Copa, os preparativos do Brasil para o Mundial de 2014 entram em 2012 tendo nas obras atrasadas o principal gargalo de uma preparação que demorou a engrenar e agora precisa correr contra o tempo.

O país custou a perceber que a Copa era "amanhã", conforme alertou o presidente da Fifa, Joseph Blatter, em março, e se viu diante de uma série de problemas a resolver este ano, desde disputas entre governo, Fifa e comitê organizador até os atrasos em obras de ampliação de aeroportos e melhorias no sistema de transportes das cidades-sedes.

A 18 meses da Copa das Confederações - evento teste que acontecerá um ano antes do Mundial - a prioridade precisa ser a conclusão das obras dos estádios e de infraestrutura.

"O primeiro grande desafio (para 2012) é a gente conseguir avançar na infraestrutura, começando principalmente pelos estádios. E o papel do governo é acompanhar que estejam num ritmo adequado", disse Fernando Trevisan, consultor da Trevisan Gestão do Esporte.

"O segundo desafio é o capital humano: como a gente vai preparar os profissionais para atender de forma adequada os turistas. Eu diria que estamos em estado de alerta. Muitas coisas já avançaram, mas num ritmo lento", acrescentou.

Desde a confirmação do Brasil como a sede do Mundial, em outubro de 2007, a maior preocupação da Fifa e do comitê organizador sempre foi que as condições dos aeroportos e a mobilidade urbana fossem adequadas para o fluxo de turistas e jornalistas durante a competição, o que está longe de ser resolvido, segundo o presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco) em São Paulo, José Roberto Bernasconi.

"Dada a dimensão do descompasso entre a demanda e o que as estruturas existentes oferecem, acho que nós não teremos possibilidades a não ser fazer alguns arranjos, os puxadinhos como se diz na linguagem popular", afirmou o engenheiro, cujo sindicato acompanha minuciosamente todas as obras relacionadas ao Mundial desde o início da preparação.

O governo aposta na concessão dos aeroportos à iniciativa privada como fórmula para realizar os investimentos para adaptar os aeroportos ao crescimento da demanda por transporte aéreo, e reconhece que é preciso acelerar o ritmo. O leilão de concessão dos aeroportos de Cumbica (SP), Viracopos (SP) e Brasília foi mercado para 6 de fevereiro.

"Precisamos agilizar as obras de infraestrutura e mobilidade não apenas para a Copa, porque de fato elas já são, hoje, uma necessidade dos próprios brasileiros", afirmou o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, em entrevista este mês.

Apesar do atraso nas obras de infraestrutura, os especialistas consideram que ainda há tempo de recuperação para o país preparar uma boa Copa.

"Estamos completando 49 meses da indicação do Brasil como sede da Copa do Mundo, e estamos a 30 meses da Copa do Mundo, portanto estamos já aos 11 minutos do segundo tempo. Ainda temos mais de 30 minutos do segundo tempo para ganhar esse jogo bem", disse o dirigente do Sinaenco.

Estádios e Lei Geral

Sobre a reforma ou construção dos doze estádios que vão receber jogos do Mundial, três são citados pelo Sinaenco como preocupantes: as arenas de Porto Alegre, Curitiba e Natal.

"São os três estádios que precisam entrar num ritmo importante de obras. Todos os demais estão num ritmo bom, e alguns estão avançados no cronograma", afirmou Bernasconi.

O ministro Aldo Rebelo admitiu que no estádio Beira-Rio, de propriedade do Internacional de Porto Alegre, há uma polêmica sobre um contrato escolhido e outro que uma parcela de sócios do clube defende.

"Mas nada que comprometa do calendário. A questão é ter rigor no controle, empenho, aprovar a Lei Geral da Copa. Tudo pode ser resolvido com eficiência", declarou Aldo.

Se nos canteiros de obra ainda há muito trabalho a ser feito, pelo menos as diferenças entre o governo brasileiro e a Fifa parecem ter sido resolvidas no texto proposto da Lei Geral da Copa, um conjunto de leis que regulariza a realização da Copa do Mundo.

O Brasil cedeu ao aceitar a venda de bebidas alcoólicas nos estádios nos jogos da competição - uma exigência da Fifa para atender a uma cervejaria que a patrocina -, enquanto a federação internacional colocará 300 mil ingressos a venda a preços populares para estudantes, idosos, pessoas de baixa renda e até cidadãos que entregarem armas.

O governo também bateu o pé sobre o direito dos idosos à meia-entrada, previsto no Estatuto do Idoso, e a Fifa já sinalizou que aceitaria a medida.

"A Fifa acabou cedendo mais que o Brasil", disse o deputado Vicente Cândido (PT-SP), relator do texto que deve ser votado no início de 2012 na Câmara.

"Eles concordaram com a questão dos ingressos e também vão cumprir a lei brasileira vigente sobre os direitos de imagem da Copa do Mundo, que é do interesse dos nossos torcedores."

Ainda longe dos campos, a chegada de Ronaldo ao comitê organizador anunciada este mês deve melhorar a interlocução da entidade com o governo, que nunca teve as portas abertas para o presidente do comitê, Ricardo Teixeira.

"Foi excelente, ajuda muito na imagem bastante deteriorada do comitê. Foi uma bela sacada", disse Trevisan sobre a nomeação de Ronaldo para o um recém-criado conselho de administração do Comitê Organizador Local. Ele ressaltou, no entanto, que há dúvidas sobre como o ex-atacante vai agir.

"Em termos práticos, a gente precisa ver em que isso vai contribuir realmente... para conferir mais agilidade, mais transparência na atuação do comitê organizador local."

Aldo Rebelo admitiu que obras de infraestrutura precisam ser aceleradas
Aldo Rebelo admitiu que obras de infraestrutura precisam ser aceleradas
Foto: Bruno Santos / Terra
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