PUBLICIDADE

Terra na Copa

Moradores lembram tempo em que Maracanã era quintal de casa

5 jul 2014 - 07h22
(atualizado às 07h27)
Compartilhar
Exibir comentários

Da laje da casa de Ana Cláudia Barbosa Coutinho, na favela da Mangueira, é possível ver a Quinta da Boa Vista, uma pontinha do Pão de Açúcar, o Cristo Redentor e, brilhando quase ao alcance da mão, o Maracanã. Nascida e criada na comunidade, a copeira de 28 anos conta que o estádio era o quintal dela e dos amigos, que iam aos jogos domingo sim, domingo também.

Quer acompanhar as notícias e jogos da sua seleção? Baixe nosso app. #TerraFutebol

“Era o nosso programa de fim de semana. A Geral custava R$ 1, estávamos sempre lá”, diz.

Com a reforma do estádio que deu fim à ala e a consequente mudança de preço dos ingressos, o passeio tornou-se algo raro e ela se habituou a ver o Maracanã mais como parte da paisagem que do cotidiano.

A tensão antes de o jogo Brasil x Colômbia começar foi com a televisão, que não funcionava
A tensão antes de o jogo Brasil x Colômbia começar foi com a televisão, que não funcionava
Foto: Mauro Pimentel / Terra

Enquanto os torcedores que acompanharam a partida entre França e Alemanha deixavam o campo, ela se apressava para ajustar os últimos preparativos para assistir à partida entre Colômbia e Brasil, disputada em Fortaleza. Desde o começo da Copa, a laje da casa de três andares e cinco cômodos – dois quartos, sala, cozinha e banheiro - tem sido ponto de encontro dos amigos e da família.

Ana subiu a televisão da sala, distribuiu as cadeiras, colocou a cerveja para gelar e começou o churrasco. Como decoração, duas bandeiras do Brasil penduradas no varal, ali desde o começo do Mundial. Às 16h45 ainda não havia conseguido fazer com que o aparelho funcionasse e ligava, preocupada, para o marido, Marcelo. Vigilante de segunda a sexta, ele recebeu R$ 200 para passar o dia no estádio, trabalhando como “steward”, parte da tropa de seguranças freelancer que a Fifa contrata a cada jogo para manter a calmaria em suas arenas.

Assim que o jogo terminou, Marcelo cruzou a Avenida Radial Oeste, que separa o Maracanã da comunidade, e subiu o morro correndo. Chegou pouco antes da partida do Brasil começar com a testa escorrendo suor. Deu um jeito na televisão, bem a tempo de ver Thiago Silva marcar o primeiro gol da partida, e foi tomar banho.

Em frente da televisão, amigos e familiares vibram e torcem a cada lance do jogo Brasil x Colômbia, que ocorreu em Fortaleza, na Arena Castelão
Em frente da televisão, amigos e familiares vibram e torcem a cada lance do jogo Brasil x Colômbia, que ocorreu em Fortaleza, na Arena Castelão
Foto: Mauro Pimentel / Terra

Em frente à tela, montada na direção contrária do estádio, se reunia parte da família dos dois, amigos e alguns vizinhos. Todos se revezavam distribuindo as lascas da carne e mantendo cheios os copos de cerveja. Ao lado, no viaduto, carros da Unidade de Polícia Pacificadora subiam e desciam enquanto garotos da comunidade soltavam pipas e vizinhos começavam churrascos em lajes vizinhas.

Torcedor fanático do Fluminense, Marcelo agora só vai ao Maracanã quando há promoção – na partida do Brasileiro contra o Vitória, a R$ 10, conseguiu levar a esposa e o filho mais velho, de 12 anos - e nem cogitou comprar ingressos para a Copa. Nesta sexta-feira, ficou do lado de fora, tomando conta das catracas. Não teve chance sequer de espiar a partida que colocou os alemães na semifinal da Copa.

“Prefiro ver os jogos assim, com os meus amigos e a minha família. Sou vigilante, ganho R$ 1,2 mil. Não tenho como tirar R$ 120, R$ 160 do nosso orçamento para ir com a Ana a um jogo do campeonato, muito menos pagar o que estão pedindo pelas entradas da Copa. Aqui é o nosso camarote”, diz, pegando um pedaço de carne e olhando a vista.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade