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Terra na Copa

Na Copa de 50, time brasileiro emprestou uniforme ao México

No Mundial de 1950, o Cruzeiro, de Porto Alegre, emprestou camisetas para a seleção mexicana enfrentar a Suíça no Estádio dos Eucaliptos, do Inter

1 jun 2014 - 09h22
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Foto do jornal Correio do Povo mostra os jogadores Tamini e Gutierrez (vestindo a camisa do Cruzeiro) disputando uma bola na área do México
Foto do jornal Correio do Povo mostra os jogadores Tamini e Gutierrez (vestindo a camisa do Cruzeiro) disputando uma bola na área do México
Foto: Jornal Correio do Povo / Reprodução

A Copa do Mundo de 1950 não traz boas recordações ao futebol brasileiro. Em pleno Maracanã lotado, a Seleção deixou escapar o título ao perder a final para o Uruguai, por 2 a 1. Apesar do fatídico resultado, um clube gaúcho guarda boas recordações daquele Mundial.

No domingo de 2 de julho, durante a primeira fase da competição, México e Suíça enfrentaram-se em Porto Alegre, no antigo estádio dos Eucaliptos. À época, um problema foi constatado antes do confronto, pois ambos os times vestiam camisetas vermelhas. Já que a Copa era realizada no Brasil, conhecido pelo seu "jeitinho" na resolução de impasses, a solução surgiu por meio da improvisação: coube ao Esporte Clube Cruzeiro, da capital gaúcha, emprestar suas camisetas - com listras verticais em azul e branco - aos mexicanos. 

O jogo terminou com vitória suíça por 2 a 1, mas não teve grande importância. As duas seleções já estavam eliminadas. Entretanto, a partida abrilhantou a trajetória do Cruzeiro, campeão do Estado 21 anos antes, em 1929. 

A escolha da equipe mexicana pelo uniforme do clube gaúcho ocorreu por motivos de logística. Enquanto as vestimentas do Grêmio eram guardadas no centro de Porto Alegre, o estádio da Montanha, ex-sede cruzeirista, ficava próximo aos Eucaliptos, de propriedade do Internacional, que também não poderia emprestar suas camisetas, já que elas eram vermelhas. Um sorteio foi realizado para definir a seleção que vestiria o uniforme do Cruzeiro. O México foi o vencedor. Porém, cordialmente, deixou que a Seleção Suíça jogasse com a camiseta tradicional. 

Segundo a crônica do jogo publicada no jornal Correio do Povo na época, a partida não foi "um espetáculo para os olhos"
Segundo a crônica do jogo publicada no jornal Correio do Povo na época, a partida não foi "um espetáculo para os olhos"
Foto: Jornal Correio do Povo / Reprodução

Segundo a edição do jornal Correio do Povo de 4 de julho de 1950, a partida não foi "um espetáculo para os olhos". A crônica do jornal exaltou a melhora do desempenho mexicano em comparação com os dois primeiros jogos do time no torneio. Entretanto, conforme a matéria, o placar de 2 a 1 "espelha com fidelidade o que foi o desenrolar da equilibrada pugna de domingo".

Duas situações similares à do Cruzeiro ocorreram ao longo das Copas. Na Itália, 16 anos antes, a Áustria utilizou o uniforme do Napoli, clube local, na partida contra a Alemanha. E, no Mundial de 1978, a Seleção Francesa entrou em campo contra a Hungria vestindo a camiseta do Kimberley, equipe do futebol argentino. 

"Somos do Cruzeiro! Isso nos basta"

Jornalista e integrante do conselho consultivo do clube gaúcho, Ernani Campelo avalia o episódio de 1950 como um dos tantos casos de pioneirismo cruzeirista no Estado. Torcedor fanático, ele comprova a sua afirmação ao listar alguns dos feitos da centenária agremiação, fundada em 1913. Entre as façanhas, está a excursão da equipe à Europa, em 1953, fato que fez do Cruzeiro a primeira equipe gaúcha a colocar os pés no Velho Continente. 

De acordo com Campelo, a delegação cruzeirista trouxe na bagagem importantes contribuições ao esporte do Rio Grande do Sul. "É o clube mais importante à história do futebol do Estado. A equipe inventou o jeito gaúcho de jogar graças à excursão de 53. Também lançou as categorias de base. Tudo criado no futebol do Rio Grande do Sul foi o Cruzeiro quem fez", afirma.

Para o jornalista, o maior orgulho do torcida do clube é a resistência da instituição. Mesmo em uma terra marcada pela rivalidade entre colorados e gremistas, Campelo diz que em nenhum momento o Cruzeiro se entregou ao que ele classifica como a "ditadura Gre-Nal": "somos do Cruzeiro! Isso nos basta".

O histórico se renova

Filho da capital gaúcha, o clube vive fase de remodelação. A arena da equipe está em fase final de construção, no município de Cachoeirinha, região metropolitana de Porto Alegre. Campelo acredita que a mudança não fará com que o Cruzeiro perca parte de sua essência. Para ele, a nova instalação trará somente bons resultados. 

Conforme o jornalista, o clube terá benefícios se souber "vender a sua história" no novo município. "É um estádio com o padrão Fifa, não apenas uma arquibancada. E a obra está sendo construída com recursos próprios, mais um feito do clube", completa.

Material produzido sob a supervisão da professora Anelise Zanoni

Unisinos Universidade do Vale do Rio dos Sinos
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