Pernambuco tem dois dias de protestos contra obras da Copa
Nesta sexta-feira, o ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, foi surpreendido e teve de antecipar o fim da sua fala quando manifestantes subiram ao palco levando faixas escritas "#nãovaitercopa" e "Copa pra quem?", durante o Diálogos Governo-Sociedade Civil: Copa 2014, no Recife. No dia anterior, mais de 100 manifestantes fizeram um protesto no Loteamento São Francisco, pedindo a construção de um conjunto habitacional para as cerca de 200 famílias desapropriadas pelo Governo de Pernambuco na localidade.
O ministro não perdeu a compostura e lembrou que o fato dos manifestantes estarem ali, protestando diante de um ministro de Estado era simbólico da democracia brasileira. Antes do início da apresentação, a reportagem do Terra chegou a entrevistar Gilberto Carvalho, que preferiu não se colocar em relação aos atrasos nas obras do Terminais Integrados de Camaragibe, Cosme e Damião e do Ramal da Copa, todas de responsabilidade do Governo do Estado.
“Temos acompanhado essa situação em todo o país. Nós entendemos que o assunto remoção é um assunto específico e que nem a rigor depende de Copa. Estamos construindo um protocolo de práticas de como trabalhar com remoção involuntária de uma população seja para a construção de uma avenida, metrô ou um estádio”, explicou o representante do Governo Federal, em relação às famílias desapropriadas para obras do Mundial.
O ministro estava na mesa com o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, e o secretário executivo da Copa do Recife, Danilo Moreira. Na quinta-feira, em meio ao clima de tensão que tomou conta da Região Metropolitana do Recife por conta da greve da Polícia Militar, Camaragibe recebeu um ato contra o Mundial denominado 15M. O protesto mundial anti-Copa, em Pernambuco teve como foco denunciar a situação das mais de 200 famílias removidas para as obras de ampliação do Terminal Integrado de Camaragibe e do Ramal da Copa, no Loteamento São Francisco, a cerca de sete quilômetros da Arena Pernambuco.
As famílias do Loteamento São Francisco se uniram a lideranças de diversos grupos estudantis, políticos e de usuários de transporte para pedir o pagamento das indenizações pelas casas demolidas, auxílio moradia e a construção de um conjunto habitacional no local onde elas foram desapropriadas para abrigar aqueles que deixaram de ter casa própria. O Governo do Estado também vem recebendo críticas em relação aos atrasos das obras no local, mas o secretário da Copa, Ricardo Leitão, prometeu em recente seminário promovido pelo Instituto Ethos a entrega do Ramal da Copa até o fim de maio, somente com duas pistas (ida e volta), como será utilizado pelo BRT durante os jogos do Mundial de 2014 em Pernambuco.
Na semana passada, o Terminal Integrado de Camaragibe (ao lado do Loteamento São Francisco, onde foi realizado o 15M) foi palco de protesto e de confronto entre policiais e usuários do transporte público que reclamaram dos problemas nos TIs, após falha no metrô que ocasionou a suspensão do serviço. Representantes da Frente de Luta pelo Transporte Público solicitam a implantação do bilhete único, que poderia facilitar a utilização do terreno hoje em obras muito lentas para construção de moradias para os desabrigados.
Depois de encerrado o ato das famílias removidas, na quinta-feira, jovens continuaram fechando a Avenida Belmínio Correia. Mas o ato simbólico foi pacífico e homenageou também sete moradores falecidos durante o período de negociação com o Governo do Estado e após as demolições.