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Terra na Copa

Ramadã: o dilema do jejum muçulmano durante a Copa do Mundo

26 jun 2014 - 10h38
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O jejum do Ramadã, período sagrado que começa no fim de semana para os muçulmanos, deve afetar poucos jogadores durante a Copa do Mundo no Brasil, mas os atletas que cumprirem a determinação o farão sob rígida supervisão médica.

Várias seleções de países muçulmanos (Irã, Bósnia) já foram eliminadas na primeira fase e para o restante, as possibilidades concedidas pelas autoridades religiosas devem limitar o número de jejuadores.

Como viajantes, os muçulmanos podem se beneficiar do direito de adiar o mês do Ramadã, assim como as mulheres grávidas e os enfermos. Uma solução para atletas "isolados" em equipes onde outras religiões são majoritárias, como França, Alemanha ou Suíça.

O meia alemão Mesut Özil decidiu não observar o Ramadã neste ano de Copa.

"Trabalho e vou continuar trabalhando. Assim, não farei o Ramadã. Como trabalho é impossível para mim este ano", explicou.

Mas alguns atletas que estão no Brasil devem cumprir com o preceito religioso de forma mais ou menos ajustada ao calendário do jejum, como os jogadores da Argélia, que já têm um planejamento no caso de classificação às oitavas de final. Com os perigos inerentes a esta decisão.

"A mim parece muito complicado respeitar estritamente o Ramadã durante um Mundial", disse o técnico francês Claude Leroy, que já comandou a seleção de Omã durante o período de jejum.

"Para as partidas das 13h00 ou das 17h00, o que fazer? Sobretudo com a hidratação. É impossível e, inclusive, perigoso", opinou Leroy, comentarista da Radio France na Copa.

"Os jogadores estão acostumados. Não é um problema que surgiu agora. Não tenho nenhuma preocupação e cada um se adaptará à situação", disse o técnico francês, Didier Deschamps, que não pensa em dar conselhos a seus comandados.

Para esta Copa do Mundo, os argelinos contrataram o médico Hakim Shalabi, considerado uma das referências da Fifa sobre o jejum entre jogadores de futebol.

"É um período no qual o risco de lesões aumenta, especialmente a nível lombar, das articulações e dos músculos", afirma.

De acordo com Chalabi, a desidratação é um problema ainda maior que a falta de alimentação.

"O nível de nutrição deve mudar. É necessário modificar também a qualidade dos alimentos para adaptá-los ao exercício. Os jogadores devem hidratar-se melhor. Além disso, aconselhamos que o descanso seja mais prolongado à tarde, com o objetivo de recuperar parte do tempo de sono", completou.

O capitão da seleção argelina, Madjid Bouguerra, tem experiência na questão.

"O mais duro é a hidratação. Mas está tudo bem, o clima é bom. Alguns jogadores podem adiar estes dias. Pessoalmente, vou observar em função de meu estado físico, mas penso em cumprir".

No Brasil, os muçulmanos que desejam respeitar o calendário oficial do Ramadã têm um aliado: o pôr do sol acontece por volta de 17h30, o que possibilita o fim do jejum. Nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, os atletas tinham que esperar até 20h30 ou 21h00 para iniciar a alimentação.

Respeitadas as precauções médicas, o jejum pode servir, às vezes, de inspiração ou motivação para os jogadores.

"É mais psicológico. Geralmente você tem que mostrar aos treinados que não concordam que você está a 200%", afirma Bouguerra.

A declaração surpreendente é confirmada pelo médico Hakim Chalabi, que já trabalhou no Paris Saint-Germain.

"Curiosamente, há atletas que conseguem os melhores resultados durante o Ramadã porque desejam seguir o jejum. Pode, inclusive, ser uma ajuda espiritual e psicológica".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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