PUBLICIDADE

Terra na Copa

RJ: jovens de favela veem jogo do Brasil na casa de cônsul britânica

6 fev 2013 - 20h50
(atualizado às 20h50)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>Jovens moradores do Morro dos Prazeres se empolgaram com jogo da Sele&ccedil;&atilde;o Brasileira</p>
Jovens moradores do Morro dos Prazeres se empolgaram com jogo da Seleção Brasileira
Foto: Daniel Ramalho / Terra

As bandeirinhas meio brasileiras meio inglesas que tremulam não enganam. Os cerca de 40 jovens moradores do Morro dos Prazeres e arredores, no centro do Rio de Janeiro, estavam na casa da cônsul geral do Reino Unido no país, Paula Walsh, mas não se sentiram intimidados em nenhum momento. A torcida era para o Brasil na partida amistosa que ocorreu em Londres na tarde desta quarta-feira. Embora todos eles tenham muito a agradecer aos britânicos.

Eles fazem parte do programa Premier Skills: Esporte Seguro, um projeto social da liga de futebol inglesa em conjunto com o Conselho de Educação Britânico que atende 250 jovens na comunidade. Duas vezes por semana, eles jogam futebol - sem intenção de caçar talentos, apenas integração. Um dia, aprendem o que o coordenador Charles Siqueira chama de "prática cidadã".

"Não faz muito sentido dar uma aula de direitos e deveres como ocorre no projeto inglês. Então a gente faz mutirões de recolhimento de lixo na comunidade, entre outras iniciativas. Acho que esta geração tem um vácuo associativo. Não se envolve em nada. A gente tenta aproveitar esta oportunidade para eles se organizarem", explica.

Nesta quarta, viram o jogo em "terreno adversário" e pouco habitual. A casa da cônsul fica numa das vizinhanças mais exclusivas do Rio, o Jardim Pernambuco, no Alto Leblon. Tinha samba, futebol e festa. Impossível sentir desconforto, apesar da realidade tão diferente. "O que a gente queria é dar um pouco de festa para eles. Eles estão tendo ótimos resultados no projeto e merecem se divertir. Hoje eu sou minoria na minha casa", brinca Paula Walsh.

"Não sabia que tinha tanto verde no Leblon", comenta um dos jovens, que depois não conseguiria tirar os olhos do telão por um bom tempo. Brasil em campo, time com novo técnico, será que agora vai? "Tem que ir, né?! Vamos torcer. Acho que a volta do Ronaldinho é boa, ele tem experiência. E o Neymar tem que jogar mais solto", opina Deyvison Silva, 15 anos, um dos "titulares" do time dos Prazeres.

Seja no Leblon, bairro com o metro quadrado mais caro do País, ou num morro do centro, o sentimento com a seleção é o mesmo. No caso do jogo contra a Inglaterra, de aflição. As coisas não saíram exatamente como esperavam. A empolgação atingiu o nível máximo pouco antes de Ronaldinho Gaúcho errar um pênalti e chegou ao fundo do poço quando Rooney abriu o placar para os ingleses. Aí houve silêncio. Paula e alguns funcionários do consulado comemoraram de forma tímida.

Pedro Henrique Souza, camisa 10 do time do Morro dos Prazeres na Taça das Favelas, já tinha avisado. "Ele é o jogador mais perigoso da Inglaterra, chega muito bem ao ataque. O Brasil precisa ter cuidado com ele", disse do alto da experiência de quem tem apenas 16 anos, mas já joga entre adultos faz tempo.

Otimismo, está aí um sentimento que os jovens da comunidade mostraram ter de sobra. No intervalo da partida, ninguém se abalou. Entre um gole de refrigerante e outro, palavras de confiança numa virada. E o samba correndo solto. Até que parou e logo Fred empatou o jogo. A festa recomeçou.

Há um ano, os adolescentes da favela do Morro dos Prazeres nem podiam imaginar o leque de oportunidades que se abriria diante de seus olhos por causa de uma bola de futebol. Antes o esporte era apenas uma forma de distração dos problemas de uma comunidade que tinha tráfico de drogas e não possuía condições mínimas de saneamento, saúde, educação. Muitos dos problemas persistem, não foram resolvidos apenas por causa da presença de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Mas quem sabe eles mesmo tenham condições de exigir a resolução em pouco tempo.

João foi um dos 10 jovens do projeto que passaram uma semana na Inglaterra no ano passado. Conheceram a versão local do projeto, alguns dos principais estádios do país assistiram a um jogo da liga inglesa. Viram que as coisas podem dar certo. "Foi uma oportunidade que nunca imaginava ter. Foi muito legal", conta.

A viagem embalou o projeto. Camila dos Santos, 14 anos, a única menina do grupo, virou exemplo. "Ela é muito tímida, mas foi a primeira garota do projeto. Hoje um quarto dos 250 jovens que temos é formado de meninas", comemora Charles.

Assim como comemorou Lampard e o pessoal do consulado quando a defesa brasileira falhou e deixou a Inglaterra passar na frente de novo. A seleção de Felipão ainda não empolgou. Pelo menos os jovens do Morro dos Prazeres. No final eles já preferiam as telas de seus telefones celulares ao telão com o jogo montado no terceiro andar da confortável casa da cônsul. No fim das contas, isso nem importa. "Não queremos ensina-los só a jogar futebol. Queremos que eles se tornem cidadãos", diz Charles.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade