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Terra na Copa

Sonho de “Cidade da Copa” fica apenas no papel em PE

1 jul 2014 - 07h55
(atualizado às 07h59)
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Representantes do Governo do Estado deixaram para quarta-feira detalhamento sobre obras que não estão terminadas
Representantes do Governo do Estado deixaram para quarta-feira detalhamento sobre obras que não estão terminadas
Foto: Eduardo Amorim / Terra

Em Pernambuco, contavam por muitos anos uma história de abnegados que conseguiram realizar uma partida da Copa do Mundo de 1950 na Ilha do Retiro, entre Chile e Estados Unidos. Depois de 64 anos, com a vitória da Costa Rica sobre a Grécia nos pênaltis, pelas oitavas do Mundial, no entanto, a contagem foi para cinco, com algumas partidas memoráveis, mas ficam algumas dúvidas em relação aos investimentos, que ainda precisam ser esclarecidas pelo poder público.

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Obra mais simbólica do Mundial no Estado, a Arena Pernambuco foi inaugurada ainda para a Copa das Confederações e está sendo utilizada pelo Náutico, clube que tem contrato para atuar no estádio por 30 anos. Mas ainda não se sabe ao certo o valor que foi investido na obra em São Lourenço da Mata, já que, embora a Secretaria Extraordinária da Copa estimar em cerca de R$ 650 milhões, o portal da transparência do Governo Federal registra empréstimos de R$ 890 milhões para a Parceria Público Privada.

O valor aumentaria ainda mais caso sejam acrescidos os gastos do Governo do Estado para a doação de terreno de 200 hectares onde deveria ser construída a Cidade da Copa, megaempreendimento imobiliário previsto para 2025 e que ainda não começou a sair do papel. Até hoje, o estádio para 46 mil pessoas fica praticamente sozinho em um cenário rural, onde é preciso andar um quilômetro para chegar ao primeiro restaurante ou posto de gasolina, que são as duas atividades mais próximas do empreendimento construído pela Odebrecht.

Onde a empreiteira deveria estar construindo uma cidade modelo existe apenas uma rodovia com seis faixas e ciclovia, que sai do estádio em direção ao Recife e cruza o Rio Capibaribe através de uma enorme ponte. Do outro lado, no entanto, o Ramal da Copa já se torna uma via de apenas duas faixas. Andando um pouco mais, é possível ver o vazio deixado pelas desapropriações para a ampliação do Terminal Integrado de Camaragibe, outra obra também ainda não iniciada.

No Loteamento São Francisco, milhares de torcedores passaram por área onde casas foram destruídas e nada construído
No Loteamento São Francisco, milhares de torcedores passaram por área onde casas foram destruídas e nada construído
Foto: Eduardo Amorim / Terra

O governo do Estado só falará sobre as obras não finalizadas, das indenizações que ainda faltam ser pagas aos desapropriados pelas obras e do legado deste Mundial na coletiva da próxima quarta-feira. Mas na cidade, se é verdade que os 40 a 50 mil turistas que passaram por Pernambuco neste mês de junho trouxeram um ar cosmopolita, que a capital pernambucana nunca tinha tido antes, também é inegável que a cidade vivencia protestos que há muito não eram vistos.

Nesta segunda-feira, a Prefeitura do Recife foi ocupada por militantes do movimento "#OcupeEstelita". O movimento, que ocupa a área do Cais José Estelita há 40 dias, acusou a gestão municipal de realizar uma ação higienista contra moradores de rua por conta da Copa do Mundo no início de junho. A ação acabou com um funcionário do Governo agredindo com uma estrovenga (espécie de foice com cabo grande) por um dos militantes que defendiam os sem-teto. Além disso, o acampamento foi retirado com muita violência de dentro do terreno um dia após a doação dos 200 hectares da área da Cidade da Copa para a Odebrecht.

Se as mobilizações foram menores neste ano em relação às de junho do ano passado nas outras cidades do Brasil, não se pode dizer o mesmo do Recife, onde a Copa do Mundo acabou sendo marcada diretamente pelos protestos realizados no Cais José Estelita - o local se tornou uma Fan Fest alternativa, com festas de grande porte a cada domingo, que reuniam principalmente pessoas que criticavam o modelo de desenvolvimento sem respeito às legislações e transparência, que são simbolizados principalmente pelo leilão da área do "#OcupeEstelita" e pela doação do terreno da Cidade da Copa.

Em relação às obras finalizadas a Via Mangue, que é parte do Corredor Norte-Sul, pode ser considerada a maior das realizações da Copa do Mundo em Pernambuco. Apesar de bastante contestada por ter causado mais de mil remoções, afetado área de vegetação nativa e não ter solucionado o trânsito de Boa Viagem, a obra foi inaugurada pela presidente Dilma Rousseff e já vem sendo utilizada pelos motoristas. Além disso, os gestores se orgulham de ter construído três conjuntos habitacionais para criar moradia para quase mil famílias desapropriadas na Zona Sul.

Chuvas causaram muitos transtornos para quem foi a Estados Unidos x Alemanha, mas jogo teve maior público na Copa em PE
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Foto: Eduardo Amorim / Terra

Já em relação às obras do Corredor Leste-Oeste, ainda não se sabe com precisão o número de famílias removidas e se haverá realmente construção de imóveis para os desabrigados. O governo do Estado informa apenas que são 298 processos no Recife e 123 em Camaragibe, sem confirmar a quantidade de São Lourenço da Mata e é preciso destacar que muitos imóveis destes tinham oito, dez ou até mais residências que estão inseridos em um mesmo processo.

Já o prazo de entrega divulgado pela Secretária Executiva das Cidades, Ana Suassuna, é dezembro de 2014. Apesar de problemas graves, como o manancial de água que vem prejudicando a continuação da obra do Túnel da Abolição, o governo do Estado mantém a informação de que conseguirá entregar todas as promessas até o fim desta gestão.

Lição dos turistas é grande legado

Uma unanimidade em Pernambuco é que os turistas fizeram sucesso por onde passaram. Se a cena dos japoneses limpando a Arena Pernambuco após o confronto contra a Costa do Marfim ganharam o mundo, nas ruas do Recife nunca foi tão fácil cruzar com pessoas falando outras línguas e com os recifenses tentando se comunicar. Nos ônibus, na Fan Fest, em Boa Viagem, a troca entre os moradores e estrangeiros, em uma cidade em que o turismo sofre por conta da fama das praias estarem com tubarões, foi um ponto inesquecível do Mundial de 2014.

O Secretário Extraordinário da Copa do Governo do Estado, Ricardo Leitão, comemora o fato de ter sido cumprida a meta de dobrar o número de torcedores que assistiram aos jogos da Copa das Confederações. Foram mais de 200 mil no Mundial de 2014, tendo sido o maior público na partida entre Estados Unidos e Alemanha (41.876) e o menor no primeiro jogo do torneio da Fifa, com 40.267 expectadores para Japão 1 a 2 Costa do Marfim, que foi realizado às 22h.

A presença de cerca de 8 mil mexicanos que vieram de navio e tiveram no Recife sua base para assistir às partidas da sua seleção no Nordeste (não só o confronto contra a Croácia), também foi um grande diferencial e eles animaram, não só a Fan Fest, como todas as atrações turísticas e noturnas do Recife Antigo durante o mês de junho. O único ponto negativo neste aspecto foi um hóspede mexicano do navio MSC Divina que caiu no mar no dia 18 de junho, aproximadamente às 17h, e não foi encontrado com vida. Jorge Alberto Lopez Amores, 29 anos, se acidentou no trajeto entre Recife e Fortaleza, na costa do Rio Grande do Norte.

O plano de mobilidade específico para a Copa do Mundo teve menos problemas que durante a Copa das Confederações, mesmo tendo enfrentado um dia de muitas chuvas na partida entre Estados Unidos e Alemanha, que acabou gerando muitas críticas da imprensa internacional, especialmente em relação à infraestrutura da cidade para a população local.

“O que nós temos para comparar infelizmente não é o frenesi dos torcedores. É o fato de ontem a Arena Pernambuco ter recebido o seu maior público. Se tivesse tido ontem (domingo) um público 50% inferior ao do jogo anterior, estaríamos aqui submetidos a uma crítica bastante justa de vocês”, defendeu-se o secretário da Copa, justificando que os alagamentos eram um problema da cidade que deveria ser resolvido pela Prefeitura do Recife.

Veja os gols em 3D da Copa Veja os gols em 3D da Copa

Fonte: Brisa Comunicação e Arte - Especial para o Terra Brisa Comunicação e Arte - Especial para o Terra
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