Valcke virá ao Brasil pela primeira vez após "chute no traseiro"
O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, teve a vinda para o Brasil confirmada pela entidade que rege o futebol mundial nesta segunda-feira. O francês substituirá o presidente da organização, Joseph Blatter, para falar em uma audiência na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado sobre os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e a aprovação da Lei Geral da Copa.
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A viagem de Valcke ao Brasil será a primeira após o polêmico episódio protagonizado pelo dirigente recentemente, no qual declarou que os responsáveis pelo Mundial precisavam levar um "chute no traseiro" para agilizarem o processo. A afirmação gerou um grande desconforto entre a Fifa e o Ministério do Esporte, comandado por Aldo Rebelo.
Após uma série de acusações dos políticos brasileiros, Valcke e Blatter enviaram desculpas formais ao governo nacional, que foram aceitas pelos organizadores. Rebelo, também foi convidado para a audiência pública no Senado, mas ainda não confirmou presença na reunião.
Além do francês, outros dirigentes brasileiros também estarão presentes para debater o que pode ser melhorado nos preparativos do Mundial. Entre as autoridades próximas de serem confirmadas estão Marco Polo Del Nero, integrante do Comitê Executivo da Fifa, o diretor de Comunicação e Relações Públicas da entidade, Walter de Gregório, o gerente jurídico comercial Jörg Vollmuller e o consultor jurídico externo Julian Chediak.
A Lei Geral da Copa foi aprovada pela Câmara dos Deputados na semana passada e chegou ao Senado nesta segunda-feira. O trâmite do projeto tomará caráter de urgência e deverá ser definido na próxima quarta, quando o presidente José Sarney lerá o texto na íntegra e definirá as comissões que analisarão as medidas propostas.
Entenda a polêmica
Em entrevista concedida na sexta-feira (02/03), o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, disse que os organizadores do Mundial de 2014 precisavam de um "pontapé na bunda" para as obras da Copa do Mundo andarem no País, e afirmou que os preparativos brasileiros estão em "estado crítico".
As palavras não foram bem recebidas pelo governo brasileiro, e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmou no sábado (03/03) que não quer mais Valcke como interlocutor da Fifa para os assuntos relacionados à Copa de 2014. "As declarações são inaceitáveis, inadequadas para o governo brasileiro", disse Rebelo.
Não é de hoje que Valcke enfrenta rusgas com as autoridades brasileiras. Em comunicado publicado no site da Fifa, o secretário pediu rapidez com a aprovação da Lei Geral da Copa: "o texto deveria ter sido aprovado em 2007 e já estamos em 2012", declarou.
No meio do fogo cruzado, o presidente do Comitê Organizador Local (COL), Ricardo Teixeira, manteve discurso neutro e apenas ressaltou que tudo sairá como o planejado. "Em todo processo democrático as discussões devem ser amplas e sempre levar em conta os interesses do povo", disse Teixeira na nota.
Na segunda-feira (05/03), Aldo Rebelo enviou à Suíça uma carta solicitando um novo interlocutor entre o governo brasileiro e a entidade máxima do futebol mundial. De acordo com o ministro do Esporte, "a forma e o conteúdo das declarações escapam aos padrões aceitáveis de convivência harmônica entre um país soberano como o Brasil e uma organização internacional centenária como a Fifa".
No mesmo dia, Marco Maia, presidente da Câmara dos Deputados, também atacou as palavras de Valcke, chamando o secretário-geral da Fifa de "deselegante". "Foi uma declaração que merece na verdade é que a gente dê um chute daqui para lá de volta e que se repudie qualquer declaração desse nível", opinou Maia.
Posteriormente, Valcke publicou carta em que se desculpava pelo incidente que classificou como um mal entendido. Segundo o dirigente da Fifa, o que houve não passou de um erro de tradução, e o Brasil segue seguro como "única opção para sediar a Copa do Mundo".
Aldo Rebelo aceitou o pedido de desculpas, mas disse que "este tipo de episódio não pode se repetir". Ficou ainda acertada uma renião de Blatter com a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, ocorrida na sexta-feira dia 16 de março. Nela, as diferenças foram discutidas e o mandatário da Fifa pediu tempo para resolver o problema Valcke.