Mais paz e pouco amor: Dunga cutuca, mas trata bem a mídia

Allan Brito

10 set 2014 - 11h50

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Quando se reapresentou à Seleção Brasileira, Dunga prometeu melhorar seu relacionamento com a imprensa e evitar conflitos que aconteceram em sua passagem anterior. Era o início de uma versão "Dunguinha paz e amor" no comando do time brasileiro. Passada essa primeira promessa, o técnico teve 10 dias de trabalho no cargo e deixou claro que realmente tentará manter um clima de paz e respeito mútuo entre as duas partes. Mas também não precisa ser algo amoroso, pois ele não deixou de lado o hábito de dar algumas cutucadas e indiretas publicamente, ainda que tenham sido bem sutis.

Em Miami, onde aconteceu a vitória por 1 a 0 contra a Colômbia, Dunga deu duas entrevistas coletivas. Ambas foram produtivas, porque o técnico esteve bastante claro em suas respostas e poucas vezes fugiu do assuntos ou fez mistérios desnecessários. Ele revelou rapidamente o novo capitão do time, Neymar, e também a primeira formação titular. Em uma das entrevistas, um repórter chegou a dizer "sei que você ainda não definiu o time..." e Dunga interrompeu com educação e brevemente: "defini sim. É o que vocês viram no treino", esclareceu.

Dunga mostra habilidade em treino da Seleção Brasileira:

Dunga também não hesitou ao falar de temas mais polêmicos. Criticou abertamente o fato de o País não estar pronto para que um técnico fique oito anos em um time ou seleção. "Seria melhor, mas não estamos habituados para isso". E também defendeu o Grêmio no caso de racismo contra o goleiro Aranha, afirmando que a decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) "é um problema que vai abrir precedentes e vai ser delicado". Porém, no caso mais polêmico de todos, o corte de Maicon, Dunga preferiu ficar mais distante. Gilmar foi quem anunciou a decisão e comentou sobre ela nos bastidores.

Ainda é cedo para analisar como será o relacionamento de Dunga com a Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão dos principais campeonatos. No passado ele teve atritos por não permitir privilégios à emissora e até discutir com o repórter Alex Escobar. Mas há indícios de que não repetirá essa atitude, pois ele próprio já deu uma entrevista exclusiva recentemente. Além disso, no último sábado, não interferiu nas folga dos jogadores, permitindo que Neymar fizesse uma reportagem exclusiva com a ex-ginasta Lais Souza para a Rede Globo.

Em Nova Jersey, Dunga teve menos contato com a imprensa. Conversou com a mídia apenas após a vitória por 1 a 0 sobre o Equador, mas manteve o respeito. Elogiou uma das perguntas feitas pelos jornalistas, sobre a atitude dos jogadores do Brasil, e depois respondeu sobre o caso Maicon, mesmo admitindo que estava contrariado. Só não quis falar sobre pontos negativos do Brasil, mas é compreensível: o técnico quer brindar seu elenco e manter a paz neste início de trabalho.

Dunga fala sobre Neymar como capitão e alfineta após crítica:

Cutucadas e indiretas

Dunga quer paz, mas não precisa de amor. Isso ele já deixou claro nas entrelinhas de algumas respostas. Foram cutucadas sutis, que não geraram conflito, mas que provam como é preciso ter cautela ao analisar esse perfil mais simpático de Dunga. - afinal, em 2006, Dunga também começou bem sua relação com a imprensa.

Dunga é duro principalmente quando mostra sua discordância em relação ao que a imprensa pede. "Todos falam em reformulação, mas não temos que colocar essa palavra", impôs ele, não atendendo ao clamor, inclusive da torcida, por uma renovação na equipe.

Também houve um momento que Dunga fez questão de responder aos críticos. "Quando falei lá atrás que ia ajudar o Neymar, alguns falaram que eu era muito prepotente, porque disse que ia fazer o Neymar ser o melhor do mundo. Não é isso. Se fosse isso, eu fazia com meu filho, não com o Neymar", afirmou, soltando um sorriso irônico.

Por manter o respeito, Dunga também prefere ser didático em alguns momentos de discordância, como fez ao explicar as mudanças no ataque do Brasil: "todo mundo acha que tática é só sistema, mas é diferente. Você tem que mudar o espaço com movimentação, não com o sistema. Se você fica fixo, fica muito mais fácil para defesa marcar".

Enfim, Dunga não ficou apenas nas palavras que disse quando se reapresentou. "Sei que eu tenho de melhorar no contato com os jornalistas. Preciso aprimorar meu relacionamento com a imprensa", afirmou na época. Dunga não esqueceu disso e manteve o acordo. Resta saber se o clima de paz durará até o fim da passagem dele pela Seleção.

Fonte: Terra