Cansou do Neymar? Do Vidal? Vai tomar vinho barato, então!
Reportagem do Terra visitou a vinícola de Concha y Toro e mostra como ir direto na fonte é um bom negócio para fugir dos impostos
Ir a Paris e não ver a Torre Eiffel. Visitar o Vaticano e não ver o Papa. Claro que quando a reportagem do Terra pisou em solo chileno, na capital Santiago, veio logo o pensamento de que não dá para perder a oportunidade de visitar uma vinícola. Mais do que isso: de provar e comprar rótulos que, longe dos impostos do governo federal, caem bem no bolso. Ou seja, mostrar em números como o mercado brasileiro é mortífero na conta corrente de quem é apreciador.
Pois bem. Moradores do Rio de Janeiro, onde o calor e clima tropical predominam ao longo do ano, este que vos escreve e o editor da sucursal carioca, Marcus Pinto, visitamos em Pirque, comuna (como dizem os chilenos) nos arredores de Santiago, a vinícola da Concha y Toro – a quarta companhia que mais vende vinhos no mundo.
É a benção de quem está, sim, incomodado com o frio de vestir ceroulas (amanhece sempre zero grau, quando não negativo), mas pode degustar (nas horas vagas!) as tradicionais uvas do território chileno. No caso, a Cabernet Sauvignon e a Carmenere. Os vinhos que nos mercados, mesmo online do Brasil, custam x, em território chileno, em média, saem pela metade do preço. E você pode trazer até 16 garrafas de 750ml – limite máximo permitido pela alfândega.
A empresa que está presente em nada menos do que 145 países no mundo, e tem mais de 10.700 hectares de vinhedos plantados no Chile, Argentina (Trivento) e Estados Unidos (Fetzer e Bonterra), tem no mercado marcas ícones como Don Merchor (nome do fundador da companhia), Almaviva e a emblemática Casillero do Diablo – que no Chile você encontra até Malbec, raridade no Brasil, justamente por ser o mercado referencia de Mendoza, dos argentinos.
Voltado totalmente para o mercado de exportação, visitar a Concha y Toro é como o convidado que fica bem ao lado de onde saem os garçons num casamento: tirar o líquido mágico direto da fonte. São 26 diferentes “cepas” (como eles chamam as uvas) espalhadas e demonstradas nas parreiras posicionadas bem em frente à Casona – o casarão de veraneio do Don Merchor, o visionário que viu na região as condições ideias para se plantar uvas trazidas diretamente da região de Bourdeaux, na França.
Muito embora o maior mercado dos chilenos siga sendo a Europa, com 35.8% das exportações em 2014 (o Reino Unido é o maior consumidor), a América Latina já responde por 14.4% da fatia e, como explica a chefe da assessoria de imprensa internacional da marca, Paola Peñafiel, “é impressionante o crescimento do mercado brasileiros nos últimos anos”.
Para se ter uma ideia, entre 2011 e 2014, as vendas para o Brasil tiveram um crescimento de 60%, de acordo com fontes da empresa consultadas pelo Terra. Este número é expressivo se for comparado com o mesmo período o fato de o México ter crescido 19%. Imagina na Copa América: se o governo Dilma Rousseff, com a aprovação do Congresso Nacional, aumentou o PIS/Pasep de 1,6% para 2,1% e do Cofins de 7,5% para 9,6%, os rótulos estrangeiros, em geral, ficaram de 5% a 10% mais caros.
Eu e o Marcus Pinto fizemos a mesmíssima compra, que serve como base de como vale a pena consumir o produto direto da fonte – numa prova maior de que nós, brasileiros, pagamos muitos impostos (muito embora isso ajude a produção nacional, vale lembrar também). Consultamos ali mesmo da vinícola os sites brasileiros para uma sugestão: Marques – Casa Concha. No Brasil, R$ 110. No Chile, R$ 50. Cada um levou duas garrafas.
Fora a linha premium do Casillero del Diablo na parceria com o Manchester United, da Inglaterra, conhecidos como os Diabos Vermelhos. Garrafa essa que nem existe no Brasil, diga-se, ou pelo menos não achamos na hora. No entanto, uma edição normal do Casillero sai por 6 mil pesos chilenos, cerca de R$ 26.
Ou seja, mais um motivo para você que está na Copa América, chateado com o Neymar, cansado dos incansáveis protestos, e não aguenta mais ver manchete dos chilenos falando do acidente do Arturo Vidal porrando a sua Ferrari, eis que a opção vale e muito a pena. Algumas agências de turismo oferecem o passeio por 30 mil pesos chilenos (cerca de R$ 150).
Mas dá para ir de metrô (em torno de R$ 3, depende do horário que você usa) e vai até a estação Las Mercedes da linha 4 do Metrô de Santiago – depois, um ônibus local até a bodega (500 pesos / R$ 2,50). Aí é só chegar na entrada, pagar 10 mil pesos chilenos (cerca de R$ 50) e escolher se a sua visita guiada será em inglês, português ou espanhol. No final, você degusta três tipos de vinhos na taça que ganha de presente.
Além dos preços atrativos e da parte história da criação da empresa (1883), é possível caminhar pelas parreiras e provar como o outono gelado faz com que as uvas tornem-se passas pela ação da natureza. “Doce, muito doce. Uma delícia”, atestou Marcus. Conhecemos ainda a lenda (leia-se marketing) do Casillero del Diablo.
Reza a lenda que Don Merchor, em seu estoque de vinhos mais preciosos, vinha sendo surrupiado constantemente por funcionários. Até que criou o rumor de que um Diabo tomava conta de seu “casillero”. Desde então nunca mais uma garrada de vinho teria sido roubada. Pelo contrário, foi vendida e muito e fez com da Concha y Toro a marca de vinho mais valiosa do território chileno.