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Copa das Confederações deixa dúvidas sobre 2014

1 jul 2013 - 09h04
(atualizado às 14h06)
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Considerada um teste para a Copa do Mundo do ano que vem no Brasil, a Copa das Confederações terminou este domingo com uma lista de dúvidas sobre a capacidade do país de sediar com sucesso - não apenas esportivo - o torneio de 2014.

Os seis estádios utilizados na Copa das Confederações foram aprovados, com algumas ressalvas, mas problemas como as obras de infraestrutura ainda inacabadas e até mesmo os grandes protestos populares que questionam os gastos públicos com a organização do torneio e a suposta falta de legado da competição para o país mantiveram as incógnitas sobre como será o Mundial de 2014.

No campo esportivo, também se mantêm muitas dúvidas para o próximo ano, mas o saldo da Copa das Confederações foi mais positivo para o Brasil, já que a seleção nacional, desacreditada antes do torneio, conseguiu vencer a competição pela quarta vez, derrotando a favorita Espanha na final.

Pega de surpresa pelas manifestações populares e acuada como alvo das críticas nos protestos, a Fifa, entidade que comanda o futebol mundial e é responsável pelas Copas das Confederações e do Mundo, diz ter aprovado o teste deste ano no Brasil, mas com a ressalva de que isso não garante o sucesso no ano que vem.

"O teste teve sucesso. Sabemos agora onde há coisas para mudar e sabemos especialmente as coisas boas que já foram feitas", afirmou o presidente da Fifa, Joseph Blatter, durante uma entrevista para um balanço da competição, na sexta-feira.

"Mas no ano que vem há uma outra dimensão. Agora tivemos 6 estádios e 8 equipes, e no ano que vem teremos 12 estádios e 32 times", observou.

A BBC Brasil preparou uma análise com dez itens sobre o que funcionou no teste deste ano e o que ainda precisa ser melhorado para a Copa do Mundo de 2014.

Estádios

Seis dos 12 estádios previstos para a Copa do Mundo de 2014 abrigaram jogos da Copa das Confederações: Mané Garrincha, em Brasília, Castelão, em Fortaleza, Arena Pernambuco, na região metropolitana do Recife, Arena Fonte Nova, em Salvador, Mineirão, em Belo Horizonte, e o Maracanã, no Rio de Janeiro.

As novas arenas, construídas, reconstruídas ou reformadas, foram em geral elogiadas tanto por torcedores quanto por atletas e dirigentes. Ainda assim, houve problemas pontuais, como falta de comida e bebidas em pontos de venda nos estádios (problema comum em vários dos jogos do torneio), telefonia instável em diversas partidas, com queda dos sinais de 3G, e enormes filas para as lanchonetes e para os banheiros.

A limpeza dos banheiros foi elogiada, principalmente na comparação com a situação encontrada normalmente pelos frequentadores contumazes de estádios brasileiros, mas esteve longe de ser perfeita.

Alguns estádios, inaugurados poucas semanas ou meses antes da Copa das Confederações, também enfrentaram pequenos problemas estruturais.

Na Fonte Nova, por exemplo, parte da cobertura do estádio desabou poucos dias após a reinauguração, em maio, e um viaduto de acesso ao estacionamento trincou e teve que ser escorado poucos dias antes do início da Copa das Confederações. Os incidentes não chegaram a causar problemas para o torneio.

Transporte

A maioria das obras de infraestrutura de transportes relacionadas à Copa do Mundo, inicialmente previstas para serem inauguradas a tempo para a Copa das Confederações, ainda não ficaram prontas, ainda que continuem prometidas para o ano que vem.

Os resultados preliminares de uma pesquisa preparada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para o Ministério do Turismo com os visitantes das cidades-sede da Copa das Confederações nestas últimas duas semanas indicam os transportes públicos como o item menos bem avaliado (apenas 44,7% das entrevistas tabuladas aprovavam o transporte público).

A situação foi menos grave em alguns locais como o Rio de Janeiro, onde o estádio do Maracanã já era bem servido mesmo antes da competição pelo sistema de transportes, incluindo estações de metrô e de trem próximas.

Aeroportos

Este é um item essencial num país-sede de dimensões continentais como o Brasil (a distância entre Manaus, cidade-sede da Copa de 2014 mais ao norte, e Porto Alegre, a localizada mais ao sul, é de 3.100 quilômetros em linha reta, ou 4.700 quilômetros numa hipotética viagem por terra).

Em geral, houve poucos contratempos com voos atrasados ou cancelados nas últimas duas semanas, mas alguns aeroportos de cidades-sede sofreram com o excesso de passageiros. Em Brasília, um dia após a partida de abertura do campeonato, entre Brasil e Japão, algumas pessoas enfrentaram mais de uma hora e meia de fila para conseguir fazer o check-in em seus voos.

A quantidade de voos entre as cidades também se mostrou escassa, e muitos turistas e jornalistas que cobriam a competição tiveram problemas em encontrar lugares nos aviões lotados.

As obras de reforma e ampliação dos aeroportos para a Copa de 2014 também vêm enfrentando problemas. No dia 18 de junho, o minsitro-chefe da Secretaria Nacional de Aviação Civil, Wellington Moreira Franco, manifestou preocupação com o ritmo das obras nos aeroportos, especialmente no Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza.

Segurança

A segurança pública é comumente apontada como um dos principais calcanhares-de-aquiles do país para a realização de grandes eventos.

Para a Copa das Confederações, houve reforço na segurança nas cidades-sede, mas que não impediram a ocorrência de diversos casos de torcedores, jornalistas e até mesmo celebridades assaltadas durante a competição.

A ocorrência de grandes manifestações públicas durante o evento também deslocou alguns recursos de segurança e elevou a sensação de medo entre parte do público.

Ainda assim, o resultado preliminar da pesquisa Fipe para o Ministério do Turismo indica que 71,7% dos turistas consultados avaliaram positivamente a segurança pública nas cidades-sede.

Hotelaria

Algumas das cidades-sede da Copa das Confederações enfrentaram problemas sérios de falta de vagas em hotéis durante o torneio, principalmente em dias de jogos do Brasil. Nos dias de outros jogos, a ocupação acabou ficando abaixo do esperado.

Os problemas mais graves aconteceram em Brasília, onde a ocupação dos hotéis no dia da abertura, entre Brasil e Japão, chegou a 95%, e em Belo Horizonte, cidade mais acostumada a receber turismo de negócios que de lazer, e que teve lotação quase total na rede hoteleira a partir de três estrelas no dia da semifinal entre Brasil e Uruguai.

Em Belo Horizonte, a reportagem da BBC Brasil chegou a encontrar casos de torcedores que tiveram que recorrer a motéis para passar a noite após o jogo do Brasil por conta da falta de vagas em hotéis.

Preços

Com a demanda em alta, os hotéis nas cidades-sede aproveitaram para elevar seus preços. Em alguns lugares, o aumento de preços foi superior a 100%.

Os preços dos alimentos dentro dos estádios também foram uma das principais queixas dos torcedores. De acordo com a tabela seguida por todas as arenas, uma garrafa de água com 500 ml custava R$ 6, uma cerveja era vendida por R$ 12, e um sanduíche saía por R$ 8.

Distribuição dos ingressos

Outro item bastante criticado pelos torcedores, o sistema de distribiuição de ingressos para a competição se mostrou deficiente. Muitos torcedores enfrentaram horas de filas para retirar os ingressos comprados com antecedência pela internet, apesar do agendamento da retirada.

Mesmo os fortes controles impostos pelos organizadores não impediram também a comercialização de ingressos por cambistas. Ingressos para a final de domingo, entre Brasil e Espanha, chegaram a ser vendidos por preços mais de dez vezes mais alto que os oficiais.

Os problemas levaram o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, a afirmar que o Brasil poderá levar um "chute no traseiro" se os problemas verificados com os ingressos na Copa das Confederações se repetir com os da Copa do Mundo de 2014, que começam a ser vendidos em agosto.

Atendimento aos turistas

Os turistas estrangeiros elogiaram em geral a receptividade dos brasileiros, mas criticaram a organização do torneio, principalmente a falta de informações e a dificuldade de encontrar pessoas capazes de se comunicar em seus idiomas.

A preliminar da pesquisa da Fipe indica o problema da língua como a principal queixa dos turistas no atendimento recebido - apenas 56,6% manifestaram uma avaliação positiva.

Os itens mais bem avaliados pelos turistas na pesquisa foram os restaurantes - aprovados por 91,5% - e a diversão noturna - 86,2% de avaliação positiva.

Ambiente

A Copa das Confederações foi vivida intensamente pela torcida, mas praticamente só dentro dos estádios e diante das telas de TV. Nas ruas das cidades-sede, havia poucos sinais da competição além de ocasionais cartazes publicitários, sinalizações de trânsito com a marca do torneio ou raras bandeiras brasileiras estendidas por torcedores.

A atenção da população para o torneio também perdeu para os protestos populares, que em alguns dias superaram em público o contingente dentro dos estádios.

Mas dentro das arenas esportivas, principalmente nos jogos do Brasil, o que se viu foi um forte apoio da torcida, que fez a festa e se divertiu sem grandes contratempos. A cantoria do hino brasileiro à capela pela torcida, após o término da execução dos tradicionais 90 segundos do hino pelo sistema de som dos estádios, se tornou um dos símbolos do apoio da torcida ao time.

Futebol

Se na organização fora de campo a Copa das Confederações pode ter deixado a desejar, dentro de campo a qualidade da competição foi elogiada.

Pela primeira vez, quatro campeões mundiais disputaram o torneio e foram justamente as quatro equipes que chegaram às semifinais - Brasil, Uruguai, Itália e Espanha.

Na sexta-feira, após apresentar estatísticas positivas sobre a competição, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, afirmou: "Quando olhamos os jogos, é fácil dizer que esta foi seguramente a melhor Copa das Confederações que já tivemos, em termos de qualidade".

Seleção brasileira

Para a seleção brasileira, a Copa das Confederações não poderia ter sido mais positiva. Uma semana antes da competição, a equipe estava desacreditada, em sua posição mais baixa da história no ranking da Fifa - 22º lugar.

Em seis amistosos disputados no ano até então, havia perdido um, empatado quatro e vencido apenas um. Em várias partidas, a equipe saiu de campo vaiada pela torcida brasileira.

A virada começou a menos de uma semana da estreia na Copa das Confederações, com uma vitória de 3 a 0 sobre a França, em um amistoso em Porto Alegre, na primeira vitória da seleção brasileira sobre um campeão do mundo desde dezembro de 2009.

Na Copa das Confederações, foram mais cinco vitórias, incluindo três contra campeões mundiais: Itália, Uruguai e Espanha.

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