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Copa das Confederações

Valorização, mudanças e apreensão; conheça os arredores do Maracanã

Estádio será reinaugurado ao público neste domingo no jogo Brasil x Inglaterra e já afeta vida de quem mora e trabalha nos arredores

2 jun 2013 - 10h23
(atualizado às 10h24)
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A luta dos índios pela manutenção da Aldeia Maracanã virou símbolo da resistência contra o impacto que o novo estádio trará ao seu entorno. Mas perdida a luta dos indígenas com a retirada em março de 2013, as pessoas que vivem e trabalham a poucos passos do palco da final da Copa das Confederações e Copa do Mundo ainda medem os efeitos positivos e negativos com a reabertura do gigante remodelado.

Uma rápida volta por todo o estádio revela histórias que ajudam a entender o motivo de a apreensão concorrer com a expectativa de acompanhar uma nova fase na história do Maracanã. Falta de informações, transtornos e esperança de melhorias são ingredientes de relatos feitos à reportagem do Terra em ensolarada tarde de domingo no Rio de Janeiro.

Há 15 anos trabalhando no local, o taxista Carlos Alberto Oliveira reclama da demora por um novo ponto fixo
Há 15 anos trabalhando no local, o taxista Carlos Alberto Oliveira reclama da demora por um novo ponto fixo
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

Mesa na calçada

Na esquina da Rua Prof. Eurico Rabelo com a Rua Dona Zulmira, uma mesa amarela enferrujada e cadeiras de plástico combinariam mais com um boteco pé na rua. Mas, improvisada na calçada de prédio residencial, funciona o escritório de uma cooperativa que opera ao ar livre não para economizar ar condicionado, mas por falta de opção. Há um mês, a Maracataxi foi desalojada de sua cabine em frente ao antigo portão 20 e procura por um novo espaço na reorganização do entorno do estádio.

Há 15 anos trabalhando no local, o taxista Carlos Alberto Oliveira reclama da demora por um novo ponto fixo. “A gente não tem mais vaga demarcada. Temos que ter sorte para conseguir estacionar os carros”, conta. “Está tudo improvisado. Precisamos de um lugar para atender nossos clientes direito”.

A preocupação dos profissionais se estende aos dias de jogos de torneios Fifa, quando o entorno do estádio ficará interditado. Apesar de o antigo ponto ficar no pé do estádio, a maior clientela dos taxistas é de moradores da região. “Vamos perder praticamente um dia de trabalho”, reclama, já considerando horas de interdição por parte da Fifa.

Metrô vai ser um dos acessos principais ao Maracanã durante a Copa
Metrô vai ser um dos acessos principais ao Maracanã durante a Copa
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
"O que farei em caso de emergência?"

A dúvida em tom de desabafo do morador Flávio Natal, da mesma Rua Dona Zulmira, tem origem na preocupação com as condições médicas da sua mãe. “Minha mãe precisa de táxi. Se acontecer algo, vou ter que sair do perímetro da Fifa, procurar um táxi, provar que sou morador para então chegar à minha casa”, contou.

As reclamações de Natal se restringem ao acesso nos dias de jogo. Segundo o morador, além dos pontos de táxi, as obras provocaram alterações nas rotas de ônibus, falta sinalização adequada e os entulhos das obras já fizeram “cair uma 20 vezes”. “Sei que vai valorizar e trará também benefícios, mas o preço está sendo alto”.

Os primeiros sinais de melhorias já começam a ser notados em uma rápida andada pelos arredores. A s calçadas da Av. Maracanã já estão quase todas revitalizadas e, em um domingo de sol, muitos moradores caminhavam e andavam de skate. “Vim morar aqui em 2009 e acho que vai valer a pena para a gente quando estiver tudo pronto”, contou Jorge Eduardo Filho.

Móveis da região do Maracanã se valorizaram com a Copa do Mundo
Móveis da região do Maracanã se valorizaram com a Copa do Mundo
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Valorização dentro dos padrões

O boom imobiliário que atinge as grandes cidades brasileiras fez com que os preços de imóveis disparassem em todas as regiões do Rio de Janeiro. No entorno do Maracanã não foi diferente. Muito mais do que estádio, quem procura o bairro nas imediações da Tijuca está interessado no fácil acesso por transportes públicos.

Com os preços muito mais em conta do que na Zona Sul carioca, o entorno do Maracanã é abastecido por estações de metrô e trem que permitem um rápido deslocamento para o Centro e bairros como Copacabana e Ipanema. “As pessoas vêm morar aqui para fugir dos altos preços da Zona Sul e sem perder a qualidade de vida”, conta o corretor de imóveis Luiz Húngaro, enquanto espera um casal interessado em um apartamento na frente do estádio.

Ele conta que é impossível avaliar o impacto que as obras e a expectativa pelo novo Maracanã tiveram na relação de oferta e procura. “Valorizou como em todo lugar e o interesse continua o mesmo”, opina Luiz, que cotou o m² nas ruas que circundam o estádio como em média R$ 2 mil mais barato do que em ruas mais afastadas (de R$ 7 mil a 5 mil). “O pessoal não gosta do barulho e da sujeira em dias de jogo”, diz, olhando para um outdoor que adverte: urinar na rua é crime.

O dono de banca Pedro Stéfano faz planos para vender bandeiras de seleções
O dono de banca Pedro Stéfano faz planos para vender bandeiras de seleções
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Em compasso de espera

Os comerciantes do entorno do Maracanã ainda não sabem se vão ter lucro ou prejuízo durante a Copa das Confederações e Copa do Mundo. O dono de banca Pedro Stéfano, por exemplo, faz planos para vender bandeiras de seleções, principalmente de seu país de origem, a Itália, mas ainda não sabe onde encontrá-las e se poderá vendê-las.

“Ainda não veio ninguém me procurar”, conta o torcedor do Fluminense, que sonha em ver seu time jogando a final da Copa Libertadores no estádio ainda neste ano. Antes, ele sabe que terá oportunidade de aumentar a receita não só em dias de jogos, mas com a visita de turistas ao novo estádio. “Vai valorizar, não tem jeito.”

Situação parecida vive Paulo Oliveira, dono de um bar vizinho à banca localizada na Rua Prof. Eurico Rabelo. Com o mascote Fuleco como enfeite de sua loja, ele conta que nada está descartado para os próximos meses. “Ninguém veio falar comigo sobre nada. Mas sei que até grandes redes podem querer alugar aqui”, diz. Por enquanto, ele comemora o sucesso de seus pratos feitos com os operários das obras do Maracanã. “Está sempre lotado de dia de semana”, orgulha-se.

Por este lado, Paulo pode lucrar mais nos próximos anos. Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo mostrou que o consórcio vencedor da licitação do Maracanã pode estender as obras até 2016. Vale lembrar também que, por decreto municipal, os bares não podem vender bebidas alcoólicas em dias de jogo.

Paulo Oliveira, dono de um bar nos arredores do Maracanã, comemora o sucesso de seus pratos feitos com os operários das obras do Maracanã
Paulo Oliveira, dono de um bar nos arredores do Maracanã, comemora o sucesso de seus pratos feitos com os operários das obras do Maracanã
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Fonte: Terra
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