Violência e regras da Fifa quebradas: veja o que deu errado no Castelão
A Fifa chama a Copa das Confederações de evento-teste para a Copa do Mundo e tendo como base o que se viu nesta quarta-feira, na Arena Castelão, na vitória do Brasil sobre o México, por 2 a 0, a entidade ainda terá muita coisa a melhorar nos estádios brasileiros antes do Mundial de 2014.
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Regras da entidade como a proibição da presença de ambulantes e da entrada de faixas como protesto político ou religioso foram ignoradas antes e durante a partida. A manifestação, que já vem se tornando praxe em jogos da Copa das Confederações e acabou em confronto violento entre policiais e manifestantes, também contribuiu negativamente para o trânsito de chegada ao estádio e para imagem da partida.
Junta-se a isso, a insegurança de andar nos arredores da Arena Castelão, atraso nas aberturas dos portões e a falta de estrutura na venda de comidas e bebidas no estádio. Confira abaixo os tópicos com o que deu errado na partida em Fortaleza:
Durante os protestos, que começou às 10h, os manifestantes bloquearam as principais vias de acesso ao estádio: a Avenida Paulino Rocha, um trecho da BR 116 e a Avenida Alberto Craveiro (esta última que teve o acesso controlado pela PM). Até cerca de 13h, a manifestação foi pacífica.
A partir das 14h30, o confronto ganhou ar violento em ambos os lados, com os manifestantes usando entulho de uma obra nas proximidades para atacar os policiais - o local estava reservado com tapumes, que foram arrancados. Policiais, por sua vez, distribuíram bombas e spray de pimenta, dispersando a maior parte da manifestação. Os mais radicais, no entanto, permaneceram em confronto.
Durante o confronto, jornalistas e um grupo de manifestantes se refugiaram em um terreno ao lado do estádio. Bombas de gás pimenta foram arremessadas e até um menino, de cerca de 5 anos, inalou o gás. A criança passou mal e foi socorrida pelos próprios manifestantes, que o tiraram de lá. Após a defensiva da polícia, o grupo recuou. Um carro foi incendiado nas imediações. Durante a partida, o clima de selvageria tomou conta do local, com lojas sendo saqueadas e lugares depredados.
Insegurança nos arredores
Por conta das manifestações, os torcedores e membros da imprensa que tentavam chegar na Arena Castelão de táxi sofriam para conseguir furar o trânsito e adentrar na chamada área Fifa. Muitos levaram mais de uma hora para encontrar um lugar mais próximo ao estádio. Mesmo assim, tiveram que andar por mais de 2 km pelas barreiras feitas pelos policiais. Neste caminho a pé, em alguns casos o clima de insegurança imperava.
A reportagem do Terra chegou a um dos acessos próximos a avenida Paulino Rocha. Avisada pelo taxista do perigo da região, perguntamos ao policial se não poderíamos ir até o próximo acesso, que ficava perto da porta do estádio. Impedidos, tivemos que descer. Ao indagar o policial se era seguro o trajeto de cerca e 1km por meio de ruas estreitas, o policial respondeu: “é para ser seguro”. Porém, nenhum membro da polícia acompanhou a reportagem durante o trajeto na região onde foi relatado que acontecem muitos assaltos.
Raio-x com falha
Usados para verificar a presença de objetos perigosos ou explosivos ao estádio, os aparelhos de raio-x que verificam as malas e pertences dos torcedores mostraram algumas falhas. No local de entrada de imprensa, por exemplo, foi possível ver jornalistas passando pelo detector de metais com carteiras e celulares nos bolsos. A entrada com garrafas de água nas mochilas, proibido pela Fifa e em outras competições esportivas de relevância, também não foi barrada pelos seguranças que faziam a vistoria no local.
Pelas regras da Fifa, não é permitida a presença de ambulantes dentro do perímetro montado pela entidade máxima de futebol nos arredores dos estádios. Porém, não era isso que acontecia na Arena Castelão. Por conta do local ser cercado de casas, muitos ambulantes encontraram facilidade para entrar na área com bandeirinhas e cornetas com as cores do Brasil.
Outros ficavam próximos de uma grade que dava de frente para o estádio, mais próximos do que as tendas dos patrocinadores do torneio, e vendiam água e cerveja por mais da metade do preço oficial e com marcas concorrentes de bebidas alcóolicas. Policiais acompanhavam a venda ilegal e faziam vista grossa.
Outra falha da organização gerou um pequeno descontentamento dos torcedores. Um atraso de 15 minutos na abertura dos portões fez com que uma aglomeração se formasse nas portas da Arena Castelão e gerasse algumas reclamações dos torcedores que aguardavam a entrada debaixo do sol forte que fazia em Fortaleza. Dentro do estádio, torcedores reclamaram da falta de comida e bebida nas lanchonetes do local, além de longas filas em banheiros.
Regra da Fifa é ignorada
Apesar da entidade máxima do futebol ter alertado no dia anterior que não era permitida a entrada de faixas que faziam alusão a protestos políticos e/ou religiosos não foi o que se viu dentro da Arena Castelão. Muitos torcedores entraram com faixas pedindo educação, segurança e saúde para população brasileira. Críticas contra a corrupção e aos gastos nos estádios da Copa do Mundo também eram vistas no protesto dentro do estádio.
De acordo com o torcedor Murilo Melo, que portava uma faixa em inglês com os dizeres "não é pelos 20 centavos, é pelos 69 bilhões roubados dos cofres públicos", a Força Nacional e os seguranças que fiscalizavam a entrada dos torcedores permitiam faixas com dizeres em inglês, mas costumavam barrar as que estavam escritas em português.
Eu tinha outra faixa em português escrita 'Enfia os R$ 0,20 no SUS' e não me deixaram entrar com ela. Mas essa aqui, em inglês, eles falaram que não teria problema". Mesmo fazendo vigilância mais forte nas faixas em português, era possível ver algumas inscrições com a língua usada no Brasil dentro do Castelão.
