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Copa do Brasil

Historiador critica comparações de Copa do Brasil com Taça Brasil

30 dez 2010 - 09h30
(atualizado em 20/1/2011 às 10h20)
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Diego Garcia
Direto de Santos

Um dos argumentos mais comuns entre os opositores da homologação dos títulos nacionais diz respeito ao formato da Taça Brasil. Os que apresentam as opiniões contrárias mais ferrenhas apontam que o mais adequado seria anexarmos tal competição à Copa do Brasil, disputada em moldes semelhantes desde 1989. Contudo, Odir Cunha - autor do dossiê da unificação -, classifica tal argumento como "de um anacronismo atroz".

"Essa comparação que se ouve e se lê entre a Taça Brasil e a Copa do Brasil é de um anacronismo atroz, significa, literalmente, colocar o carro na frente dos bois. Há uma grande diferença entre as duas competições, em todos os sentidos", disse o historiador.

A Taça Brasil foi um torneio criado pela CBD em 1959 com o intuito de indicar o clube brasileiro que representaria o País na Copa Libertadores da América, recém-criada nos moldes da Taça da Europa (atual Liga dos Campeões da Uefa) com o nome de "Campeonato Sul-Americano de Campeões". Entre os participantes do torneio nacional - que sempre teve caráter eliminatório -, apenas os vencedores dos respectivos certames estaduais.

A Copa do Brasil - que desde o princípio também é jogada no sistema "mata-mata" -, por sua vez, nasceu em 1989 e, até 1994, foi integrada por campeões estaduais e alguns vices, contabilizando 32 participantes. Em 1995, o formato permaneceu semelhante, mas foram adicionados o campeão da Copa Bandeirantes (Corinthians) e três convidados pela CBF (Democrata-MG, Juventude e Flamengo).

Posteriormente, essa competição passou a ser disputada por diversos clubes distintos, que entravam na tabela como convidados ou por sua classificação no ranking da CBF, além de vencedores de competições pequenas, como a Copa Federação Paulista de Futebol.

Confira abaixo, na íntegra, a entrevista com Odir Cunha sobre a Taça Brasil:

Terra - A Taça Brasil foi jogada por dez anos (59 - 68) com o mesmo sistema de disputa - os campeões estaduais se enfrentavam em partidas eliminatórias. Anexarmos os campeões dessa competição à galeria de vencedores da Copa do Brasil, torneio que sempre teve o mesmo critério de disputa, não seria mais adequado?

Odir Cunha - Essa comparação que se ouve e se lê entre a Taça Brasil e a Copa do Brasil é de um anacronismo atroz, significa, literalmente, colocar o carro na frente dos bois. Há uma grande diferença entre as duas competições, em todos os sentidos. A Taça Brasil foi a primeira e única competição nacional por oito anos e enquanto durou foi a responsável por todas as vagas de times brasileiros na Copa Libertadores da América (cujo nome original era Copa dos Campeões da América, pois só reunia o campeão de cada país).

A Copa do Brasil, criada em 1989, portanto 30 anos depois, nunca foi a competição mais importante do Brasil, nunca deu ao seu vencedor o título de campeão brasileiro e nunca reuniu apenas os campeões estaduais (na verdade, muitos times foram e são convidados sem critérios técnicos). Não se pode usar uma competição do futuro para rebaixar uma competição do passado, até porque a situação econômica, a estrutura do País era bem diferente.

Com o que se parece a primeira Copa do Mundo, em 1930, que nem teve eliminatórias e poucos times europeus? Com o que se parece os primeiros campeonatos italianos vencidos pelo Genoa, que fez dois jogos no mesmo dia e em um campo de dimensões irregulares? Não se parece nem com um torneio varzeano atual. Mas é justo equiparar um torneio de várzea com o primeiro campeonato italiano, jogado em 1898? Claro que não. Isso se chama respeito aos primórdios, respeito à história.

Terra - Mas a unificação da Taça Brasil com o Campeonato Brasileiro não abre lacunas para que os vencedores da Copa do Brasil reivindiquem seus nomes como iguais campeões nacionais? Por que a conquista do Criciúma, em 1991, por exemplo, não tem o mesmo valor que a do Bahia, em 1959?

Odir Cunha -

Como já expliquei, a Copa do Brasil sempre foi uma competição secundária, e mantém o seu status até hoje. Tanto é, que os times brasileiros que participam da Libertadores não jogam a Copa do Brasil.

Não há a mínima possibilidade de ela ser colocada no mesmo nível do Campeonato Brasileiro atual. A intenção da Copa do Brasil nunca foi definir o campeão brasileiro, mas dar oportunidade a times que não se classificavam para o Brasileiro.

Terra - É justo termos como critério para definir um campeão nacional o simples fato de ter vencido seu respectivo campeonato estadual? Essa fórmula não se encaixaria melhor à Copa do Brasil, deixando o Robertão/Campeonato Brasileiro sendo disputado, desde o princípio, pelos melhores times?

Odir Cunha - As competições têm regulamentos que, uma vez aprovados pelos clubes que a disputam, não podem mais ser questionados. Na época os clubes acharam que os critérios eram justos, pois concordaram com eles. Eu poderia perguntar: é justo a Fifa fazer um mundial de clubes com apenas um representante da Europa e um da América do Sul, e ao mesmo tempo incluir um time da África?

Obviamente há dezenas, centenas de clubes na Europa e na América com mais potencial técnico do que o Mazembe. No entanto, como o regulamento só permitia um time de cada continente, o time do Congo participou do Mundial, enquanto Real Madrid, Barcelona, Milan, Juventus, Manchester United, Boca Juniors, River Plate, São Paulo, Flamengo, Corinthians, Grêmio, Fluminense e tantos outros de mais tradição e condição técnica ficaram de fora.

Se todas as competições forem analisadas pelo critério de justiça, muitas teriam de ser contestadas. O critério que define uma competição é sua finalidade. A Taça Brasil seguiu o modelo de duas competições: a Copa dos Campeões da Europa, que já era disputada há três anos e reunia campeões de países europeus; e o Campeonato Brasileiro de Seleções, que foi extinto para que surgisse o "Campeonato Brasileiro de Clubes", ou Taça Brasil.

Terra - Na Taça Brasil, apenas os campeões estaduais entravam na disputa, e os vencedores do Paulista e do Carioca já ingressavam nas semifinais. Contudo, o Vasco - que não ficou nem entre os quatro primeiros colocados nos Campeonatos Cariocas de 1964 e 1965 - foi o representante do Rio de Janeiro na edição da Taça Brasil de 1965 e acabou vice-campeão.

Além disso, os representantes cariocas em 1966 e 1967 foram Fluminense (3º colocado no estadual de 65) e Botafogo (4º colocado em 66), e não Flamengo e Bangu, campeões estaduais em 65 e 66, respectivamente. Por que os indicados foram os campeões da Taça Guanabara e não do Campeonato do Estado do Rio de Janeiro?

Odir Cunha - Como você mesmo responde, em vários anos os indicados para a Taça Brasil foram os campeões da Taça Guanabara e não os campeões do Campeonato do Rio de Janeiro. Essa foi uma decisão da Federação Carioca e dos clubes do Rio. Provavelmente por questão de datas.

No entanto, todos os grandes cariocas participaram da Taça Brasil e usaram suas equipes principais para tentar o título - casos de Botafogo em 1962, Flamengo em 1964 e Vasco em 1965, que só perderam a taça na decisão com o Santos.

Terra - Com a criação do Robertão, em 1967, a Taça Brasil não ficou desvalorizada? Santos e Palmeiras, sete vezes campeões de nove edições do certame até então, desistiram de disputar em 68, por exemplo.

Odir Cunha - Sim, o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, ou Robertão (o Rio-São Paulo ampliado), aos poucos tomou o lugar da Taça Brasil como a competição nacional mais importante. Mas a Taça Brasil ainda tinha a sua relevância, tanto que os representantes brasileiros na Libertadores de 1968 foram o campeão e o vice da Taça Brasil (Palmeiras e Náutico).

O Brasil já era outro em 1967, tinha mais estrutura, melhores meios de transporte, foi possível ousar em um formato de competição com mais jogos. A CBD optou em 1969 por substituir definitivamente a Taça Brasil pelo Robertão/Taça de Prata, mas antes tivemos dois anos de intersecção entre essas duas competições: em 1967 e 1968.

Em 1969 o Brasil não enviou representantes para a Libertadores. Em fases de intersecção entre duas competições, como aconteceu com o Mundial da Fifa em 2000 - Corinthians e Boca Juniors -, o bom senso recomenda que se considere os dois campeões. Por que excluir um?

Confira todos os campeões da Taça Brasil:

1959 - Bahia

1960 - Palmeiras

1961 - Santos

1962 - Santos

1963 - Santos

1964 - Santos

1965 - Santos

1966 - Cruzeiro

1967 - Palmeiras

1968 - Botafogo

Confira todos os campeões da Copa do Brasil:

1989 - Grêmio

1990 - Flamengo

1991 - Criciúma

1992 - Internacional

1993 - Cruzeiro

1994 - Grêmio

1995 - Corinthians

1996 - Cruzeiro

1997 - Grêmio

1998 - Palmeiras

1999 - Juventude

2000 - Cruzeiro

2001 - Grêmio

2002 - Corinthians

2003 - Cruzeiro

2004 - Santo André

2005 - Paulista

2006 - Flamengo

2007 - Fluminense

2008 - Sport

2009 - Corinthians

2010 - Santos

Confira o resto da entrevista com o historiador nos links abaixo:

» Exclusivo: Mentor do dossiê dá detalhes da polêmica unificação dos títulos nacionais

» Autor de dossiê rechaça unificação do RIo-São Paulo: "não tem chance"

» Odir Cunha desaprova unificação de título do Maringá: "é forçar a barra"

Taça Brasil foi criada para definir o representante brasileiro na Copa Libertadores
Taça Brasil foi criada para definir o representante brasileiro na Copa Libertadores
Foto: Arquivo pessoal / Reprodução
Fonte: Especial para Terra
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