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Copa do Brasil

Ídolo corintiano teria alegria completa com título alviverde

Oswaldo Brandão foi uma rara referência em comum dos dois grandes rivais paulistas

1 dez 2015 - 14h07
(atualizado às 16h42)
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Oswaldo Brandão era um autêntico tricolor – carregava consigo o preto do Corinthians, o verde do Palmeiras e o branco da paz. Um raro ídolo em comum dos dois rivais, o técnico consagrado no futebol paulista entre as décadas de 1940 e 1980 tinha o coração tão dividido que criou um filho palmeirense, o falecido Márcio, e uma filha corintiana, Regina.

“O porquê de eu ser corintiana? Aconteceu”, sorriu Regina, vibrando com a conquista do hexacampeonato brasileiro no ano que poderá acabar com o Palmeiras como campeão da Copa do Brasil. “Desta vez, no Brasileiro, não foi tão sofrido. Papai ficaria feliz. Com esse possível título do Palmeiras? Também. Ele construiu uma relação muito forte com os dois clubes. Em casa, todos torciam pelo time em que ele estivesse trabalhando no momento. Acabou que o meu irmão virou palmeirense. Eu, corintiana, como a mamãe.”

O primeiro time em que Brandão trabalhou como treinador foi o Palmeiras. Após passar por Santos e Portuguesa, no entanto, ele se destacou pelo Corinthians justamente em cima do grande rival, com a conquista do Campeonato Paulista do IV Centenário da cidade de São Paulo, em 1954. O troco veio em outra decisão estadual, exatas duas décadas depois – venceu o time de Rivellino, que terminaria escorraçado do Parque São Jorge, e prolongou o jejum corintiano de conquistas expressivas. “Se o Brandão fosse o meu técnico...”, ainda lamenta o ex-jogador. A fila alvinegra só chegaria ao fim em 1977. Com Brandão no banco de reservas após liderar a Segunda Academia palmeirense no bicampeonato brasileiro de 1972 e 1973.

“É... O Brandão tem uma história bem forte no Palmeiras, grande como a que fez no Corinthians”, assentiu o jornalista Celso Unzelte, historiador corintiano, quando questionado se Tite já havia superado Brandão como ídolo do clube do Parque São Jorge. “Mas, até aí, o Tite também tirou um título do Corinthians com o Grêmio (Copa do Brasil de 2001) e enfrentou o Corinthians em outra final pelo Inter (Copa do Brasil de 2009). Você vê: não se pode cobrar tanta fidelidade de técnico, né? Nem de jogador a gente pode cobrar”, complementou.

Um dos maiores incentivadores da carreira de treinador de Oswaldo Brandão era palmeirense fanático. Eduardo Bonifácio dos Santos, o Dudu, foi boxeador e conselheiro do Palestra Itália e induziu o amigo a fazer o verde sobrepujar o preto no início da trajetória profissional. Seu neto, o publicitário Ubirajara Carratu, é afilhado de Brandão e ainda faz jus à família palmeirense ao brincar com a dualidade que marcou a vida do padrinho. “Suspeito que ele fosse torcedor do Palmeiras. É o que dizem as más línguas”, brincou.

Há quem não enrole a língua na hora de discordar. “Nunca ouvi que o Brandão fosse palmeirense”, avisou José de Souza Teixeira, preparador físico do Corinthians em 1977. “Se estivesse no Palmeiras, ele era palmeirense. No Corinthians, era corintiano. Ele sempre demonstrou a vontade de conseguir o máximo pelo clube em que trabalhava. E, sim, se fosse vivo, ficaria muito satisfeito com o Corinthians campeão brasileiro e com a possibilidade de sucesso também do Palmeiras, na Copa do Brasil. Lá de cima, ele está vendo”, acrescentou.

Oswaldo Brandão (a esquerda) foi treinador e campeão tanto pelo Corinthians quanto pelo Palmeiras
Oswaldo Brandão (a esquerda) foi treinador e campeão tanto pelo Corinthians quanto pelo Palmeiras
Foto: Gazeta Press

O próprio Ubirajara recebeu uma prova do apreço de Brandão pelo Corinthians. Quando o publicitário tinha cerca de dez anos, escutou do padrinho, já falando com dificuldades em decorrência das complicações de um câncer linfático, que ganharia um presente. Era uma bola murcha, “mas com um sentido todo especial” segundo treinador, que seria velado com a bandeira do Corinthians sobre o caixão meses depois. “Coloquei de canto. E era uma bola da final de 1977! Foi aí que o meu avô (Dudu, o amigo de Brandão) me ensinou: ‘Você pode ser palmeirense, mas tem que acreditar e respeitar as coisas do futebol’”, rememorou.

Com a lição devidamente aprendida, Ubirajara se juntou entusiasmadamente ao time que vê uma homenagem completa para Brandão com a conquista do Brasileiro pelo Corinthians e da Copa do Brasil pelo Palmeiras em 2015. “P...! Você tem dúvidas? P... que o pariu! Se visse os dois encaminhados, ele estaria em êxtase. É um ídolo único, que conseguiu fazer o milagre de unir dois grandes rivais em torno de si”, comentou o publicitário, que já não é tão palmeirense assim. “Não tenho orgulho nenhum disso. Foi um time que decepcionou a toda a família. O meu avô (Dudu) se dedicou a vida inteira ao clube e, na mudança de estádio para arena, avisaram que jogariam os troféus dele como boxeador no lixo se não fôssemos buscá-los. Também se acostumou a dar uns R$ 200 para jogadores da velha guarda, que estavam precisando e batiam à porta dele. Acompanhei o Palmeiras virar as costas para todo o mundo.”

Já os corintianos mais fanáticos querem dar as costas para a história de Oswaldo Brandão no Palmeiras. É o caso de Basílio. Autor do gol que sacramentou a inesquecível conquista do Campeonato Paulista de 1977, o ex-jogador se apressou para colocar o preto à frente do verde. “Pelo que conheço do homem, esse título brasileiro seria muito mais comemorado por ele do que uma conquista da Copa do Brasil pelo Palmeiras. Sem dúvidas. Ele foi mais Corinthians!”, exclamou, suspeito para falar, porém sem perder a seriedade no tom de voz.

Palmeiras é o detentor da Taça Oswaldo Brandão

A identificação de Oswaldo Brandão com Corinthians e Palmeiras é tamanha que os rivais já até disputaram um torneio amistoso com o nome do treinador. Foi em 2009 e previa que o maior vencedor do Derby após cinco partidas teria a posse definitiva do troféu criado para celebrar o ídolo em comum.

Todos os clássicos da Taça Oswaldo Brandão ocorreram em Presidente Prudente. No primeiro deles, em março, Ronaldo quebrou o alambrado ao comemorar o empate por 1 a 1. No segundo, em julho, o Palmeiras fez 3 a 0 com gols de Obina. E, no confronto derradeiro, em novembro, o time alviverde foi beneficiado no empate por 2 a 2 com o Corinthians por ser o mandante do duelo.

Gazeta Esportiva Gazeta Esportiva
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