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“Melhor que Ituano”, Vilhena tem intruso verde e corintianos

Torcida rondoniense fez bonito no Pacaembu e deixou estádio orgulhosa de seu time

3 abr 2014 - 09h50
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Veja a festa dos torcedores do Vilhena-RO no Pacaembu:

Casais, parentes, crianças, idosos, esposas, dirigentes, curiosos, estudantes e conterrâneos. Sem contar o prefeito. Camisas de todas as cores, bandeiras, faixas e cartazes. Desconhecidos se abraçavam em gritos de guerra, músicas, cânticos provocativos e risadas, independentemente do que acontecia. Uma verdadeira farra. A descrição parece até de alguma festa de rua carnavalesca, mas não era. Tratava-se da barulhenta torcida do Vilhena-RO, que teve presença marcante no Pacaembu na noite desta quarta-feira e por pouco não surpreendeu o Palmeiras, mesmo com a derrota por 2 a 0. Com direito até a corintianos "intrusos", torcedor alviverde barrado e gritos de "o Vilhena é melhor que o Ituano".

O pequeno município de nome homônimo, de apenas 87 mil habitantes e localizado no distante estado de Rondônia, apareceu como poucas vezes antes para o Brasil nesta quarta-feira. E a diferença de um mísero minuto entre uma bola no travessão do ataque visitante, aos 26min do segundo tempo, e o contra-ataque fulminante que culminou no primeiro gol de Bruno César, aos 27min, separaram o Vilhena de uma vitória histórica contra o gigante Palmeiras. Resultado à parte, contudo, o modesto time rondoniense, de folha salarial total beirando R$ 100 mil  - número bem inferior ao salário individual de diversos jogadores do time paulista - fez bonito no Pacaembu, independentemente do resultado. 

Torcida do time rondoniense fez bonito no Pacaembu com festa e músicas
Torcida do time rondoniense fez bonito no Pacaembu com festa e músicas
Foto: Diego Garcia / Terra

O Terra acompanhou os 90 minutos do confronto ao lado dos cerca de 100 fãs que compareceram ao setor destinado à equipe visitante para apoiar o Vilhena. E tinha mesmo de tudo: rondonienses que simpatizam com outros clubes da região, mas por morarem em São Paulo foram torcer para o time só por serem de Rondônia; presença do prefeito local ao lado da diretoria da agremiação; um grupo de amigos que foi de van de Serra Negra (SP); casal que já morou na cidade; parentes de atletas; corintianos infiltrados e até um palmeirense barrado para fora do estádio. 

Veja algumas histórias da saga da torcida do Vilhena no Pacaembu:

Amauri mostra com orgulho bandeira de sua terra natal, Rondônia
Amauri mostra com orgulho bandeira de sua terra natal, Rondônia
Foto: Diego Garcia / Terra
Cruzeirense rondoniense e fã de um rival - A reportagem chegou no setor destinado ao time visitante por volta de 21h30 desta quarta e logo foi questionada por um simpático torcedor: "você também é de Ariquemes?". Esse era justamente o município onde nasceu Amauri de Souza Junior, 25 anos, que mora em São Paulo e cursa Publicidade no Mackenzie. 

Com a bandeira de Rondônia nas costas e acompanhado por outros conterrâneos que residem em solo paulista, Amauri era um dos mais animados na hora de gritar para incentivar. "Na verdade torço para o Ariquemes, mas hoje sou Vilhena, sou de Rondônia", disse, animado, antes de confessar: "e cruzeirense de coração, sou do campeão brasileiro".

"Tocaia Paulista" e corintianos intrusos - Apesar de ter iniciado o confronto no banco, o jogador Tiago teve torcida particular na arquibancada do Pacaembu. Com 25 anos e ex-atleta de Prudentópolis, Paraná e sub-20 do São Paulo, de acordo com amigos, o atleta viu os companheiros do Tocaia - equipe de futsal amadora paulistana - comparecerem.

Amigos do Tocaia tiveram até corintianos intrusos no Pacaembu
Amigos do Tocaia tiveram até corintianos intrusos no Pacaembu
Foto: Diego Garcia / Terra

Cristiano Oliveira, motorista de 33 anos, vestia com orgulho a camisa do Tocaia. "É nosso time de futsal, o Tiago joga conosco sempre, é do bairro da Encosta Norte, no Itaim Paulista", explicou. Paulo Júnior, 29, era outro que torcia por Tiago, junto também de outro Júnior, seu pai e mais um amigo. E eles tinham um segredo: "somos corintianos", afirmou.

"Avalanche de Rondônia" e global cornetado - A torcida do Vilhena cantava absolutamente o tempo inteiro. Mas entre os criativos gritos entoados pelos rondonienses, chamou a atenção a "avalanche" feita pelos fãs na hora que o clube entrou em campo. O gesto, eternizado por gremistas em jogos do time gaúcho, teve adesão de 30 pessoas no Pacaembu.

Além disso, um dos pontos que provocaram mais risos entre os próprios torcedores foram xingamentos entoados ao repórter Mauro Naves, da TV Globo, um dos mais conhecidos jornalistas esportivos da emissora há algumas décadas. Enquanto se dirigia para os vestiários no intervalo e passou perto do setor destinado aos rondonienses, o global deve ter ouvido algumas ofensas diferentes e até divertidas, como "Mauro Naves mão dealface".

"Melhor que o Ituano" e "segunda divisão" - Uma coisa é fato: a torcida do Vilhena não parou de cantar nem por um minuto no Pacaembu. Teve até um "Vamos Vilhena, esta noite teremos que ganhar", grito famoso da torcida do Corinthians no título da Libertadores 2012. Mas o coro que provocava maior mobilização e acabou sendo o mais cantado foi aquele que fazia referência à derrota do Palmeiras para o Ituano ocorrida no último domingo, pela semifinal do Campeonato Paulista.

"Palmeiras, está escutando? O Vilhena é melhor que o Ituano" foi entoado inúmeras vezes pelos rondonienses ao longo do jogo. Os fãs alviverdes localizados no Tobogã se irritavam e pediam silêncio, mas ouviam em réplica o coro de "ão, ão, ão, segunda divisão" alusivo às duas quedas do clube paulista à Série B ao longo dos anos. "Nunca fui rebaixado, campeão do Estado, não alugo estádio" também foi usado pelos torcedores do Vilhena.

Amigos de Serra Negra viajaram três horas para torcer por atacante Jal
Amigos de Serra Negra viajaram três horas para torcer por atacante Jal
Foto: Diego Garcia / Terra
Pelotão de 20 amigos de Serra Negra - Entre os rondonienses, existia sem dúvidas um grupo que se destacava mais que os demais. Era o "pelotão" formado por 20 pessoas de Serra Negra (SP), que fretou uma van e se destacou no Pacaembu. A viagem era explicada pois o grupo era de esposa, filho, irmãos, parentes e amigos do atacante Jal, o camisa 9. Cada um desembolsou R$ 90, entre ingresso e transporte.

De acordo com seu irmão Liu, de 33 anos, o centroavante já atua há dois anos no Vilhena e teve passagens por Bragantino e Itapirense. "Uma época, quando ele jogava no Serra Negra, o Corinthians quis contratá-lo", promete de pés juntos Liu, que é natural da Paraíba, mora no município do interior paulista há 19 anos junto com toda a família de Jal. Ao fim do duelo, o Terra conseguiu reencontrar o grupo ao lado do atleta.

Palmeirense barrado perde primeiro tempo - Ismael De Souza, açougueiro de 26 anos, também estava no grupo que saiu de Serra Negra para apoiar o atacante Jal. Contudo, o rapaz causou sinal de alerta entre seus amigos ao longo da etapa inicial do duelo. Tudo porque não foi encontrado na arquibancada e aparentemente tinha "sumido", sem atender aos exaustivos telefonemas dos preocupados colegas.

No intervalo, contudo, Ismael deu as caras. E explicou à reportagem: "fui barrado na entrada pois estava com a camisa do Palmeiras, não me deixaram entrar na torcida do Vilhena", falou ele, que teve que andar até a van para trocar de blusa. "Apesar de palmeirense, hoje estou torcendo para os dois times", avisou o amigo do centroavante Jal.

Casal que morou em Vilhena há 10 anos compareceu ao Pacaembu
Casal que morou em Vilhena há 10 anos compareceu ao Pacaembu
Foto: Diego Garcia / Terra
Casal simpatizante e publicitário rondoniense - Um simpático e apaixonado casal chamava a atenção em meio aos mais elétricos torcedores do Vilhena no Pacaembu. Mais acima e um pouco longe da algazarra comandada pelos demais, Cleci Korb, professora de 42 anos, e Vitor Carvalho, servidor público de mesma idade que vestia a camisa do clube de Rondônia, explicaram: "moramos em Vilhena em 2004 e 2005 e gostamos muito de lá".

Miquéias levou cartaz homenageando cidade e amigo
Miquéias levou cartaz homenageando cidade e amigo
Foto: Diego Garcia / Terra

Um pouco mais abaixo estava Miquéias Hasashe, publicitário natural de Porto Velho, mas que mora há 20 anos em São Paulo. Com uma faixa na mão, o torcedor trouxe uma homenagem a um amigo corintiano chamado Áquila que fazia aniversário no dia. "Ele acabou de me ligar e contou que viu na TV a mensagem", disse Miquéias, que no cartaz também expressava seu orgulho pela presença da equipe na capital paulista.

Prefeito de Vilhena e dirigentes em "camarote" - E não era só de populares que era formada a torcida rondoniense. Um pouco mais acima, apoiados nas grades do Pacaembu em uma espécie de camarote improvisado para o time visitante, estavam o prefeito de Vilhena, José Rover, reeleito em 2012 com 85,85% dos votos válidos no município, e a diretoria do próprio Vilhena Esporte Clube.

O prefeito conversou com a reportagem e falou da importância do feito da agremiação na Copa do Brasil: "trouxe muita visibilidade à nossa cidade e também ao Estado de Rondônia", disse José Rover, que veio na tarde desta quarta de avião diretamente de Brasília, onde resolvia compromissos políticos. Na hora em que batia um papo com o Terra, entretanto, saiu o primeiro gol do Palmeiras, fato que desanimou os presentes.

Prefeito de Vilhena e diretoria do clube torcem em "camarote"
Prefeito de Vilhena e diretoria do clube torcem em "camarote"
Foto: Diego Garcia / Terra

Dirigentes, vaga na Série D e fim de jogo - Com o prefeito estavam, no "camarote", o secretário de esportes local, Wellington Ferreira, o atual presidente do Vilhena, Anderson Bulhosa, o presidente de honra José Dalaghol, conhecido como "o gaúcho do milho", e o diretor José Natal, que disse à reportagem torcer para disputar a Série D do Campeonato Brasileiro deste ano, o que acontecerá em caso de título estadual. 

Com R$ 500 mil em patrocínios e mais os R$ 400 mil arrecadados de renda na partida de ida, em Rondônia, quando perdeu por 1 a 0 para o Palmeiras e garantiu o jogo de volta, o clube realizou um grande feito nesta quarta, ao jogar de igual para igual contra o gigante paulista. E, mesmo com a derrota, ainda ouviu sua torcida sair de lá cantando alegremente que o time "é melhor que o Ituano". Merecida homenagem à agremiação que conseguiu honrar o nome do rondoniense Vilhena pelo Brasil afora.

Fonte: Terra
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