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Copa do Mundo

Das ruínas do Maracanã, Rio espera um novo tempo com Copa

3 mar 2011 - 17h17
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As arquibancadas estão destruídas e o gramado foi cercado por montanhas de entulhos. As duas balizas, que permanecem intactas sobre um campo castigado, são os únicos símbolos que remetem o Maracanã de hoje ao antigo palco do futebol brasileiro, que está sendo totalmente modificado para a Copa do Mundo de 2014.

"Quem conheceu o velho Maracanã vai ter que guardar na memória. Esse aqui vai ser um outro estádio", resumiu um dos 500 operários da obra de demolição da parte interna do ex-maior estádio do mundo, sem esconder a lamentação de um fanático frequentador do local.

Construído em tempo recorde para a Copa do Mundo de 1950, o Maracanã tem em seus registros os maiores públicos da história do futebol mundial.

Acredita-se que até 200 mil pessoas se aglomeraram nos dois andares de arquibancada e, principalmente, na "geral" — setor abaixo do nível do campo de onde se via o jogo de pé — na dramática derrota do Brasil por 2 x 1 para o Uruguai na final daquele Mundial.

Muita coisa já havia mudado no estádio antes mesmo do início das obras para a Copa de 2014, em meados de 2010. Reformas para o Mundial de Clubes da Fifa de 2000 e os Jogos Pan-Americanos de 2007 consumiram mais de 300 milhões de reais e reduziram a capacidade do estádio para 90 mil pessoas, com a colocação de cadeiras para todos os torcedores e outras melhorias.

Tudo isso, no entanto, já virou entulho. Uma reforma de 705 milhões de reais — a mais cara entre os 12 estádios da Copa — vai transformar o Maracanã numa arena multiuso moderna, com cadeiras confortáveis praticamente coladas ao gramado, restaurantes com vista para o campo, cobertura total das arquibancadas e novos sistemas de segurança e acesso, entre outras novidades.

Da construção original, só permanecerá o exterior, que é tombado como patrimônio histórico.

Para os críticos — o mais emblemático deles é o presidente de honra da Fifa, João Havelange — o estádio deveria ser demolido para dar lugar a uma arena totalmente nova, como fizeram em Wembley, a um custo bem menor do que a reforma milionária.

Mas o torcedor do Rio de Janeiro não terá do que reclamar no novo Maracanã, nem mesmo com a redução da capacidade para 78 mil pessoas, é o que garante a secretária estadual de Esportes, Márcia Lins, responsável por administrar a preparação do Maracanã para a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

MÍSTICA E HISTÓRIA

"O Maracanã sai do parâmetro de ser apenas um estádio de futebol construído em 1950 e que ganhou fama e virou esse templo mundial do futebol para ser um parque esportivo e de entretenimento", disse a secretária à Reuters em entrevista no estádio.

"Ele foi construído em 1950 com um conceito de partidas de futebol que eram assistidas por grandes públicos em suas arquibancadas, com um grande setor onde as pessoas assistiam ao jogo de pé bem próximas ao gramado. Não tinha nem transmissão pela TV, só existia rádio, e as pessoas assistiram à Copa de dentro dos estádios. Quanta coisa mudou nesses 60 anos", afirmou.

"O Maracanã ao longo dos anos passou por alguns processos de reforma, mas não uma readequação geral como vem passando agora. Ele passa a ser um estádio moderno que atende a todos os requisitos que a Fifa exige para a Copa de 2014 e ao mesmo tempo ele guarda essa mística e essa história."

A principal mudança do novo Maracanã será nas arquibancadas. Em vez dos antigos dois anéis, haverá uma inclinação única desde o topo do estádio até a beira do campo, o que garantirá 100 por cento de visibilidade do jogo de qualquer lugar, de acordo com o projeto.

As duas principais exigências da Fifa para a Copa não estão ligadas às obras na parte de dentro do estádio. Quatro novas rampas de acesso estão sendo construídas para diminuir o tempo de entrada e saída dos torcedores, principalmente em caso de emergência. A falta de vagas para carros será solucionada com a ligação através de uma passarela por cima da linha de trem do estádio com o parque Quinta da Boa Vista, que será utilizado parcialmente como estacionamento.

"CEREJA NO BOLO"

Com a realização da Copa numa fase de otimismo geral no país motivado pelo bom momento econômico, o novo Maracanã pode representar um símbolo da transformação que o Rio de Janeiro vislumbra nos próximos anos.

A Copa e a Olimpíada exigem investimentos enormes em transportes, aeroportos, meio ambiente e segurança, e as autoridades prometem dessa vez tirar do papel projetos que há anos estão engavetados.

"O Maracanã é a cereja no bolo da Copa do Mundo", afirmou Márcia Lins. "O Rio de Janeiro terá talvez um dos maiores legados da história dos megaeventos no que diz respeito a Copa e Olimpíada dos últimos anos."

"É a Copa da mobilidade, é a Copa da sustentabilidade, é a Copa do momento especial que o Brasil passa, com a força econômica, um momento de alto astral, autoestima. É um momento especial com esse calendário esportivo que passa pela nossa porta e vai deixar resultados", afirmou.

"Claro que é um esforço monumental do poder público, mas é esse calendário que está nos permitindo isso, adiantar no tempo investimentos que talvez só viessem daqui uns 30 anos."

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