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Copa do Mundo

Dunga x Maradona: teimosia, bons números e fim melancólico

3 jul 2010 - 22h50
(atualizado em 4/7/2010 às 15h55)
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Dunga e Maradona não poderiam ter tido estilos mais diferentes como jogadores. Como treinadores, porém, as trajetórias se assemelham. Tanto o ex-volante brasileiro quanto o ex-craque argentino surpreenderam ao serem escolhidos técnicos de suas seleções, já que não tinham nenhuma experiência anterior na função; os dois foram duramente criticados e entraram em atrito com a imprensa em alguns momentos, mas tiveram bom aproveitamento no fim; e ambos caíram nas quartas de final da principal competição de seus ciclos, a Copa do Mundo de 2010.

Dunga, que assumiu o comando da Seleção Brasileira em 24 de julho de 2006 - pouco depois do fiasco no Mundial da Alemanha - já confirmou que deixará o cargo. Maradona, que exerce a função de treinador da Argentina desde 28 de outubro de 2008, ainda não; porém, sua entrevista após a derrota por 4 a 0 para os alemães neste sábado foi em tom de despedida.

Entre os dois "treinadores de primeira viagem", os números do brasileiro são claramente superiores aos do argentino. Em 68 jogos à frente do Brasil, Dunga venceu 49, empatou 12 e só perdeu sete; um aproveitamento de 77,9%, com 144 gols marcados e apenas 45 sofridos. Já Maradona, em 25 partidas, registrou 18 vitórias, nenhum empate e as mesmas sete derrotas. Foi um aproveitamento de 72%, com 49 gols marcados e o alarmante número de 31 gols sofridos.

Início sob pressão

Se o capitão do tetracampeonato mundial teve a missão de "reformular" a Seleção após a frustrante eliminação para a França na Copa de 2006, a tarefa de Maradona não foi menos árdua. Ele assumiu a Argentina 13 dias depois de o técnico anterior, Alfio Basile, ter pedido demissão por conta de uma derrota por 1 a 0 para o Chile, pelas Eliminatórias para o Mundial de 2010.

O maior ídolo do futebol argentino estreou com vitórias sobre Escócia e França em amistosos, e em sua primeira partida oficial, uma goleada: 4 a 0 na Venezuela, em casa, pelas Eliminatórias. Porém, a partida seguinte seria uma das maiores humilhações da história da seleção. Na altitude de La Paz, em 1º de abril de 2009, a Argentina tomou um sonoro 6 a 1 da Bolívia, fazendo cair uma chuva de críticas sobre Maradona.

Uma vitória sobre a Colômbia em casa foi seguida por mais uma derrota, desta vez para o Equador, por 2 a 0. Sob intensa pressão, principalmente por sua ênfase em fazer experiências e testar a convocação de inúmeros jogadores que atuavam no futebol argentino, Maradona teria o Brasil como próximo adversário. Os arquirrivais viviam bom momento sob o comando de Dunga, tendo vencido suas três últimas partidas de Eliminatórias (contra Peru, Uruguai e Paraguai).

Crise, classificação histórica e falta de educação

A Argentina mudou o local do jogo de Buenos Aires para Rosário, onde o estádio era menor e poderia haver mais pressão da torcida. O Brasil, porém, não se intimidou e venceu por 3 a 1 no dia 5 de setembro de 2009, com uma atuação de gala. Quando Maradona perdeu para o Paraguai em Assunção quatro dias depois, os pedidos por sua demissão alcançaram níveis quase insustentáveis.

Porém, assim como Dunga em seus piores momentos, o capitão do título mundial de 1986 não pediu as contas. O risco de a Argentina ficar de fora da Copa do Mundo era real, e o time teria que vencer as duas últimas partidas das Eliminatórias, contra Peru e Uruguai, para garantir a vaga sem depender de ninguém. Os críticos diziam que o time não tinha esquema, que Maradona escalava mal, que o astro Messi não rendia com a camisa azul e branca.

No primeiro jogo, tudo se encaminhava para um desastroso empate em casa com o Peru, até que o veterano atacante Palermo marcou para os argentinos nos acréscimos, garantiu a vitória por 2 a 1 e salvou Maradona. Contra os uruguaios, em Montevidéu, o volante Bolatti, outra aposta do técnico, fez o gol da vitória por 1 a 0, que garantiu a classificação para a Copa.

Depois do triunfo sobre os uruguaios, Maradona declarou guerra à imprensa, ofendendo os jornalistas que não acreditavam que o time pudesse chegar ao Mundial com ele no comando. E da mesma forma que Dunga mostrou gratidão aos atletas que foram "fiéis" à Seleção Brasileira, ele levou os "salvadores" Palermo e Bolatti para a África do Sul.

A Copa do Mundo: início promissor, naufrágio nas quartas

Depois de cinco vitórias seguidas em amistosos preparatórios para o Mundial em 2010 - incluindo um 1 a 0 sobre a Alemanha, futura algoz argentina na Copa - Maradona chegou para a competição bem mais tranquilo. Apesar da campanha irregular nas Eliminatórias, a Argentina era vista como uma das favoritas ao título mundial, e o treinador tratou a imprensa de forma cordial durante as entrevistas na concentração em Pretória.

Ao contrário das farpas de Dunga dirigidas aos jornalistas e do regime totalmente fechado imposto nos treinos da Seleção, Maradona seguiu pelo caminho inverso. Abriu a maioria das atividades da Argentina e até liberou o sexo na concentração - fato ironizado pelo técnico brasileiro, que argumentou que "nem todo mundo gosta".

Dentro de campo, os dois treinadores também tomavam rumos diferentes. Na primeira fase, o Brasil só teve uma atuação convincente: a vitória por 3 a 1 sobre a Costa do Marfim, na segunda rodada. Os 2 a 1 sobre a Coreia do Norte na estreia e o empate sem gols contra Portugal não animaram em nada a torcida, mas os resultados garantiram a liderança do Grupo G.

Enquanto isso, a Argentina era apontada como uma das sensações do Mundial. Em três partidas no Grupo B, três vitórias sobre Nigéria, Coreia do Sul e Grécia. Porém, chamava a atenção a fragilidade da defesa, exposta pelo esquema tático ofensivo de Maradona. Nas oitavas de final, o time passou pelo México por 3 a 1, enquanto o Brasil encontrou ainda menos dificuldades contra o Chile: 3 a 0.

Então, vieram as quedas. A sétima derrota de Dunga no comando da Seleção aconteceu em 2 de julho de 2010, para a Holanda, de virada, por 2 a 1. A sétima derrota de Maradona veio no dia seguinte: perdido na defesa, o time argentino foi massacrado pela Alemanha por 4 a 0. A passagem do ex-volante pelo comando do Brasil se encerrou com números expressivos, mas uma derrota crucial; a do "Deus" argentino pode ter acabado de terminar da mesma maneira.

» Confira todos os jogos de Dunga à frente da Seleção Brasileira

» Confira todos os jogos de Maradona à frente da Argentina

Compare os números de Dunga e Maradona à frente de Brasil e Argentina

Jogos
Dunga: 68
Maradona: 25

Vitórias
Dunga: 49
Maradona: 18

Empates
Dunga: 12
Maradona: 0

Derrotas
Dunga: 7
Maradona: 7

Gols marcados
Dunga: 144 (média de 2,11 por jogo)
Maradona: 49 (média de 1,96 por jogo)

Gols sofridos
Dunga: 45 (média de 0,66 por jogo)
Maradona: 31 (média de 1,24 por jogo)

Aproveitamento
Dunga: 77,9% (159 pontos de 204 disputados)
Maradona: 72% (54 pontos de 75 disputados)

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Derrota por 4 a 0 para a Alemanha pode ter dado fim à passagem de Maradona pelo comando da Argentina
Derrota por 4 a 0 para a Alemanha pode ter dado fim à passagem de Maradona pelo comando da Argentina
Foto: Reuters
Fonte: Terra
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