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Copa do Mundo

Para viúva, Brasil perdeu Copa de 50 porque não levou Leônidas

12 mai 2010 - 17h35
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Alex Mirkhan
Direto de São Paulo

Dois anos antes da Copa do Mundo de 1950, disputada no Brasil, o corte do lendário atacante Leônidas da Silva pelo técnico Flávio Costa mudou para sempre o destino do futebol nacional, que só ganharia a fama de "melhor futebol do mundo" oito anos depois. Esta é a opinião da viúva do ex-atacante, conhecido como "Diamante Negro", Albertina Santos, e de muitos de seus contemporâneos. O próprio Leônidas havia previsto o insucesso brasileiro um ano antes daquela fatídica derrota de 2 a 1 para o Uruguai, em pleno Maracanã, episódio conhecido como Maracanazzo.

Companheira de Leônidas desde 1956, Albertina, 82 anos, era muito jovem quando conheceu o já aposentado ídolo dos anos 30 e 40 e lamenta não tê-lo visto jogar profissionalmente. Porém, sabe muito bem o ressentimento que o ex-atacante, morto em 2004, guardava por não ter sido convocado para o seu terceiro Mundial (disputou em 34 e 38). "Naquela Copa de 50 o técnico Flávio Costa não convocou ele (Leônidas) e o Brasil perdeu por causa disso. Não sou eu quem está falando, mas sim o pessoal da época, porque ele ainda jogava muito bem", afirma Albertina, em entrevista ao Terra.

Um dos primeiros ícones do futebol brasileiro, expoente negro neste esporte ao lado de Domingos da Guia, Leônidas já havia feito história pela Seleção ao ter marcado o único gol brasileiro na Copa de 34 e por sagrar-se artilheiro e melhor jogador da Copa de 38. A fama de goleador e as suas incríveis jogadas, como a famosa bicicleta que inventou, o credenciavam como forte candidato à equipe que disputaria o Mundial em solo brasileiro, apesar de seus 36 anos à época.

O próprio Leônidas manifestou indignação com o que considerava "regionalismo notório" do então técnico da Seleção, o carioca Flávio Costa. No livro "O Diamante Eterno - Biografia de Leônidas da Silva", do jornalista André Ribeiro, aparecem protestos do atacante sobre o seu corte da Seleção em 1948 - segundo ele, injustificada - às vésperas do Sul-Americano que aconteceria no ano seguinte. A manchete do jornal O Mundo Esportivo, de 29 de abril de 1949, traz a afirmação indignada e profética de Leônidas: "Eu acuso! Com Flávio Costa o Brasil ganhará o Sul-Americano, mas perderá fatalmente a Copa".

Muito tempo depois, em 1998, com mais de 90 anos, Flávio Costa comentaria a mágoa que causou no atacante, em relato presente no livro de André Ribeiro. "Sei que fui sempre um cara muito autoritário. Leônidas talvez me veja até hoje como um carrasco, um sujeito que cerceou sua liberdade. Mas eu não vejo Leônidas assim. Vejo Leônidas pelas coisas que ele produziu e pelas satisfações que me deu. Confesso que na primeira vez que barrei Leônidas na Seleção em 1945, sabia que ele era melhor que Heleno de Freitas", confessou o ex-técnico, um ano antes de morrer no Rio de Janeiro.

Sombra de Pelé

Sem ter nova oportunidade de conquistar a Copa do Mundo, o artilheiro que fez história também em clubes como São Paulo e Flamengo, acabou vítima do sucesso da geração que seria campeã em 1958. Segundo Albertina, os jogadores anteriores a Pelé são relegados ao esquecimento também porque as partidas de futebol não eram televisionadas naquele tempo. "O futebol começou com Pelé", ironiza, antes de registrar seu protesto. "É como se não tivesse nada antes dele".

Devota até hoje aos encantos de Leônidas, Albertina gostaria de ver o talento de seu ex-companheiro ser eternamente celebrado pelo povo brasileiro. "Outro dia eu vi um almanaque de fotos de grandes jogadores brasileiros, que inclusive tem o Leônidas, mas fiquei muito chateada porque a primeira foto é a do Pelé dando uma bicicleta. Todo mundo sabe quem inventou aquela jogada e o que diziam sobre quem acertava, mesmo se fosse o Pelé. Diziam que aquela bicicleta era parecida com as de Leônidas".

Albertina Santos, viúva de Leônidas da Silva, guarda recordações dos tempos de glória do atacante
Albertina Santos, viúva de Leônidas da Silva, guarda recordações dos tempos de glória do atacante
Foto: Alex Mirkhan / Especial para Terra
Fonte: Especial para Terra
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