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Copa do Mundo

Vexame da Copa, França vê greve em treino e insultos a técnico

12 jul 2010 - 02h40
(atualizado às 17h47)
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Itália e Inglaterra, duas das favoritas que decepcionaram na Copa do Mundo de 2010, chegaram confiantes, mostraram pouco futebol e - no caso dos ingleses - tiveram também problemas fora das quatro linhas. Porém, o título de maior vexame do Mundial é incontestavelmente da França. O que dizer da seleção de Raymond Domenech? Além da total desorganização em campo, o time protagonizou papelões como boicote a treinos, briga do capitão com o preparador físico e ofensas ao técnico.

A baderna na equipe francesa foi tão grande que até o governo tentou intervir. A ministra dos Esportes, Roselyne Bachelot, viajou à África do Sul para conversar com os jogadores, alegando que "a reputação do país estava em jogo". O próprio presidente Nicolas Sarkozy convocou uma reunião com o ex-capitão Thierry Henry para tentar entender o que aconteceu no Mundial.

O fato é que a França era um time rachado sob o comando de Domenech. O técnico, que nunca foi unanimidade e só ficou na seleção porque conseguiu o vice-campeonato mundial em 2006, não tinha controle sobre o elenco - e a situação explodiu na África do Sul, com motins e xingamentos.

Os primeiros sinais

Mesmo antes de a Copa começar, já era possível notar que algo não ia bem na França. O time se classificou para o torneio de modo polêmico, com um gol de Gallas diante da Irlanda em que Henry ajeitou intencionalmente a bola com a mão antes de dar o passe para o zagueiro. Os irlandeses até pediram a remarcação da partida e depois pleitearam uma inédita 33ª vaga no Mundial, mas a Fifa negou.

Na preparação da seleção em Tignes, nos Alpes franceses, mais bizarrices indicaram que o time não vinha mesmo em boa fase. Primeiro, o volante Lassana Diarra, do Real Madrid, contraiu uma rara doença intestinal relacionada à altitude e precisou ser cortado da delegação, sem previsão de volta aos gramados. Depois, Gallas conseguiu a proeza de capotar um buggy enquanto passeava com os companheiros de time, mas não sofreu ferimentos sérios.

Veio o primeiro jogo na Copa, contra o Uruguai, e Domenech já fez das suas: deixou Henry no banco, passando a tarja de capitão para o lateral Evra. Em campo, um futebol sem criatividade, que parou na retranca dos sul-americanos, e um empate por 0 a 0. Após a partida, a crise que se abateria com força total sobre os franceses já dava seus primeiros sinais: Ribéry e Evra, dois dos líderes do grupo, reclamaram do jovem meia Gourcuff, "queridinho" da torcida, acusando-o de não interagir da mesma forma com todos os companheiros. Um acesso de ciúmes que se transformou em boicote quando os atletas aparentemente decidiram não passar mais a bola ao jogador do Bordeaux.

Derrotas e crise nos bastidores

Na segunda partida do Mundial, contra o México, Gourcuff foi fazer companhia a Henry no banco de reservas. Ainda menos inspirada, a França pouco ameaçou o adversário e saiu incontestavelmente derrotada por 2 a 0. O resultado negativo, que deixou o time à beira da eliminação na primeira fase, foi o estopim para a crise estourar.

O primeiro capítulo foi o corte do atacante Anelka da delegação. O jogador havia insultado Domenech com palavrões após saber que seria substituído no intervalo do jogo contra os mexicanos, e teve que voltar mais cedo para casa. Os atletas ficaram irritados com a exclusão do companheiro, e o capitão Evra chegou a dizer que havia um "traidor" no grupo francês.

A situação ficou insustentável no treinamento do domingo seguinte. Antes da atividade, Evra se desentendeu e quase trocou agressões com o preparador físico Robert Duverne. Os jogadores, então, se reuniram e decidiram que não iriam treinar, deixando a comissão técnica atônita. O diretor da Federação Francesa de Futebol, Jean-Louis Valentin, pediu demissão após o episódio.

Acusados de liderar o motim, Evra e Abidal ficaram de fora do jogo decisivo contra a África do Sul. Gourcuff, porém, voltou ao time - e foi expulso ainda no primeiro tempo, após acertar uma cotovelada em Sibaya. Os sul-africanos abriram 2 a 0 no placar e a França só não repetiu a vergonha de 2002, quando foi eliminada sem marcar sequer um gol, porque Malouda saiu do banco para diminuir. Logo Malouda, que teria reclamado da reserva após o primeiro jogo contra o Uruguai...

Depois do apito final, uma cena simbolizou o total caos do time francês na Copa: o técnico da África do Sul, Carlos Alberto Parreira, foi cumprimentar Domenech, que se recusou a dar a mão para o colega. Depois, Domenech alegou que Parreira havia criticado sua equipe - fato negado pelo técnico brasileiro, que ficou sem entender nada. Um final ridículo e melancólico, assim como a passagem dos campeões mundiais de 1998 pelo continente africano.

Futebol vira caso de Estado

A ministra francesa dos Esportes, Roselyne Bachelot, já havia viajado à África do Sul após o episódio do treino cancelado para falar com os jogadores da seleção. Depois da eliminação precoce, ela foi além e disse que "os responsáveis teriam que assumir as consequências " pela participação desastrosa do país na Copa do Mundo.

Quando a delegação voltou para a França, o papelão no Mundial realmente virou caso de Estado. Domenech e Jean-Pierre Escalettes, presidente da Federação Francesa de Futebol que renunciou ao cargo após a eliminação, prestaram depoimento na Assembleia Nacional do país. O técnico culpou a imprensa pela crise na seleção. O presidente francês Nicolas Sarkozy também interveio, convocando uma reunião com Henry para "esclarecer" os motivos do vexame.

As intromissões do governo no futebol francês provocaram críticas do presidente da Fifa, Joseph Blatter, que ameaçou até punir a Federação Francesa em caso de uma interferência mais séria. Como já era previsto antes da Copa, Domenech saiu do cargo de treinador, deixando para o ex-zagueiro Laurent Blanc, campeão em 1998, a árdua missão de reestruturar o futebol francês.

Cisse e Diaby lamentam o vexame da seleção da França, eliminada logo na primeira fase
Cisse e Diaby lamentam o vexame da seleção da França, eliminada logo na primeira fase
Foto: Reuters
Fonte: Terra
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