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Copa São Paulo

Javari vira palco de festa haitiana em estreia da Copinha

Dezenas de haitianos foram à Mooca acompanhar a estreia do Pérolas Negras, única equipe internacional da Copa São Paulo

4 jan 2016 - 13h21
(atualizado às 13h22)
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Foto: Eric Akita / Terra

Nada é mais diferente do que acompanhar uma partida na Rua Javari. Na contramão das grandes arenas de Perdizes e Itaquera, o estádio do Juventus é um templo do futebol mais tradicional e humilde de São Paulo. Sua torcida, que acompanha o jogo abraçada à grade, costuma exaltar as origens do seu bairro e o "ódio ao futebol moderno", que distancia o torcedor do time que ama.

O cansaço pós-festas não desanimou quem pretendia acompanhar a partida no primeiro domingo do ano. O pequeno estádio da Mooca logo ficou cheio de torcedores (cerca de 3 mil) que foram ver a estreia do Moleque Travesso (apelido do Juventus) na competição. Mas não foram só juventinos que deixaram suas casas para ir ao jogo. Dezenas de haitianos que moram no Brasil também foram ao estádio para apoiar, provavelmente pela primeira vez, o futebol de um time do seu país.

A Academia de Futebol Pérolas Negras, time haitiano formado graças ao apoio da ONG brasileira Viva Rio após os terremotos que devastaram o país em 2010, tem como objetivo trazer esperança a jovens de Porto Príncipe através do futebol e foi o convidado internacional desta edição da Copa São Paulo de Futebol Júnior, que contou na edição passada com a presença do Kashiwa Reysol, do Japão.

Bebeto marcou, de pênalti, o gol dos Pérolas Negras
Bebeto marcou, de pênalti, o gol dos Pérolas Negras
Foto: Eric Akita / Terra

Não se sabe se o barulho e a alegria para torcer vieram com eles de Porto Príncipe, a capital do país caribenho, ou se aprenderam aqui no Brasil, mas logo a parte da arquibancada que acolhia os haitianos tornou-se a mais barulhenta do estádio, chamando a atenção não só da imprensa ali presente, mas de outros torcedores que acompanhavam o jogo. Assim, sem divisões do torcedor mandante com o visitante, tanto haitianos quanto brasileiros puderam fazer uma bonita festa para os meninos em campo.

Falando em campo, nele o Juventus mostrou amplo domínio sobre os haitianos no primeiro tempo e foi quem abriu o placar com gol do atacante China. A torcida haitiana nem pareceu ter sentido o baque e começou a gritar "olé" para cada passe e drible (sim, eles mostraram habilidade) dos seus conterrâneos.

A festa na arquibancada pareceu ter motivado os jogadores na volta para o segundo tempo e o Pérolas Negras conseguiu fazer pressão no Juventus. Logo no começo da etapa complementar o time conseguiu mandar uma bola no travessão. Bebeto, que tem esse nome em homenagem ao brasileiro campeão do mundo em 1994, converteu o pênalti e marcou o único gol do Pérolas. A essa altura, o barulho vindo da "arquibancada haitiana" já era maior que das organizadas juventinas atrás dos gols.

Francy Pierre se destacou entre os jogadores haitianos e chorou após o fim da partida
Francy Pierre se destacou entre os jogadores haitianos e chorou após o fim da partida
Foto: Eric Akita / Terra

Além dos cantos em criolo, língua oficial do país caribenho, que exaltavam tanto ao país como também a Jesus, logo vieram as broncas à arbitragem, este em muito bom português. Os brasileiros que escolheram torcer pelo Pérolas Negras na tarde deste domingo aumentaram o tom para reclamar dos impedimentos marcados contra os jovens haitianos. A poucos metros da grade, o bandeirinha teve que aguentar os gritos dos torcedores mais exaltados que, com bom humor, o chamaram de "caseiro" e "vendido por esfihas", em referência ao tradicional restaurante localizado na rua do estádio.

Quem caiu nas graças destes torcedores mais inflamados foi o pequeno camisa 15 do Pérolas, Frandy Pierre, que mostrou habilidade nas arrancadas, arriscou dribles mais ousados e chegou a ser chamado de “Neymar de Porto Príncipe". Mas nem a habilidade do garoto foi capaz de evitar o segundo gol juventino, marcado por Tiago, que decretou a vitória para o time da casa.

Por mais clichê que seja, ninguém saiu infeliz da Javari neste domingo. A organização da Copa São Paulo foi muito feliz em ter escolhido a Javari como casa do Pérolas Negras na primeira fase da competição. Fundado por imigrantes italianos a mais de 90 anos, o Juventus agora entraria na história destes haitianos, que, assim como os mooquenses de quase um século atrás, encontraram no Brasil uma chance de recomeçar sua vida.

Fonte: Terra
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