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Copa do Mundo

Beleza do jogo do Brasil esteve na arte; hoje está na força

29 jun 2010 - 23h58
(atualizado em 30/6/2010 às 02h22)
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Jere Longman
Direto de Johannesburgo

Que outros se queixem da falta de beleza. Dunga, o técnico da Seleção Brasileira de futebol, só está preocupado com a vitória. A Copa do Mundo, afinal, é um torneio de futebol. O objetivo é conquistar mais uma taça para a sala de troféus, e não pendurar na parede a foto de uma bela jogada.

Gilberto Silva abraça Ramires após gol do Brasil
Gilberto Silva abraça Ramires após gol do Brasil
Foto: Reinaldo Marques / Terra

Com sua dependência usual de jogadas de bola parada e contra-ataques fulminantes, o Brasil derrotou o Chile decisivamente por 3 a 0, domingo, no estádio Ellis Park. Em busca de seu sexto título na Copa do Mundo, a Seleção conseguiu a classificação para as quartas de final, nas quais enfrentará a Holanda na sexta-feira.

Se o Brasil já não joga futebol em ritmo de samba, e se o seu ataque ocasionalmente parece precário ou nada entusiasmado, a Seleção ainda assim continua formidável, com uma defesa atlética e impiedosa, e momentos de brilho individual em quantidade suficiente para despertar lembranças do jogo bonito do passado, e nos fazer lamentar sua ausência.

A vitória do Brasil na segunda-feira foi a mais impressionante que a equipe de Dunga conquistou até agora. Apresentou estilo vistoso que caracterizavam o passado de um futebol mais elegante. Mas a partida envolveu essencialmente uma imensa demonstração de garra e esforço físico, para manter sob controle o insinuante ataque chileno, roubar bolas e partir em rápidos contra-ataques na direção oposta.

"Já dissemos que, em jogos de Copa como esse, o objetivo é a classificação para a fase seguinte, e por isso precisamos jogar no ataque, com um futebol aberto", disse Dunga. "É o que todo mundo deseja ver".

Aos 35 minutos do primeiro tempo, o escanteio batido por Maicon chegou ao meio da área e foi convertido em gol por uma cabeçada do zagueiro Juan, cuja única marcação provinha de seus colegas de time também ansiosos por arrematar ao gol chileno, e não dos zagueiros. Juan acertou uma cabeçada forte e precisa, a cerca de dez metros do gol, e a tentativa do goleiro chileno Claudio Bravo para defender com a mão direita não chegou em tempo: Brasil, um a zero.

Passados três minutos, o Brasil voltou a marcar em um rápido contra-ataque. Maicon fez um passe longo que levou a bola ao meio-de-campo, e Kaká passou para Robinho, que avançava desmarcado pela esquerda, recebendo a bola de volta na entrada da área e servindo Luís Fabiano com um passe perfeito na grande área. A linha de impedimento chilena falhou, e o centroavante brasileiro driblou o goleiro que tentava sair do gol e só tocou para o arco vazio, marcando seu terceiro gol em quatro partidas e dando ao Brasil a vantagem por 2 a 0.

Kaká não tem mais a presença dominante que fez dele o melhor jogador do mundo na opinião da Fifa, em 2007, mas está ganhando ritmo lentamente na Copa, depois de uma temporada prejudicada por lesões no Real Madrid. Depois de ficar de fora da equipe na terceira partida da fase de grupos devido a uma suspensão, ele voltou ao time com passes precisos que servem para alimentar o poderoso contra-ataque brasileiro.

Mas precisa prestar atenção à disciplina, depois de receber seu terceiro cartão amarelo em quatro partidas.

"Sim, isso é um problema", disse Dunga, irritado. "Os jogadores mais técnicos são punidos e aqueles que sempre cometem faltas passam em branco. Isso é lamentável".

O terceiro e último gol brasileiro surgiu aos 14 minutos do segundo tempo, quando o meio-campista Ramires roubou uma bola no meio de campo, driblou abrindo caminho por todo o campo chileno e fez um passe preciso, dentro da área, para Robinho, que chutou colocado no canto direito, com precisão, desviando a bola de Bravo. Brasil, 3 a 0.

Se o Brasil nem sempre é brilhante, uma das características da Seleção sempre foi sua ampla disponibilidade de talento e a versatilidade de seus jogadores. Elano, que marcou dois gols e fez uma assistência nas partidas da fase de grupos, e Felipe Melo estavam de fora do meio de campo titular devido a lesões. Mas suas ausências não prejudicaram muito o time.

Ramires havia jogado apenas 15 minutos nas três primeiras partidas brasileiras, mas demonstrou eficiência impiedosa no terceiro gol da partida da segunda-feira. O outro reserva a entrar no time na segunda foi o enérgico Daniel Alves, ou seja, o lateral direito titular do Barcelona.

Antes do jogo da segunda-feira, Dunga defendeu o estilo de jogo adotado por seu time. Isso é algo que parece ocorrer todos os dias, mais ou menos como fazer a barba. Os jogadores brasileiros que conquistaram os títulos de 1958, 1962 e 1970 são lembrados com grande afeto, também por efeito do tempo, e pelo polimento que a edição em vídeo de melhores momentos de um jogo oferece ao seu talento, ou pelo menos é essa a opinião de Dunga.

"Os vídeos só mostram as melhores partes", diz Dunga. "Se tomarmos a atual Seleção Brasileira e mostrarmos apenas os seus melhores momentos, a torcida também vai vê-la como um time espetacular, Mas hoje as pessoas veem tanto os momentos negativos quanto os positivos".

Ele lembra constantemente aos repórteres que o futebol atual é diferente em termos de forma física, tática e pressão. Mas também reconhece que é um traço característico dos seres humanos pensar com carinho sobre o passado, e sabe que seu time também terá a chance de conquistar mais afeto com a passagem do tempo.

"Meu avô sempre dizia ao meu pai que o futebol da época dele era melhor, e meu pai me dizia a mesma coisa", afirma Dunga. "Digo ao meu filho que jogávamos melhor na minha época, e meu filho um dia dirá ao menino dele que o futebol de sua época foi o mais bonito".

Por enquanto, a beleza pode ser deixada um pouco de lado, em troca da determinação.

O Chile desenvolveu um estilo vistoso de ataque, sob o comando do técnico Marcelo Bielsa, conhecido como El Loco. É um modo de jogar que parece sempre deslizar no fio da navalha, entre a autoconfiança e a autodestruição. Na segunda-feira, o Chile teve experiência semelhante àquela pela qual passou ao enfrentar a Espanha: um esforço constante, mas fútil de ataque que deixava sua defesa exposta aos velozes contra-ataques adversários.

O atacante Humberto Suazo, artilheiro nas eliminatórias sul-americanas da Copa com dez gols, jogou pouco nos dois meses anteriores à Copa devido a lesões, mas começou a ganhar ímpeto durante o jogo. No entanto, nem ele e nem seus companheiros foram capazes de ameaçar a meta brasileira. O Chile na segunda-feira sofreu sua oitava derrota consecutiva diante do Brasil, com um total acumulado de 29 gols sofridos.

"A superioridade do Brasil foi demais para nós", disse Bielsa. "Não conseguimos segurá-los. Eles conseguiram aproveitar rapidamente cada falha surgida em nossa defesa".

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The New York Times
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