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Copa do Mundo

Dunga assume nervosismo do time e anuncia saída da Seleção

2 jul 2010 - 13h29
(atualizado às 18h43)
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Allen Chahad
Renato Pazikas
Direto de Port Elizabeth

Abatido, com fala mansa e sucinto. Foi assim que Dunga passou pela sala de entrevistas do Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth, após a eliminação da Seleção Brasileira nas quartas de final da Copa do Mundo da África do Sul. Nas respostas das sete perguntas feitas nesta sexta-feira, o treinador tentou explicar o nervosismo da equipe no segundo tempo e confirmou que deixará o cargo.

"Quanto ao meu futuro, já se sabe bem quando eu cheguei na Seleção que eram quatro anos que eu ia ficar", disse o treinador após a derrota de virada para a Holanda, por 2 a 1.

A equipe fez um bom primeiro tempo e parecia caminhar para a classificação. Mas, no segundo tempo, se desintegrou em campo após levar o empate num gol contra de Felipe Melo, que viria ainda a ser expulso depois de pisar em Robben. Os jogadores estiveram então irreconhecíveis.

"Não conseguimos manter a mesma concentração, a mesma forma de jogar do primeiro tempo. Sabíamos que numa Copa do Mundo são 90 minutos, são decididos em detalhes. Infelizmente não conseguimos nosso maior objetivo, que era ser campeão do mundo", afirmou.

"Muitos jogadores olham essa Copa do Mundo, viam essa Copa do Mundo, como a grande oportunidade na vida de cada um de fazer a sua história dentro da Seleção Brasileira. Então, com isso, acaba acontecendo o nervosismo", explicou.

Dunga preferiu assumir a responsabilidade e poupou o volante Felipe Melo. "Como comandante, acho que a culpa é de todos nós. Lógico que eu a maior parte. Mas seria injusto eu falar alguma coisa do Felipe, porque quando nós ganhamos, ganhamos todo mundo. Não foi a primeira vez que um jogador foi expulso dentro de uma Copa do Mundo, ou em uma partida. Então a responsabilidade é de todos", disse.

O treinador assumiu o comando da Seleção após a Copa de 2006. Nos últimos quatro anos, foi campeão da Copa América, em 2007, e da Copa das Confederações, em 2009, além de ter terminado em primeiro nas Eliminatórias Sul-Americanas. Ao total, ele comandou a Seleção em 60 jogos, com seis derrotas, 12 empates e 42 vitórias.

Confira a entrevista na íntegra:

Dunga, claro que há um grande desapontamento hoje. Por favor alguns comentários sobre o que aconteceu...

Dunga: Sem dúvida todos nós estamos muito tristes. Não esperávamos. Trabalhamos para obter um resultado diferente. Nós sabíamos que seria um jogo muito delicado e difícil. No primeiro tempo conseguimos uma melhora. E no segundo tempo não conseguimos manter a mesma forma de jogar do primeiro.

Na preparação da Seleção Brasileira até aqui à Copa você teve muitos acertos e méritos. Vitória sobre a Argentina em Eliminatórias, Copa América e Copa das Confederações. Nessa eliminação da Copa do Mundo, que erros você cometeu que redundaram nessa eliminação?

Dunga: Erro que... Não conseguimos manter a mesma concentração, a mesma forma de jogar do primeiro tempo. Sabíamos que numa Copa do Mundo são 90 minutos, são decididos em detalhes. Infelizmente não conseguimos nosso maior objetivo, que era ser campeão do mundo. Mas, como tu falaste bem, conseguimos resultados nestes quatro anos. Talvez o maior resultado foi o resgate de jogar com Seleção Brasileira. Se você entrasse no vestiário agora e visse a fisionomia do jogador, poderia entender melhor. Eu me sinto muito orgulhoso de ter estado à frente desse grupo de trabalho, com esses jogadores, com a dignidade que eles sempre se comportaram com a Seleção Brasileira.

Queria que você avaliasse a expulsão do Felipe Melo. O quanto isso prejudicou a Seleção Brasileira. O lance já havia ocorrido e ele foi lá e pisou no holandês, né? Numa atitude desnecessária e que, na minha visão pelo menos, prejudicou a Seleção Brasileira. Que naquele momento ia jogar com dez num momento decisivo de Copa, o que é complicado para qualquer seleção...

Dunga: Jogar com um jogador a menos em uma Copa do Mundo, com jogadores de qualidade da outra parte, sempre dificulta mais, né? Mas desde o início do jogo e no intervalo nós comentamos que o juiz estava sendo bastante pressionado. E algumas faltas que não eram ele estava marcando. Eu tive que trocar o Michel (Bastos) porque havia levado o cartão amarelo em um lance que nem falta foi. Não é desculpa. Mas é uma coisa que acontece e nós gostaríamos que não acontecesse. E que fosse diferente. Mas só quem estava lá dentro de campo pode ter uma noção melhor.

Dunga, na cobertura da Seleção nós observamos uma série de mudanças. Mudança de comportamento, de tratamento da comissão técnica com a imprensa e enfim... A partir do momento que nós somos eliminados de uma Copa do Mundo, como agora, você chama a responsabilidade para você como você chamou a responsabilidade de tudo que foi mudado no Brasil nessa caminhada até aqui?

Dunga: Sem dúvida. Sou o comandante da Seleção Brasileira e todas as decisões que eu tomei foram em prol da Seleção. De tudo que nós tínhamos que fazer, de ter privacidade, de treinar... Tudo que nós programamos foi feito. Respeito o trabalho da imprensa. Imprensa, imprensa. Seleção, Seleção. Nos momentos que eram colocados a vocês, todo mundo foi lá e atendeu à imprensa. No momento que podia olhar o treino, foi olhado. Não fizemos nada muito de muito diferente que as outras seleções fizeram aqui na Copa do Mundo.

Dunga, queria que você avaliasse como foi a parcela de culpa do Felipe Melo. E gostaria de pedir uma análise sua também sobre o desempenho do Gilberto Silva. E gostaria de saber sobre o futuro de sua carreira, e você já pensou.

Dunga: O desempenho do Gilberto Silva está aí. Se você pegar as estatísticas da Fifa, ele sempre foi um dos jogadores mais regulares até o momento. Como comandante, acho que a culpa é de todos nós. Lógico que eu a maior parte. Mas seria injusto eu falar alguma coisa do Felipe, porque quando nós ganhamos, ganhamos todo mundo. Não foi a primeira vez que um jogador foi expulso dentro de uma Copa do Mundo, ou em uma partida. Então a responsabilidade é de todos. Quanto ao meu futuro, já se sabe bem quando eu cheguei na Seleção que eram quatro anos que eu ia ficar.

O Brasil perdendo por 2 a 1, o Felipe Melo é expulso, você fez a opção do Nilmar no lugar do Luís Fabiano e encerrou por aí as substituições. Não havia opção, no seu entender, de fazer uma terceira substituição capaz de modificar, ou tentar modificar, a situação do Brasil?

Dunga: Com um a menos fica difícil... Tentei colocar um jogador de mais velocidade, para se juntar com o Kaká e o Robinho, que eram (também) de velocidade. Já que o Daniel teve que fechar mais pelo meio e ficar perto do Gilberto Silva. E às vezes você trocar faltando cinco ou dez minutos não é algo que possa resolver muita coisa. Até jogador entrar na partida, entrar na dinâmica da partida, se leva mais tempo.

Dunga, por favor. Você foi um vencedor nesta Seleção tantas vezes que talvez você tenha não se preparado para uma virada, uma derrota. Vimos o time nervoso. Estava também um pouco agitado, claro, estava atrás (no placar). Você acha ou admite que o time ficou nervoso com a virada ou a adversidade talvez?

Dunga: Primeiro que ninguém prepara um time para perder, prepara um time sempre para ganhar. Tenta motivar os jogadores a buscar o resultado. É lógico que esse nervosismo veio pelo fato de o adversário virar. E, com o comprometimento que esses jogadores vinham tendo... Se você pegar a história da Seleção, poucas vezes você uma Seleção ficou 52 dias sem folga, sem nada, e ninguém reclamar. Poucas vezes você viu uma Seleção Brasileira ficar 52 dias, e não foi a primeira vez, sem ter uma polêmica. As coisas transcorreram normalmente como tem que ser, com muita transparência. E, aí, é óbvio que muitos jogadores olham essa Copa do Mundo, viam essa Copa do Mundo, como a grande oportunidade na vida de cada um de fazer a sua história dentro da Seleção Brasileira. Então, com isso, acaba acontecendo o nervosismo. O time começa a querer acelerar o jogo, a fazer as coisas, muita falta, muito truncado, cada falta demorava dez, vinte ou trinta segundos para dar seguimento. O juiz dava explicação porque dava falta, porque não, apitava para lá e para cá. Isso acaba fazendo com que o jogador fique nervoso durante o jogo.

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Desolado, Dunga dá adeus à Copa do Mundo e ao sonho do hexa brasileiro
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Foto: Getty Images
Fonte: Terra
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