Único titular branco, zagueirão sul-africano é ídolo da torcida
Allen Chahad
Direto de Johannesburgo
Quando a seleção sul-africana entra em campo e se alinha para a execução do hino nacional, uma imagem destoa. Lá estão dez jogadores negros e apenas um branco. Aliás, um gigante branco. Abraça os companheiros e canta a canção da pátria com ar de orgulho.
Matthew Booth, 32 anos, é do tipo beque de fazenda. "Bola para o mato, que o jogo é de campeonato". Não brinca em serviço. Sabe qual é a sua função e faz com determinação: destruir as jogadas adversárias.
E é de dar medo. É "apenas" o jogador mais alto da Copa das Confederações, com 1,98m. Neste domingo, às 11h (de Brasília), vai ter um curioso encontro com o Iraque, seleção do atleta mais baixo da competição - Basem Abbas, de 1,65m.
Além de Booth, apenas mais um jogador branco no elenco sul-africano - o goleiro reserva Rowen Fernández. Por quê? No país sede da Copa do Mundo de 2010, futebol é esporte dos negros. Os brancos jogam rúgbi ou críquete.
Na África do Sul não se pode misturar as bolas. O apartheid - nome dado ao regime de segregação racial finalizado apenas em 1994 - deixou marcas ainda muito frescas no cotidiano do país.
E, como Booth é uma exceção, pode parecer vítima de discriminação racial para os desavisados. Toda vez que vai tocar na bola durante o jogo, os torcedores fazem um barulho parecido com uma vaia.
"Eles estão protestando contra o número 14?", perguntam. "Não, ele é ídolo aqui. Estão gritando o nome dele". Explicação necessária. A pronúncia do nome de Booth em inglês fica algo parecido com "Buuuuu!". Agora imaginem um estádio inteiro gritando...
E é ídolo mesmo. Existem outdoors de patrocinadores com foto dele fazendo um belo voleio. Quando o lance em campo é mais marcante, como por exemplo um chutão na bola para a arquibancada, o "Buuuuu!" é seguido por aplausos.
Ainda amador, por ser o único branco do time que jogava, Booth ganhou o apelido de "Filho de Fiela" - referência a um romance tradicional na África do Sul de uma família negra que adota uma criança branca abandonada.
O defensor disputou a Olimpíada de Sydney-2000 com os Bafana-Bafana. Já jogou no futebol russo, mas atualmente defende o Mamelodi Sundowns no seu próprio país. Fora de campo, chama atenção por ser casado com Sonia Bonneventia, ex-miss, com quem tem dois filhos.