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Dirigente do Flu e criador do Footlink, Angioni defende debates no futebol

23 jul 2014 - 18h56
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Se nas pesquisas eleitorais o desejo de "mudança" é facilmente captado, o mesmo pode ser dito para a fase atual do futebol brasileiro, representado por sua maior entidade, a CBF. Para discutir temas pertinentes ao "ex-esporte bretão", como diria Nelson Rodrigues, Paulo Angioni, diretor executivo de futebol do Fluminense, promove uma série de encontros. Ele falou com exclusividade ao LANCE!Net e apontou a dificuldade de promover as desejadas mudanças e novidades.

- Tudo começou na Bahia, quando contratamos um treinador. Vi o quanto as coisas eram complicadas quando se investe em uma pessoa nova, que não é aquela costumeira do mercado. Já havia ouvido em algumas ocasiões que a direção do clube está "apostando" em fulano. Esse termo foi me incomodando a tal ponto que esse profissional que nós contratamos acabou ficando pouco tempo. Não só pelos resultados, mas muito mais por ser uma pessoa que não era aquela costumeira de mercado. Entendemos, eu e um outro profissional jovem, chamado Eduardo Barroca, que devíamos discutir esse assunto com um pouco mais de profundidade e criamos uma forma de agrupar pessoas para discutir mais aprofundadamente esse tema sobre "o novo". Criamos um slogan chamado "o novo não é aposta" - explicou Angioni.

O Footlink, criado pelo dirigente tricolor com ajuda de Eduardo Barroca e Carlos Brazil, conta com edições mensais. A última ocorreu no dia 14 deste mês e a próxima está programada para o dia 11 de agosto, um domingo. Grandes nomes do esporte e da imprensa esportiva são convocados para participar e debater ideias.

- Encontramos temas que são assuntos de discussão do futebol no seu cotidiano e fazemos um evento a cada mês para discutir, exatamente com profissionais ligados ao tema, com a plateia sempre participando no final. O diferencial desses eventos é compartilhar com as pessoas ligadas à mídia. Temos sempre profissionais da área de imprensa - não só televisiva, como de rádio e de jornal. Esses são os eventos que temos feito e tido muito sucesso no que viemos discutindo. Acaba sendo muito atual para o momento que o futebol vive, que é um momento de profunda reflexão, especificamente o (futebol) brasileiro. Todos os nossos eventos são muito ligados ao nosso futebol. A gente entende que deve ter uma discussão bastante aprofundada - prosseguiu o dirigente.

Recentemente, a Seleção Brasileira, dentro de casa, sofreu duas dolorosas goleadas nos dois últimos jogos que disputou na Copa do Mundo: 7 a 1 para a Alemanha, na semifinal, e 3 a 0 para a Holanda, na disputa pelo terceiro lugar. Antes da competição se iniciar, o técnico Luiz Felipe Scolari garantiu que a equipe alcançaria o hexacampeonato, o que gerou enorme expectativa de todas as partes. Para Paulo Angioni, não vencer o Mundial é algo natural. O problema, porém, é que em momento algum se trabalha com a possibilidade de não vencê-lo.

- Temos conceitos, caminhos a seguir para que não tenhamos surpresas. Perder uma Copa do Mundo é uma coisa natural, porque compete-se com países de excelência. Perder no Brasil, talvez, não fosse tão natural em função de um histórico de favoritismo e de um histórico ruim de 1950, que tinha uma necessidade maior de ser suplantado. Mas trabalhamos sempre no sucesso. Nunca admitimos o insucesso. Por que não trabalhar também a possibilidade de perder, que pode acontecer? Quais são os prejuízos que isso vai causar? Vamos nos preparar também para enfrentar uma adversidade caso ela venha a acontecer - disse, propondo ideias, e concluindo o raciocínio com mais sugestões de debates:

- Tínhamos (nesta Copa) Colômbia, Equador, Argentina, Uruguai e Chile. Eles se preparam para estar lá. Aqueles resultados que 15 anos atrás víamos com naturalidade, de ganhar de sete, oito, não existem mais há muito tempo. E o que a gente fez nesse sentido? Eles melhoraram muito. Será que nós melhoramos o suficiente? Acho que essas discussões é que o futebol brasileiro precisa ter. Acho que o futebol brasileiro precisa se reinventar no que se relaciona a estudo.

Ferrenho defensor de discutir ideias antes de fazer julgamentos sobre profissionais contratados, Angioni defende a clara exposição do que se espera, por exemplo, do perfil de um treinador quando um clube está próximo de nomear alguém para tal função. A não clareza dessa informação gera as críticas - na maioria das vezes injustas - a respeito de um profissional:

- Costumo dizer que antes dos homens a gente precisa ter ideias. Ao (profissional) chegar, devem esperar o resultado para determinar o valor, e não determinar o valor antes do resultado chegar. Acredito que o ideal é que não botássemos desconfiança na chegada. Vou dar um exemplo: quando há possibilidade de saída de um treinador, como aconteceu agora com o Felipão, vários treinadores são especulados. Ao serem especulados, os nomes passam por uma crítica sem que algum tenha sido escolhido. Lamentavelmente discutimos os homens antes das ideias, antes das diretrizes, antes do que queremos.

Resumidamente, o diretor executivo de futebol do Fluminense e um dos criadores do FootLink crê na necessidade de trabalhar em dois planos: do sucesso e do fracasso, preparando-se para as duas possibilidades. O futebol deve sair do imediatismo, pois se faz necessário o olhar a médio-longo prazo para traçar uma estratégia vencedora:

- A minha grande discussão é que temos que olhar para frente. Temos que olhar o sucesso e o insucesso, e ver de que forma vamos nos conduzir nos dois momentos. Mesmo ganhando alcançando o objetivo, somos obrigados a discutir tudo o que aconteceu nessa trajetória. Não é por ter conquistado que não tem que olhar para trás. Tem que olhar para dar o passo seguinte.

Fonte: Lancepress! Lancepress!
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