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Do "gato" a surras de jogadores na Coreia: lembre carreira de Sandro Hiroshi

29 jul 2011 - 15h55
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Gustavo Antonio

O ano de 1999 foi feito de extremos para Sandro Hiroshi. Depois de destacar-se pelo Rio Branco no Campeonato Paulista e angariar uma transferência ao São Paulo, o jogador viu a ascensão ser interrompida bruscamente - e a vida virar um "inferno" - pela descoberta de que havia adulterado idade, situação conhecida popularmente no futebol como "gato".

Doze anos depois, Sandro Hiroshi mostra-se resignado com o rumo que a carreira tomou após aquele período turbulento. Aos 31 anos, ele ainda pretende jogar por mais algumas temporadas, mas diz estar satisfeito com a trajetória no esporte, que inclui, além do caso "gato", passagens apagadas por clubes como Flamengo, Guarani e América-RN e sucesso no futebol da Coreia do Sul, onde conviveu até mesmo com treinadores que, em busca de melhores resultados nos gramados, chegavam a agredir os jogadores.

"O que era para acontecer na minha carreira, aconteceu. Era para ser assim. Talvez se não tivesse aquele caso (da adulteração de idade), eu poderia ter seguido minha trajetória em uma crescente. Mas também poderia decair e não fazer sucesso. Não dá para saber. Mas não tenho do que reclamar", disse com serenidade o atacante, que disputou a Série A-2 do Campeonato Paulista pelo Red Bull e aguarda propostas de clubes para atuar no segundo semestre (chegou a ser cogitado no Sampaio Corrêa-MA e agora estuda ofertas para voltar ao futebol sul-coreano).

"O Caso Sandro Hiroshi"

Vice-artilheiro do Paulista de 1999, Sandro Hiroshi chegou ao São Paulo como um jogador promissor e não decepcionou, fazendo boas apresentações e marcando gols. Os problemas começaram quando o Tocantinópolis, time em que atuou até os 14 anos, exigiu do Rio Branco parte do dinheiro da venda do atleta ao clube do Morumbi.

O Rio Branco afirmava que, como Sandro Hiroshi havia chegado ao clube de Americana ainda juvenil, o Tocantinópolis não teria nada a receber. O time do Norte, então, entrou na Justiça e bloqueou o passe do jogador, o que não o impedia de entrar em campo, mas sim de ser negociado.

O Botafogo-RJ, que havia sido derrotado por 6 a 1 pelo São Paulo, aproveitou a confusão e reivindicou os três pontos daquele jogo, alegando que Sandro Hiroshi, autor de um gol contra os cariocas, atuou em situação irregular. A polêmica persistiu no decorrer do Campeonato Brasileiro, e, no fim da competição, o time carioca ganhou os pontos, livrando-se somente desta forma do rebaixamento.

Com a decisão, o Gama acabou rebaixado e entrou na Justiça comum, que deu ganho de causa ao time do Distrito Federal, definindo que a equipe deveria disputar a Série A do Campeonato Brasileiro do ano seguinte. Em resposta à decisão, a CBF deixou que o Clube dos 13 organizasse a competição nacional de 2000, o que fez surgir a Copa João Havelange.

Além de mudar a história do Campeonato Brasileiro na polêmica que ficou conhecida como "Caso Sandro Hiroshi", a briga entre Tocantinópolis e Rio Branco causou um estrago muito maior na vida do jogador. Em virtude do imbróglio, o jornal Folha de S. Paulo passou a investigar a carreira e a inscrição do atleta, descobrindo que, desde 1994, Hiroshi utilizava uma documentação falsa.

"O caso gato"

Sandro Hiroshi sabe que errou e assume inteiramente a culpa pela adulteração de idade. Mas ao mesmo tempo, o jogador evita martirizar-se pela atitude tomada aos 15 anos, quando, nas categorias de base do Rio Branco, alterou a carteira de identidade para poder disputar um campeonato.

"O Rio Branco não sabia de nada. A decisão foi minha, ninguém me segurava. Eu me arrependo, porque é algo errado, mas fui em busca do meu sonho e não medi as consequências", afirmou o jogador, nascido em 19 de novembro de 1979 (ela havia alterado a data de nascimento para 1980).

Com a divulgação da adulteração de idade, Hiroshi foi suspenso por 180 dias pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e viu-se em meio a um turbilhão de críticas, julgamentos e desconfiança.

"Foi difícil, pois era jovem, vinha atuando bem e, de repente, tive minha carreira interrompida por seis meses. Você se sente mal por estar sendo julgado por todos. Além disso, houve muito sensacionalismo, noticiaram que eu poderia ser banido do futebol. Sofri com problemas de auto-estima e com a perda de confiança, mas jamais pensei em parar. Lutei muito para ser profissional e não iria desistir".

Gratidão ao São Paulo

Nesse período de dificuldades, Sandro Hirsohi só não desanimou em virtude do apoio da família e do São Paulo, clube que pode contar com a gratidão eterna do jogador.

"O São Paulo me deu apoio, me tranquilizou. Quando aconteceu tudo aquilo, o clube me deu toda segurança, junto a minha família e aos próprios jogadores do time. Foi uma equipe muito marcante na minha carreira. É muito organizada", disse.

Após cumprir a suspensão, Hiroshi ainda conquistou o Campeonato Paulista de 2000 e marcou o gol do título do Super Campeonato Paulista de 2002 pelo São Paulo. Recentemente, em um fórum de um site de torcedores do clube, surgiu a campanha "Volta Sandro Hiroshi".

Ao ser informado, Hiroshi sorriu, mas mostra-se realista e considera difícil voltar ao Morumbi. "Hoje em dia não é fácil. O São Paulo é um time de jogadores jovens".

Surras de técnico em jogadores na Coreia do Sul

Depois de deixar o São Paulo, Sandro Hiroshi peregrinou por clubes como Flamengo, Figueirense (onde viveu boa fase), Al-Jazira (EAU) e Guarani antes de firmar-se no futebol sul-coreano, jogando por Daegu, Chunnam Dragons e Suwon Bluewings.

"Tive uma boa sequencia na Coreia do Sul e fui até artilheiro lá, o que não é uma característica minha. No começo, foi um pouco difícil, mas me adaptei rapidamente, entrei no ritmo deles e aprendi alguns costumes e um pouco do idioma", disse o jogador, que só lamenta ter presenciado agressões de técnicos a jogadores mais jovens.

"O treinador tinha o costume de exigir muito dos jogadores. Hoje é mais raro, mas tive a infelicidade de ver (agressões a jogadores). Davam socos e pontapés nos jogadores mais jovens. Acredito que isso não melhorava em nada o desempenho dos atletas. Futebol é alegria e o jogador precisar estar motivado por coisas boas", afirmou. "Mas que, depois de apanhar, os caras corriam pra caramba, isso corriam", brincou.

Fim de carreira no Rio Branco

De volta ao Brasil, Hiroshi atuou por América-RN, Santo André e Red Bull. À espera de um clube para atuar no próximo semestre, o jogador já tem um plano em mente. Jogar pelo Rio Branco, time em que apareceu para o futebol, antes de encerrar a carreira. Nem que seja de graça.

"Não penso em jogar muito mais tempo. Mas uma coisa que prometi é que, antes de parar, voltaria a jogar pelo Rio Branco. Sei que o clube passa por dificuldades (foi rebaixado para a Série A-3 do Campeonato Paulista), mas prometi jogar até de graça, sem receber salários. Não negociei nada oficialmente, mas já falei com pessoas ligadas ao clube. Talvez o Rio Branco me dê uma ajuda de custo só, mas o que interessa é retribuir o carinho dos torcedores de Americana", disse.

Sandro Hiroshi atuou no São Paulo de 1999 a 2002
Sandro Hiroshi atuou no São Paulo de 1999 a 2002
Foto: AFP
Fonte: Terra
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