Tradicional, Bangu volta à elite pensando em não cair mais
Houve um tempo em que o Campeonato Carioca era, de fato, composto por clubes da capital. Nesse cenário, Portuguesa, Bonsucesso, Madureira, Olaria, Campo Grande, São Cristóvão e América eram equipes de bairros tradicionais do Rio de Janeiro e incomodavam os chamados grandes, o que já não acontece mais há alguns anos. Um dos mais fiéis integrantes desse rol, o Bangu retorna animado à primeira divisão do Estado em 2009, mas tem consciência das limitações de quem esteve na segunda divisão por quatro temporadas. O clube alvirrubro estréia no Estadual neste sábado, fora de casa, contra o Mesquita
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"Temos um time homogêneo, sem estrelas. Nossa folha salarial é de R$ 60 mil. O objetivo do Bangu é manter-se na primeira divisão", afirma Jorge Varela, presidente do clube alvirrubro, crendo ainda que sua equipe possa ir até adiante. "Pelo que vejo dos outros, podemos ir um pouco mais longe", destaca, sem esquecer que o objetivo é permanecer na elite.
De acordo com Varela, a equipe montada por ele e pela comissão técnica do Bangu, conta com jogadores de identificação com o clube e dentro da realidade econômica em Moça Bonita. "Trouxemos quatro jogadores do Nova Iguaçu, dois do Quissamã - campeão da terceira divisão estadual -, três do Madureira, dois do Olaria e mais dois do Olímpia, de São Paulo. Subimos também alguns garotos dos juniores", aponta.
O momento atual do Bangu é natural para quem veio da segunda divisão, mas houve um tempo em que as coisas eram diferentes. Turbinado pelo dinheiro de Castor de Andrade, especialmente nos anos 60 e 80, o clube alvirrubro disputava o Campeonato Carioca medindo forças com os grandes. Entre 64 e 67, por exemplo, chegou em quatro finais consecutivas, vencendo uma e perdendo outras três. Em 1985, foi vice novamente - no Estadual e no Brasileiro.
"A gente passa aos jogadores que o Bangu é um grande do Rio de Janeiro. Estamos sempre lembrando essa responsabilidade a todos, mas a maioria já trabalhou aqui e já sabe disso" destaca Edson Souza, treinador da equipe que também defendeu como jogador em três diferentes oportunidades. A primeira delas, nos míticos anos 80, e a última na década atual, quando encerrou a carreira e virou técnico. Àquele momento, o clube já tomava o rumo que lhe levou para a segunda divisão.
"As coisas se deterioravam a cada ano. Não só no Bangu, mas no futebol carioca como um todo, e as pessoas não se atentavam para isso. Precisou chegar ao extremo, que é a segunda divisão. Aí as pessoas acordam", critica Edson Souza. Até hoje, o clube de Moça Bonita é o sexto colocado no ranking da Federação, da qual é um dos fundadores. O processo que derrubou o Bangu fez outra vítima: em 2009, o América, sete vezes campeão carioca, jogará a segunda divisão.
O crescimento de equipes do interior fluminense, apoiadas por prefeituras e grupos de empresários, redimensionou o cenário do Estadual e apresentou clubes como Mesquita, Resende e Cardoso Moreira, entre outros. Bem estruturados, eles pagam bons salários e, embora não formem clubes suficientemente fortes para brigar pelo título, atraem jogadores de nome como Viola e Júnior Baiano, por exemplo, e conseguem exposição na mídia.
"As prefeituras aproveitam o gancho que é o futebol para poder fazer o marketing de suas cidades. Como fazem para liberar essas verbas, eu não sei. O que pode acontecer é assumir outro prefeito, que não goste de futebol. Então como vai ficar o trabalho?", critica o presidente do Bangu, Jorge Varela. Segundo ele, falta os clubes cariocas menores se organizarem. "Precisamos mudar a gestão, modernizar, buscar uma profissionalização. Criar formas de captar recursos e criar uma estrutura. A prefeitura do Rio de Janeiro precisaria ajudar todos os clubes, o que é impossível", destaca.
Enquanto não se estrutura da maneira devida e não consegue captar recursos para ter, novamente, uma equipe forte, o Bangu aposta na base que veio da segunda divisão. "Mantivemos seis dos titulares", destaca o treinador Edson Souza, cujo atleta mais conhecido é Douglas Silva, titular da equipe campeã carioca de 2004 com o Flamengo . "O Campeonato Carioca será visto por mais de 100 países, eles precisam ter apetite e aproveitar essa oportunidade", completa, como quem assume ser um ex-grande do Rio de Janeiro.
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