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Grêmio segue nova filosofia e aposta alto na base

16 mar 2010 - 23h03
(atualizado em 17/3/2010 às 00h23)
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A conquista do hexa brasileiro pelo Flamengo ofuscou uma série de fatos. Em meio à festa da maior torcida do país, a atuação gremista na derrota por 2 a 1 ficou relegada muitos planos abaixo. Bombardeados por todos os lados nos dias que antecederam a partida por estarem decidindo o torneio e, caso vencessem, poderem dar o título ao Inter, o maior rival, os jovens gremistas mostraram dignidade, chegando a sair na frente no placar.

A decisão deles era outra. Com uma reformulação metodológica do departamento de futebol do clube, os dez jogadores com passagem pela base gremista que entraram em um Maracanã abarrotado de rubro-negros tinham a oportunidade de ganhar espaço entre os profissionais. Poucos meses se passaram, alguns partiram para longe. Outros garantiram um lugar no elenco principal em 2010.

Mesmo que o grande números de jogadores formados no clube presente em um jogo de grande dimensão tenha envolvido aspectos que vão além da qualidade técnica, o Grêmio dava um sinal do seu novo modo de gerir as categorias inferiores.

Paulo Autuori ficará lembrado como o técnico que não conseguia vencer fora do Olímpico. Porém, como o próprio treinador se define, ele é um homem de conceitos. Sua visão dentro do Grêmio era mais ampla do que os resultados dentro de campo, com uma campanha capenga no Brasileiro e uma eliminação na semifinal da Libertadores.

Autuori foi, mas deixou uma marca. O modo de pensar do treinador foi enraizado no Grêmio desde sua chegada, em maio de 2009, partindo do profissional até a categoria mais baixa da base.

Seu projeto no Grêmio ia além da curta visão do grande público. O treinador iniciou uma revolução na formação de jogadores. Mesmo que ele tenha retornado para o mundo árabe, seu estilo, suas diretrizes e seu projeto abrangente seguem sendo seguidos no Olímpico.

Junto com Autori, aportou no Olímpico uma gama de profissionais para atuar na base, realizando uma verticalização de conceitos, partindo do time principal e passando por todos os setores da base. Essa metodologia foi implantada e é coordenada por Edson Aguiar, homem de confiança de Autuori com grande vivência no exterior.

"Queremos criar uma educação futebolística. Uma educação para o futebol e, também, de um modo mais profundo, agregando alguns valores utilizados em qualquer lugar", explica Aguiar.

Graduado em duas áreas distintas da educação - Educação Física e Letras -, ele espera ir além dos ensinamentos técnicos e táticos com a aplicação dos métodos .

"É preciso ter uma sensibilidade grande. Nossa preocupação é formar um jogador inteligente dentro do esquema de jogo. Queremos mudar paradigmas", comentou.

O sistema não é estanque, principalmente nos níveis mais avançados, como os juniores, mas pretende-se padronizar o esquema 4-4-2 na base do clube. "É um trabalho de ideias. Não se perde a individualidade do treinador. Já troquei várias vezes de esquema. A ideia é dar o entendimento de todas as posições", comenta Andrey Campos, técnico do time júnior.

O conceito aplicado neste sistema tático é a "pureza" das posições. Dessa maneira, na visão do trabalho implantado, o jovem terá o conhecimento da forma de jogo que possui maiores variações, podendo se adaptar com maior facilidade em outras formatações.

"Queremos melhorar a qualidade no aspecto da inteligência tática voltada para um padrão de jogo. Priorizamos a qualidade em cima de critérios e números", explica Aguiar.

O dinheiro

O trabalho também toca em questões polêmicas. A atual gestão da base chegou com 250 garotos espalhados por todas as categorias. Após rigorosa seleção, 100 tiveram que tentar realizar o sonho de ganhar a vida chutando uma bola em outro lugar.

Trabalhando com uma quantidade menor de jovens, a intenção é poder dar mais atenção para cada um deles dentro de campo, mesmo que se aumente o risco de ver escapar um jogador promissor.

A redução na quantidade de garotos aumenta a importância dos olheiros. Responsáveis por garimparem talentos nos mais remotos cantos do Brasil, será preciso realizar uma prospecção mais minuciosa, diminuindo a margem de erros.

Apesar do Grêmio não viver mais uma devastadora crise financeira como nos primeiros anos do século XXI, as finanças não são tão saudáveis quanto se gostaria. O investimento anual em um futuro jogador pode chegar a R$ 70 mil.

Reflexos nos profissionais

Para que ocorra uma boa fundamentação do jogador até chegar ao topo, as mais variadas áreas precisam ter sincronia para não cometer um erro de avaliação. Na base, com o diferente grau de maturação dos garotos, avaliar somente pela qualidade do futebol apresentado pode ser um erro. Por isso, o modelo aplicado visa uma integração total entre pedagogos, fisiologistas, técnicos e psicólogos.

Os objetivos são progressivos e a longo prazo. Nesta temporada, o técnico Silas utilizou nove jogadores, se não formados, com passagem pelas divisões inferiores: o goleiro Marcelo Grohe, ex-titular do time, o meia Pessalli e o zagueiro Neuton devem engrossar a estatística em um futuro próximo.

A intenção é que em 2011 cerca de 50% do elenco seja de jogadores oriundos da base gremista. Mais adiante no projeto, se tudo der certo, cerca de 70% do elenco será formado em casa. Essa é a estimativa para 2014, diminuindo os gastos com contratações e vislumbrando lucro com possíveis vendas.

O método implantado desde a metade do ano passado visa aumentar as potencialidades dadas pela estrutura do clube, pois não se pode criticar o trabalho que vinha sendo desenvolvido. Nos últimos anos, o Grêmio espalhou suas "crias" em grandes clubes da Europa, gerando um lucro de 37 milhões de euros (atualmente cerca de R$ 90 milhões).

Na lista entram nomes como Lucas, do Liverpool, e Anderson, no Manchester United. Mas falta algo. Falta um centroavante. Faz tempo que o time tricolor não forma um extra-classe na posição.

"Não focamos nesse tipo de situação, de uma posição específica. Formamos em todas as posições. Às vezes, há a cultura do clube", comenta o técnico dos Juniores, Andrey Lopes. Independente da posição, o importante é colocar o maior número de garotos nas mãos do técnico do time profissional. "Nosso trabalho é muito focado em colocar no profissional, mas não podemos negar que conquistar títulos anda junto", complementa.

Resultados

Mesmo que levar o jogador à equipe principal seja o grande alvo do trabalho, títulos são bem vindos. Eles são vistos como um indicador de produtividade. Um sinalizador de que a rota adotada está correta. No segundo semestre de 2009, quando o projeto passou a ser implantando, a sala de troféus ganhou as taças do Brasileiro Sub-20, além dos estaduais das categorias Sub-12, Sub-15 e Sub-17.

O Grêmio, desde 2006, tem dado rodagem aos seus garotos dos juniores. Naquele ano, o time da categoria disputou a Copa FGF, torneio do segundo semestre no Estado, contra equipes que disputam o Gaucho de profissionais. A campanha foi vitoriosa, com a conquista do título sobre a extinta Ulbra. "O Grêmio foi pioneiro nisso. Isso dá vivência, dá bagagem à gurizada", opina Lopes.

O ano da categoria que é o último passo antes de ser exposto ao torcedor e à mídia será corrido. No começo da temporada, o time de Andrey Lopes participou do tradicional torneio de Viareggio, na Itália. Está agendado outra competição na Itália, além de disputas na Suíça, na Holanda e na Alemanha.

O brilho da base gremista foi visto no domingo. Diante do Inter-SM, Maylson comandou o time, marcando dois gols na vitória por 3 a 0. O terceiro, saiu de uma jogada toda formada em Eldorado do Sul.

Passe de Mithyuê, bola na rede por meio dos pés de Fernando. "Isso nos traz alegria, porque os meninos são patrimônio do clube. Não é novidade que o Grêmio produz muito na base. Isso é uma vitória para a gente", declarou o técnico Silas após o jogo.

Confira as últimas grandes vendas gremistas:

Lucas (Liverpool) - 10 milhões de euros

Rafael Carioca (Spartak Moscou) - 8 milhões de euros

Carlos Eduardo (Hoffenheim) - 7 milhões de euros

Douglas Costa (Shakhtar Donetsk) - 6 milhões de euros

Anderson (Manchester United) - 5 milhões de euros

Cássio (PSV) - 1 milhão de euros

Confira os jogadores formados na base que participam do atual elenco profissional:

Adilson (volante)

Bérgson (atacante)

Bruno Collaço (lateral esquerdo)

Fernando (volante)

Marcelo Grohe (goleiro)

Mário Fernandes (zagueiro)

Matheus (goleiro)

Busatto (goleiro)

Maylson (meia)

Mithyuê (meia-atacante)

Neuton (zagueiro)

Pessalli (meia)

Saimon (zagueiro)

William Magrão (volante)

Vindo da base do Grêmio, Maylson marcou dois gols no último domingo
Vindo da base do Grêmio, Maylson marcou dois gols no último domingo
Foto: Fábio Berriel / Gazeta Press
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