PUBLICIDADE

Campeonato Carioca

Patrocínio Logo do patrocinador

Tradição, "regra louca" e título da Lusa: é a Série B do Rio

Portuguesa venceu o primeiro turno da Série B do Rio de Janeiro, mas vai ter que ganhar mais para poder voltar à elite

5 mai 2015 - 10h19
(atualizado às 10h25)
Compartilhar
Exibir comentários

Não tem bolinho de bacalhau no menu do estádio Luso Brasileiro. Mas tem padaria perto. E melhor que tudo isso: tem time campeão. A Portuguesa do Rio ganhou o primeiro turno da Série B do Campeonato Carioca. A equipe venceu no último fim de semana o Americano de Campos no jogo de volta por 5 a 1 (tinha perdido em Campos na ida por 4 a 3) e garantiu o direito de estar na final. E sabe mais o que isso pode significar? Absolutamente nada.

Torcida da Portuguesa apoia em final
Torcida da Portuguesa apoia em final
Foto: Marcus Vinícius Pinto / Terra

Para ter acesso à elite do futebol carioca, a Lusa precisa obrigatoriamente ganhar o segundo turno. Vencendo, fica com o título da Série B e vaga certa na elite. Se não ganhar, pode até mesmo ficar de fora. Isso porque o regulamento é complexo. Está previsto uma fase final entre o vencedor da Taça Santos Dumont (a Portuguesa), o vencedor da Taça Corcovado (que começa nesta semana) e o time com maior número de pontos. Se vencer esse torneio, conquista a Série B e está classificado para a primeira divisão. Se ficar em terceiro, está eliminado.

Euforia! Portuguesa-RJ conquista primeiro turno da Série B:

E se ficar em segundo nesse torneio final? Neste caso vai jogar uma fase extra, entre setembro e outubro deste ano contra Cabofriense, Bonsucesso, Tigres do Brasil e Boavista por três vagas na Série A de 2016, que vai ter apenas 14 clubes. Bom, e isso vai se repetir em 2016 para 2017, quando a série A vai passar a ter apenas 12 equipes. Fácil, não é?

A final

Mas, regulamentos esdrúxulos à parte, vamos à final, ao jogo, que é o que interessa. O Terra chegou cedo ao estádio, também chamado de Ventos Uivantes (a irritação na garganta no fim do jogo é prova de que o vento uiva, e com vontade). Na entrada fomos recebidos com um churrasco feito por uma garotada que adotou a Portuguesa como seu segundo time. “Isso começou com uma junção de torcida, o tempo foi passando e chegamos a esse número. Somos Portuguesa de coração, de verdade. É para ser o primeiro time”, conta Paulo Inácio, um dos líderes. Torcida que deu um verdadeiro show de camaradagem com a torcida adversária. “Estamos sendo muito bem tratados aqui”, disse Guilherme Ribeiro, diretor de marketing do Americano

Jogo de Série B tem polícia, tem Gepe (Grupamento Especial de Policiamento de Estádios), mas tem quem entre sem pagar com a família toda (mesmo com o ingresso a R$ 10); tem torcida adversária entrando no estádio e passando na porta dos vestiários. “Isso aqui é uma bagunça. Entra qualquer um”, diz um policial, que tenta pôr alguma ordem em um portão que dá acesso ao corredor entre o campo e a arquibancada. E tem ônibus que faz manobra na frente da torcida local, atrapalhando a visão na hora que o jogo está pegando fogo.

Jogadores da Portuguesa comemoram com o troféu do primeiro turno
Jogadores da Portuguesa comemoram com o troféu do primeiro turno
Foto: Marcus Vinícius Pinto / Terra

Tem também torcida que chega atrasada também. “Culpa do Gepe que segurou nosso ônibus e chegamos aqui com 20 minutos de bola rolando”, reclamou um torcedor que veio de Campos, a 350 km da capital. Era a chance de o Americano voltar a sonhar com a elite (foi rebaixado em 2012). Bastava o empate. Mas o time que tem como presidente um ex-jogador, Luciano Viana, e como gerente um ex-Seleção Brasileira, Gilberto Melo, vacilou demais, sentiu a pressão de decidir e levou um verdadeiro chocolate. Os quase 300 torcedores que vieram de longe voltaram para casa com a ilusão de que talvez no segundo turno, o time consiga voltar à final e se candidatar ao acesso de novo.

Mas o mais bacana foi ver duas torcidas de segunda divisão, quase todos, com camisas dos seus clubes. Alguma camisa de Flamengo, Fluminense, times da NBA aqui ou acolá. Mas a maioria com a camisa dos seus times. A Portuguesa celebrando seus 90 anos e uma vitória histórica em 69 contra o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu; o Americano que há pouco celebrou seu centenário, com camisas retrô esgotadas nas lojas de Campos. Um feito e tanto para um time que tinha se notabilizado por pouca torcida na era Caixa D’Água, quando o então  presidente da Federação e torcedor do clube, de certa forma colocava uma mancha nos feitos da equipe, que ficou perto da Série A do Brasileiro e andou passando de fase e eliminando grandes na Copa do Brasil.

Equipe da Portuguesa festeja conquista do primeiro turno da segunda divisão
Equipe da Portuguesa festeja conquista do primeiro turno da segunda divisão
Foto: Marcus Vinícius Pinto / Terra

Torcidas

Ainda mais bacana vermos as duas torcidas cantando, animando, como torcida de time grande. Algumas músicas originais, algumas versões. A música da Portuguesa, pasmem, até os jogadores sabiam. A do Americano fazia referência ao Goytacaz, seu principal rival. No meio de tudo isso, tem garotada jogando bola na quadra, nem aí para a partida; tem exaltado sendo colocado para fora pela polícia e tem quem não conseguiu entrar e fica de radinho no ouvido, no portão do estádio, ouvindo o jogo.

Entre os dois clubes, mais semelhanças. O Americano perdeu seu estádio, Godofredo Cruz, e em breve vai começar a construção do seu novo local, para 12 mil pessoas. “Mas dói não ter estádio. É como se tivessem tirado um pedaço de você”, conta Guilherme Siqueira, torcedor do Americano. A Portuguesa, que já foi palco de grandes duelos no carioca no período pré-Jogos Pan-Americanos, espera também em breve começar a reforça de sua arena, que um dia foi Jockey Clube e agora vê o mato crescer de um dos lados.

Torcida do Americano marca presença em decisão
Torcida do Americano marca presença em decisão
Foto: Marcus Vinícius Pinto / Terra

Portuguesa e Americano têm um orçamento mensal de cerca de R$ 150 mil para pagar jogadores, comissão técnica e pagar despesas de viagens. Praticamente um salário de um jogador mediano de um dos quatro grandes do Rio.

Resta saber se a Federação finalmente vai saber rentabilizar seus campeonatos e fazer os clubes pequenos darem um salto de qualidade, e com certa independência financeira, ou se vai seguir com campeonato deficitários, sem interesse, e com um futebol de péssima qualidade. Nem os 13 gols dos dois jogos da final, salvaram o espetáculo de ser de baixíssimo nível técnico.

Enquanto isso não acontece, os times vão ter que se arrastar e ficar esperando chegar em uma final para ganhar público (a média de público da Portuguesa na competição foi de pouco mais de 260 pagantes por jogo. Do Americano um pouco melhor: 516 por jogo) e renda. E uma final que, no fim das contas, pode não ter valido nada além do que um troféu de metal barato. 

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade