Saiba mais sobre o fiasco dos pequenos do RJ no Carioca 2010
- Dassler Marques
Você pode escolher o acontecimento mais inacreditável: - Flamengo e Friburguense terminando aos 43min do segundo tempo por falta de luz em Moça Bonita?
- Ou o "jogo dos pijamas" entre Madureira e Boavista, disputado às 8h da manhã?
- Os jogos em sequência nos quais Botafogo e Vasco, como mandantes, tiveram menos de mil torcedores presentes?- A proibição de se vender ingressos nos dias das partidas?
De fato, o Campeonato Carioca de 2010 mostra que o futebol do Estado como um todo cresce como rabo de cavalo, para baixo. Mais que os fatos citados, chama a atenção o aproveitamento dos 12 times pequenos em partidas contra os quatro grandes: 11,2%. Só o Vasco conseguiu a proeza de perder - e duas vezes - contra os menores.
Esse mesmo índice foi superior em 2009, quando chegou a 18%, e em 2008, quando mesmo sem jogar nenhuma vez fora do Maracanã ou do Engenhão, os pequenos conquistaram 15,3% dos pontos contra os grandes.
"Os clubes já estão conformados com essa situação de não cair. O investimento é pouco e o objetivo está lá embaixo da tabela. As equipes de menor investimento trabalham todos os anos com o mesmo grupo de atletas. Se contrata pelo gosto pessoal e a coisa não anda. Há uma acomodação e esse ano deve servir de alerta".
A opinião contundente é de Marcelo Buarque, que nesse Campeonato Carioca foi treinador de Bangu e Resende, e em 2009 passou pelo Volta Redonda e pela Portuguesa-RJ. Com a carreira toda construída no futebol do Rio de Janeiro, Marcelo teve seu ponto alto em 2008: conquistou o acesso para a Série B do com o Duque de Caxias após seis anos sem nenhum pequeno do Rio figurar entre as duas principais divisões do país.
A situação do futebol carioca incomoda tanto que Marcelo Buarque pensa em trabalhar em outro estado. "Tenho é muita vontade de sair do Rio de Janeiro, até para mudar os ares. A coisa está muito viciada, gostaria de trabalhar no interior de São Paulo porque aqui não tem estrutura".
A média de público, naturalmente, caiu bastante: em 2008 foi de 8518, em 2009 era de 7962 e, em 2010, chegou em 5534 até a última semana.
Sem culpar a Federação
Embora seja a responsável por fazer o futebol do Rio de Janeiro evoluir, a Federação é muitas vezes imune às críticas. Valtinho, presidente do Macaé, enxerga uma série de fatores como os responsáveis pela má fase dos clubes do estado.
"Acho que a crise mundial, desde o ano passado, atrapalhou. Também são muitos jogos, um em cima do outro. Tivemos uma temporada desgastante na Série D. Outra coisa é que o preço dos ingressos poderia ser revisto. Também são poucos investidores no futebol carioca e os municípios não ajudam, mas esse não é o caso de Macaé", enumera Valtinho.
Vale o parênteses: em Macaé, a Prefeitura Municipal é responsável por manter o clube, que em 2009 conquistou acesso à Série C. Ela inclusive entregará em breve um estádio novinho em folha, avaliado em mais de R$ 20 milhões.
"E a Federação, qual o papel dela nisso tudo", pergunta a reportagem. "Eu acho que é mínimo. Ela deveria rever o preço dos ingressos e só", diz Valtinho, que em seguida encontra outra explicação. "O dinheiro da TV é mau direcionado. Deveria haver uma divisão mais igualitária", enfim critica.
O presidente do Macaé também acha que a vida itinerante dos pequenos, que mandaram partidas em diversos estádios, atrapalhou. "Isso deve ser revisto. Mas os estádios também devem cumprir o estatuto do torcedor".
Marcelo Buarque também exime a Federação. "Não sei se tem culpa. Falam muito da TV, mas se não fosse ela o futebol teria acabado. Mas falta melhor distribuição do dinheiro, falta ajudar mais".
Com nível técnico tão baixo, é natural que a quantidade de bons jogadores que surgem seja quase nula. "Não há dinheiro nem para o profissional, muito menos para a base", avalia Marcelo. Dos pequenos cariocas, cabe recordar, surgiram Romário, Ronaldo e Ademir da Guia, entre muitos outros.