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Melhor árbitro do Gaúcho ameaça se aposentar e alfineta Fifa

15 abr 2014 - 11h22
(atualizado às 11h23)
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<p>Márcio Chagas da Silva foi vítima de racismo no Campeonato Gaúcho e pensa em abandonar a carreira por falta de apoio</p>
Márcio Chagas da Silva foi vítima de racismo no Campeonato Gaúcho e pensa em abandonar a carreira por falta de apoio
Foto: Getty Images

Eleito como melhor árbitro do Campeonato Gaúcho deste ano, Márcio Chagas, 37 anos, está decepcionado com o atual momento da arbitragem e pensa em parar de apitar. Desvalorização dos árbitros, nível elevado de cobrança, falta de critérios da Comissão Nacional de Arbitragem e o racismo no futebol são os principais motivos que estão fazendo com que ele, que é formado em Educação Física e professor em escolas públicas, repense a carreira de árbitro.

Confira a entrevista exclusiva do árbitro Márcio Chagas ao Terra:

Terra - Você foi eleito o melhor árbitro do Campeonato Gaúcho e é o árbitro número um no ranking da Federação Gaúcha de Futebol, por que você está pensando em desistir da arbitragem?

Márcio Chagas -

 Por vários motivos, entre eles está a falta de apoio. Não tem estabilidade, não tem carteira assinada, se eu machuco não tem plano de saúde, se eu sou punido eu nem fico sabendo e falta de transparência nas relações. Eu não estou onde acho que deveria estar, que é no quadro da Fifa. Tem árbitro que é Fifa e não deveria estar lá porque não preenche os requisitos. Para ser Fifa tem que ter nível superior, o Leandro Vuaden, que é bom árbitro, não tem nível superior, acho que não tem nem primeiro grau e é Fifa.

Terra - A situação do racismo, onde você foi vitima, também não está fazendo você repensar a sua carreira?

Márcio Chagas -

Também tem esta situação do racismo. Não houve apoio da Federação Gaúcha, somos descartáveis na Federação Gaúcha de Futebol.

Terra - Na saída de campo no Gre-Nal do último domingo você saiu aplaudido pelos torcedores, algo raro no futebol, e você fez um gesto de erguer o braço direito com o punho cerrado, gesto dos Panteras Negras (grupo revolucionário americano da década de 60, que lutava pelos direitos da população negra)...

Márcio Chagas –

Foi um gesto que os negros na década de 60 faziam para simbolizar os Panteras Negras, que era um grupo liderado por Martin Luther King, que lutava contra a segregação e por uma forma de igualdade nos Estados Unidos. Foi um gesto marcante para todos os negros que acompanham a nossa luta desde aquela época. E ser aplaudido pelos torcedores foi realmente algo inovador e muito bacana, mas eu espero que não seja só pelo fato do racismo. (Espero) que seja uma constante não só comigo, mas para todos os árbitros que se dedicam bastante para fazer o melhor em campo.

Terra - Você acredita que possa virar um símbolo de uma nova fase em relação a comportamento das torcidas e principalmente sobre o racismo no futebol?

Márcio Chagas -

Eu não sei, mas eu posso ter sido o agente que iniciou esta caminhada, tenho certeza que se nós conseguirmos recuperar alguns valores que se perderam nos últimos tempos, como respeito e igualdade, relações fraternas que não vem acontecendo. As pessoas estão se comportando de maneira tão brutal, com violência, com cânticos racistas que acabam promovendo pancadaria nos nossos campos.

Assista ao programa que discutiu o racismo no futebol:
Terra - Na semana passada o Tribunal de Justiça Desportiva acabou rebaixando o Esportivo para a segunda divisão pelo ato de racismo que aconteceu com você (a torcida do Esportivo chamou Márcio Chagas de macaco durante o jogo e fez ofensas racistas. Após a partida colocaram bananas no carro do árbitro e amassaram o carro). Esta punição foi justa?

Márcio Chagas -

 Foi uma resposta não só pra mim, mas para uma sociedade que estava aguardando uma definição de um ato tão lamentável, um crime de racismo que é inafiançável e ele não tinha sido levado em consideração no primeiro julgamento. Agora no recurso foi feito a justiça e tenho certeza que muitos negros se sentiram vitoriosos com esta punição.

Terra - Você também ingressou na Justiça comum e está movendo um processo contra o Esportivo?

Márcio Chagas -

 É um processo-crime para saber quem facilitou a entrada no estacionamento da arbitragem e amassou as portas do meu carro e colocou as bananas no escapamento do meu carro e por cima do carro também.

Fonte: Cristiano Leonardo S. da Silva Jornalismo - Especial para o Terra Cristiano Leonardo S. da Silva Jornalismo - Especial para o Terra
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