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Campeonato Goiano

Lembra dele? Frontini encerra vida cigana e finca gols em GO

Em entrevista exclusiva ao Terra, atacante que passou por 25 clubes na carreira conta sobre a vida de andarilho no futebol e o que fez escolher o Vila Nova como "porto seguro"

28 fev 2015 - 13h57
(atualizado em 1/3/2015 às 00h12)
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<p>Frontini marcou três gols em dois jogos em seu retorno ao Vila Nova</p>
Frontini marcou três gols em dois jogos em seu retorno ao Vila Nova
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Após rodar por nada mais nada menos que 25 clubes em 15 anos de carreira, o atacante argentino-brasileiro Carlos Esteban Frontini, 33 anos, se cansou da vida cigana e elegeu Goiânia para fixar residência. Com contrato assinado de dois anos com o Vila Nova, Frontini espera ficar no clube por ainda mais tempo e dar um pouquinho de sossego para a esposa e seus três filhos.

Mudar de um lugar para o outro está na biografia de Frontini desde sempre. Nascido em Buenos Aires, em 1981, veio com sua família ainda quando pequeno para o Brasil. Se sente o argentino mais brasileiro que existe. Se naturalizou para não ter que passar sempre pela burocracia de tirar visto de trabalho no Brasil. Mas se sente mesmo tupiniquim. Aliás, através do futebol, Frontini morou nas cinco regiões brasileiras. Conhece diferentes costumes regionais, climas e sotaques. Também saiu do país para jogar na Ucrânia e na Coreia do Sul.

Apesar da troca constante de camisa (teria uma vasta coleção só se considerássemos os clubes em que atuou), Frontini se orgulha de praticamente não ter deixado portas fechadas por onde passou. No Vila Nova, seu atual clube, deixou saudades após ajudar o clube a subir da Série C para a Segundona em 2013. Tanto que o torcedor colorado foi lhe abraçar no aeroporto quando voltou da passagem que teve pelo Botafogo-PB.

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Mais experiente e com a vivência de quem viu muita coisa no futebol, sobretudo no brasileiro, Frontini sabe que seu caso não é particular. Para o atacante, a falta de organização no futebol faz com que os clubes menores não tenham calendário para uma temporada toda e força esse êxodo de jogadores país afora.

De volta a Goiânia após uma temporada em João Pessoa, onde defendeu o Botafogo-PB, Frontini encontrou o Vila Nova em uma das piores crises de sua história. O time está na segunda divisão do campeonato estadual e caiu para a Série C no Brasileiro. O atacante xodó da torcida colorada espera um ano vitorioso para que sua permanência em Goiânia seja duradoura.

Pagador de promessa, Frontini inclusive fez em 2013 uma peregrinação religiosa entre Goiânia e Trindade (18km) muito comum para o povo goiano. Prometeu repetir a dose se conquistar seus objetivos no clube onde decidiu fincar raízes desta vez.

Atacante caminhou até Trindade para agradecer conquista pelo Vila Nova
Atacante caminhou até Trindade para agradecer conquista pelo Vila Nova
Foto: Facebook / Reprodução

Confira a entrevista que Frontini concedeu ao Terra:

Terra: Dois jogos e três gols nessa volta. Tinha como começar melhor?

Frontini: Aqui me sinto em casa, muito à vontade, gosto de jogar aqui e me sinto bem com a camisa do Vila. Quando você se sente bem em um lugar a tendência é que as coisas aconteçam pelo lado positivo. É importante você sempre dar seu máximo e tenho certeza que será um ano muito positivo.

Terra: São 25 clubes em pouco mais de 15 anos em sua carreira. Agora você acertou contrato de dois anos. O que você viu no Vila Nova para querer ficar?

Frontini: Esse lado de acertar dois anos de contrato é por causa da família. Tenho três filhos pequenos e esse muda-muda de escola acaba atrapalhando os meninos. O clube estava oferecendo um ano e meio, mas não ia fechar aqui ou em outro clube se não fosse por dois anos. Chega uma certa etapa da carreira que você precisa pensar pelo lado pessoal, pelo lado familiar que pesa muito. Por isso escolhi ficar aqui por dois anos, mas a tendência é ficar mais.

Terra: Como é a vida da família de um jogador que muda tanto de um lugar para o outro? Você sempre leva ela por onde vai?

Frontini: Sempre levo minha família comigo. A vida de futebol é boa, ponto. Mas tem os seus empecilhos como outra profissão. Um desses empecilhos que atrapalham um pouco é essa mudança de cidade, estado ou até de país. Quando você é casado e tem seus filhos ainda pequenos ainda dá para levar. Agora, quando as crianças atingem uma certa idade que ela já vai para o colégio, que precisa ser educada e acaba mudando, eles têm de refazer o grupo de amiguinhos e isso atrapalha um pouco.

Terra - Você vive com sua esposa, a Cristiane, há 14 anos. Alguma vez ela vetou uma mudança de clube ou de cidade?

Frontini - Não existe isso na nossa relação, a gente vai estudar, já teve lugar que não fui jogar por uma situação em conjunto.

Terra - Onde?

Frontini - Fica difícil falar o estado, vai que daqui dois ou três anos eu possa ir para lá? Mas já teve esse tipo de situação, sabe. Tem um amigo meu que teve uma situação parecida agora. Ele teve uma proposta para ir para a Tombense-MG, que vai jogar a Série C, mas não foi porque é em uma cidade muito pequena. Não deixa de ser um clube bacana, mas pesou o lado dos filhos, da esposa, até para estudar. Acho que no meu caso pesaria também.

Terra - Se destacou por União Barbarense, Marília e Ponte Preta antes de chegar no Santos em 2005. Por que não deu certo lá?

Frontini - Até hoje não tenho essa resposta, mas não me sinto frustrado por isso não. Dei meu máximo lá. Foi a equipe de maior tradição onde joguei, pela sua história, seus títulos. Deixa saudade. Um grande clube sempre deixa saudade. Eu estava emprestado pelo Marília tive alguns jogos e precisei operar o pé, quando voltei machuquei o joelho. Foi o único time onde me lesionei de verdade e isso aconteceu justo no maior clube em que atuei na carreira. Mas faz parte da profissão, o mais importante é que dei 100%. Depois voltei lá em 2007 para fazer um tratamento no púbis, quer dizer, deixei as portas abertas. É um clube muito bacana, tenho muito carinho por ele.

Terra - Você está com 33 anos, Ainda joga pelo dinheiro ou mais pelo prazer mesmo de estar em campo?

Frontini - Sempre fui uma pessoa bem controlada, sem muitas extravagâncias extracampo e tenho uma família que vive mais ou menos desse jeito, fui criado assim e ajuda muito. O que ganhei no futebol dá para viver bem, pelo meu modo de vida, mas acredito que dá para ganhar mais e é por isso que estou aqui. Além do amor e da paixão que tenho, também tenho três filhos para criar e preciso desse lado financeiro. Por isso me dedico sempre para fazer bons contratos e dar essa tranquilidade para quando eu parar.

Atacante Frontini fez protesto em rede social contra CBF
Atacante Frontini fez protesto em rede social contra CBF
Foto: Instagram / Reprodução

Terra - Após a criação do Bom Senso FC muito se discute sobre fair play financeiro e melhores condições para os jogadores. Você já jogou por 25 clubes e deve ter visto muita coisa no futebol. Ainda tem algo para receber de algum clube?

Frontini - Eu falo abertamente, até porque é uma coisa que precisa ser exposta. Tenho uma situação com o Botafogo de Ribeirão Preto onde fui mandado embora machucado. O único clube que me mandou embora entre os 25 clubes da minha carreira, de 25 apenas um mandar embora, alguma coisa está errada. E teve o Remo que não pagou, mas o Remo já sabemos que é complicado.

Terra - E essa crise nos clubes?

Frontini - Sobre essa situação financeira dos clubes é difícil conversar, pois não sabemos o que acontece nos bastidores da CBF. É uma entidade muito grande, mas que dá valor muito pequeno para o futebol nacional. Ela ocupa maior parte do tempo com a Seleção Brasileira. A Seleção nunca atua no Brasil, atua fora e isso gera dinheiro. Se esse dinheiro fosse inserido no futebol brasileiro, seria interessante vender a imagem da Seleção para fortalecer o futebol nacional. Mas não é, ele é praticamente abandonado. Ela (a CBF) dá uma condição muito pequena para os clubes menores.

Terra - Você acredita que essa dificuldade dos clubes menores, que não têm calendário anual, tenha contribuído para você ter trocado tanto de clube?

Frontini - Com a Lei Pelé ficou mais fácil e outro fator é que você joga o Estadual por um clube e ele não tem calendário no segundo semestre, como você pode ficar livre, vai em busca de um outro trabalho. Isso é uma bola de neve que está crescendo e ninguém consegue solucionar. Eu não teria a solução, essa fórmula, mas tomaria alguma medida. Não temos quatro campeonatos do ano inteiro, era para ter pelo menos cinco divisões A, B, C, D, E nos moldes da Série A, com dinheiro da CBF.

Terra - Em 2013, quando você subiu com o Vila Nova da Série C para a Série B pagou uma promessa. Você achou Trindade muito distante? Dá para ir novamente?

Frontini - Dá sim, e vamos lá novamente. Agora na Divisão de Acesso e depois no Brasileiro mais uma vez. Tenho certeza que vai dar certo e vou fazer com muito prazer. Para mim ficou longe porque saí da minha casa que é no Jardim Goiás, então são 30km para ir mais 30 para voltar. Mas é uma caminhada boa, com muita paz e vou repetir.

Todos os clubes na vida de Frontini
Mogi Mirim, Corinthians-AL, Vitória, União Barbarense, Vorskla, Marília, Vorskla, Marília, Ponte Preta, Santos, Pohang Steelers, América-RN, Figueirense, Mirassol, Goiás, Botafogo-SP, CRB, Bragantino, Remo, Duque de Caxias, Boavista, Ipatinga, Red Bull Brasil, Brasiliense, Volta Redonda, Vila Nova, Botafogo-PB
Fonte: MEI João Paulo Bezerra Di Medeiros - Especial para o Terra MEI João Paulo Bezerra Di Medeiros - Especial para o Terra
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