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Campeonato Goiano

Serra Dourada vira "quarentão" saudoso e à espera de reforma

9 mar 2015 - 09h48
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<p>Está prevista instalação de cadeiras rebatíveis. Torcedor tem concreto puro à disposição atualmente</p>
Está prevista instalação de cadeiras rebatíveis. Torcedor tem concreto puro à disposição atualmente
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

Temor de muitos adversários e orgulho do povo goiano durante muito tempo, o Estádio Serra Dourada completa 40 anos de fundação nesta segunda-feira. Palco de alegrias e tristezas, de momentos históricos para a capital goiana, o gigante de concreto do cerrado chega a quatro décadas de existência em plena atividade e com a promessa de ser modernizado.

Construído no início da década de 1970, no governo de Leonino Di Ramos Caiado, o Serra Dourada nasceu no anseio de dar ao futebol goiano um palco que suportasse o crescente interesse da população. O estádio Pedro Ludovico Teixeira, Olímpico, fica encravado no centro da cidade, mas era acanhado. O Serra Dourada nascia para receber públicos superiores a 70 mil pessoas.

A dimensão do gramado (110 x 75m) somada ao clima quente e seco de Goiânia durante boa parte do ano, transforma o campo em um latifúndio assustador para as equipes que visitam os clubes goianos. Historicamente, o Serra Dourada sempre foi um forte aliado para os clubes locais.

Gramado com tamanho 110x75m assusta adversários
Gramado com tamanho 110x75m assusta adversários
Foto: João Paulo Di Medeiros / MEI João Paulo Bezerra Di Medeiros - Especial para o Terra

Além de títulos de Goiás, Atlético-GO e Vila Nova, o Serra Dourada foi palco de atuações de craques consagrados. Pelé (já tinha se aposentado, mas realizou um jogo beneficente), Zico, Beckenbauer, Maradona, Ronaldo, Romário entre outros.

Diferente de muitos estádios pelo Brasil, a praça esportiva não foi batizada como homenagem a político ou personalidade. O nome Serra Dourada foi escolhido em homenagem à formação geológica que circunda a cidade de Goiás, antiga capital do estado.

Inaugurado no dia 9 de março de 1975 com uma partida entre Seleção Goiana e Seleção de Portugal, vitória goiana por 2 a 1, o estádio recebeu mais de 76 mil torcedores. De lá para cá, muitos jogos, muitos gols bonitos, alguns lendários como o de Fernandão de bicicleta sobre o Bahia, em 1999. Ou o do zagueiro Leonardo Valença, do meio de campo, na histórica virada do Vila Nova sobre o Goiás, 5 a 3, pelo Campeonato Goiano.

Inauguração do Serra Dourada, em 9 de março de 1975
Inauguração do Serra Dourada, em 9 de março de 1975
Foto: Arquivo Pessoal/Serra Dourada / Divulgação

Quarenta anos depois, o Serra Dourada não consegue mais receber a mesma quantia de torcedores, os públicos diminuíram muito. No último fim de semana, os três maiores clubes do estado estiveram no campo e pouco mais de 10 mil torcedores passaram pelas catracas em dois jogos, um deles o clássico entre Goiás x Atlético-GO.

O estádio já não é considerado um dos mais bonitos do Brasil. Arenas modernas foram erguidas pelas cinco regiões e tem, inclusive, retirado jogos importantes do Serra Dourada. Com promessa de uma reforma profunda, o maior estádio do futebol goiano aguarda para não cair no ostracismo e ser, novamente, motivo para o torcedor sair de sua casa e tomar as arquibancadas.

<p>Serra Dourada sofre com ação do tempo e precisa de reforma</p>
Serra Dourada sofre com ação do tempo e precisa de reforma
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

Promessa de melhora vira novela

Ficar fora da Copa do Mundo 2014 adiou o sonho de modernização do Serra Dourada. No entanto, o governo estadual já demonstrou a intenção de realizar intervenções profundas para dar ao estádio um aspecto mais moderno e confortável. Porém, a principal praça esportiva de Goiás ainda não tem data marcada para passar pelas esperadas melhorias.

A última reforma realizada com mais impacto foi para receber o amistoso entre Brasil e Holanda, em 2011. Outras medidas foram tomadas também na área externa, melhorando o acesso ao estádio e ao espaçoso estacionamento.

Além de viabilidade orçamentária, a reforma no Serra Dourada necessita de outro ponto para ocorrer: a reinauguração do Estádio Olímpico. Outra praça importante na história do futebol goiano, o Olímpico está com obras em estágio de acabamento após ficar fechado por quase 10 anos. Com a reinauguração do Olímpico, o Serra Dourada poderá passar pela reforma.

As intervenções previstas no estudo preliminar já realizado colocará o Serra Dourada com capacidade para cerca de 44 mil torcedores. O gramado será rebaixado e as arquibancadas serão estendidas acabando com a geral. Camarotes serão construídos e melhorias nos vestiários, área de imprensa e área VIP serão realizadas.

<p>Itamir Campos, administrador do estádio, mostra estudos preliminares para reforma</p>
Itamir Campos, administrador do estádio, mostra estudos preliminares para reforma
Foto: João Paulo Di Medeiros / MEI João Paulo Bezerra Di Medeiros - Especial para o Terra

Alma no gigante do cerrado

Nem só de concreto e aço é construído o Serra Dourada. Apesar de toda imponência, o estádio tem nos relatos das pessoas a construção de sua identidade. O caso de Adelson Thomaz da Silva é um deles. No estádio, Adelson passou 32 dos seus 44 anos de vida trabalhando no local.

Ajudante do pai, Adilson Inácio da Silva que era encarregado no apoio de segurança do estádio, Adelson carregava cafezinho para o setor de administração do estádio. Passou à portaria, se tornou funcionário público, trabalhou na limpeza do estádio e hoje realiza além da recepção na portaria das tribunas, o trabalho de guia em visitas de crianças no estádio.

Como fica na portaria, Adelson não pode acompanhar o que acontece dentro do estádio durante os jogos. Com mais de três décadas como servidor no estádio, Adelson até brinca ao dizer que consegue detectar qual time faz o gol só pela vibração do estádio.

“Pela vibração consigo reconhecer qual time está ganhando. É uma situação em que você passa a ser um corpo participante do evento, se a gente não estiver bem e alguma coisa acontecer de anormal aqui pode refletir lá dentro, na partida. Gostaria de ver todos os jogos ali, mas sou feliz pelo trabalho que faço aqui e procuro fazer o melhor possível para o evento acontecer de forma mais tranquila”, contou.

Adelson Thomaz. 44 anos de vida e 32 de serviços prestados ao Serra Dourada
Adelson Thomaz. 44 anos de vida e 32 de serviços prestados ao Serra Dourada
Foto: João Paulo Di Medeiros / MEI João Paulo Bezerra Di Medeiros - Especial para o Terra

Além de inúmeros jogos e craques que passaram pelo estádio nesses quarenta anos, outras personalidades que estiveram no Serra Dourada chamaram a atenção. Da missa do Papa João Paulo II ao show de Paul McCartney, o estádio “quarentão” tem história para contar. Uma das mais divertidas presenciadas por Adelson foi a presepada de Zacarias antes de um show dos Trapalhões.

“Não tem muito a ver com futebol, mas com um show que teve dos Trapalhões. Meu pai estava presente no vestiário, onde eles chegaram para fazer o show e estavam Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. O Zacarias era um humorista que brincava com todo mundo e tinha um segurança muito sério, o Wando, na porta do vestiário. O Zacarias sem avisar pulou, passou as pernas sobre a cintura do Wando e deu um beijo na testa dele. Foi tirada uma foto que saiu no jornal e esse meu amigo ficou muito conhecido por essa passagem engraçada”, lembrou.

A função de porteiro na entrada das tribunas de honra e de imprensa possibilitou a Adelson o contato com figuras ilustres. O funcionário lembrou de alguns nomes de pessoas que o trataram com cortesia como Luciano do Valle, Galvão Bueno, o ex-lateral de Flamengo e Seleção Brasileira Júnior, Kaká, Sócrates, entre outros.

Com orgulho, Adelson lembra da participação de Goiânia como sede da Copa América de 1989, quando o Serra Dourada recebeu a competição e, segundo Adelson, recebeu ótima avaliação. “Na Copa América fizeram uma avaliação e a Confederação Sul-Americana nos deu nota 9,3 para o estádio e para o serviço realizado. Isso nos deu muita satisfação, muito orgulho”, recordou.

Além de memórias positivas, Adelson já presenciou muitas brigas entre torcedores no estádio e em seus arredores. Como realiza um trabalho de visitas guiadas com crianças, Adelson tenta orientar os jovens em busca de paz no esporte. Sonha com o tempo em que o Serra Dourada será um ponto de encontro e confraternização entre as famílias goianas.

Fonte: MEI João Paulo Bezerra Di Medeiros - Especial para o Terra MEI João Paulo Bezerra Di Medeiros - Especial para o Terra
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