Ex-presidente da Mancha conquista acesso e até aparta briga
Paulo Serdan virou técnico no Atibaia para "quebrar galho" e conseguiu acesso para a Série A2 do Campeonato Paulista
Você viu no Terra e já sabia: Paulo Serdan, presidente de honra da organizada palmeirense Mancha Verde, virou técnico do Atibaia. O conhecido e polêmico torcedor alviverde fez, dividindo a posição com o vice-presidente da equipe, Leonardo Silvério, o que muitos achavam bem complicado: no último domingo, o time carinhosamente chamado de Falcão conquistou o acesso para a Série A2 do Campeonato Paulista com gol nos acréscimos do segundo tempo. O jogo decisivo teve até uma situação curiosa: Serdan chegou a separar uma briga no fim da partida.
A história do palmeirense com o Atibaia já é relativamente antiga (entenda aqui). Como técnico, Paulo Serdan e Léo Silvério tiveram quatro jogos para fazer o time renascer após o início ruim no quadrangular final. A partida contra o Barretos, disputada em Indaiatuba, era decisiva: só a vitória dava o acesso. O triunfo veio daquele jeito sofrido, com gol aos 46min da etapa final. Para um torcedor de arquibancada como Serdan, foi difícil se controlar.
“Foi sofrimento, a gente sabia que o jogo seria assim. a gente tinha treinado no sábado e deixado tudo consciente do que poderia acontecer. Mas foi legal, foi super emocionante, tanto que a hora que saiu o gol a gente acabou invadindo o campo inconscientemente, como se fosse o gol de morte súbita. Depois voltamos para o banco pra recomeçar o jogo e aguentamos ali até o final”, recordou Serdan, em entrevista ao Terra nesta segunda.
Depois do gol salvador, inclusive, a partida ficou quente. Em um lance, próximo à comissão técnica do Atibaia, uma confusão entre jogadores dos dois times surgiu. E quem apareceu para apartar a briga? Sim, Paulo Serdan, torcedor organizado conhecido por brigas entre torcidas e até por uma agressão a um técnico do Sub-14 do Palmeiras em 2007 que lhe rendeu punições da Justiça.
“Você tem que se controlar. O pessoal da Mancha até postou uma foto da confusãozinha comigo tirando os jogadores do meio e falou: ‘pô, presidente, o tempo passa, hein?’ Faz parte, é amadurecimento”, comentou o palmeirense, que foi mandatário da organizada de 1992 a 2005 e ainda é presidente da escola de samba da entidade.
Paulo Serdan treinador tem "papo reto" e até ensinamento de brigas
Foi no mínimo inusitada a atitude do Atibaia de colocar o vice-presidente e Paulo Serdan, que ajuda nos bastidores e tem um filho na equipe, como treinadores bem na reta final da Série A3. O organizado palmeirense, no entanto, explica: a ação serviu como um incentivo para o elenco conquistar o acesso com os próprios méritos. O sermão, que teve até ensinamento de brigas que Serdan participou, deu certo.
"Quando a gente conversou a primeira vez com o pessoal, usei a vivência de rua e tudo o que aprendi no futebol e na frente da torcida. A gente acabou tendo um papo reto com todo mundo. A primeira coisa que eu disse foi: ‘se a gente trouxer um treinador agora e vocês subirem, a moral vai toda para o treinador. Amigão, sou um burro, o Léo não estudou para ser técnico, então se a gente subir vai ser todos nós'. E todo mundo entendeu. A gente procura passar até situação que viveu em negócio de brigas, você nunca pode deixar ninguém para trás. Não pode parar de correr porque um companheiro perdeu a bola”, explicou Serdan.
Momento mais legal? Gol do filho
Tudo bem, o acesso do Atibaia com gol aos 46min do segundo tempo no último jogo do quadrangular foi emocionante. Mas para Paulo Serdan não foi o melhor momento da experiência que teve como técnico. O conselheiro do Palmeiras diz que o que lhe marcou foi o gol do filho Kaíque na penúltima partida, já no fim do jogo. O garoto é a razão de Serdan ter arranjado brigas nas categorias de base do Palmeiras e pela relação com o Atibaia ter se tornado tão próxima.
“O melhor dos quatro jogos foi na última quarta, um jogo difícil contra o Primavera que a gente tinha que ganhar para manter a esperança e aos 45 minutos do segundo tempo meu filho fez um p... golaço. Tive a experiência de poucos treinadores, ganhar um jogo com seu filho fazendo gol em campo”, disse o “técnico”, que ainda lembrou que xingou o próprio filho no lance antes do gol.
“Ele cortou a bola duas vezes na defesa, ainda xinguei ele porque quando cortou a bola caiu no pé do adversário. Mas ai o cara adiantou um pouco. Quando a gente saiu, eu estava em pé e enxerguei o espaço. E ai a gente gritando com ele, ‘vai no fundo, vai no fundo, vai para o gol’. Ele deu uma olhada para o meio dá área, já xinguei de novo para não tocar. Foi uma arrancada que ele saiu da nossa área e foi até a do adversário”, recordou.
Apesar do sucesso como treinador, Paulo Serdan disse que não continuará na função, mesmo caso do vice-presidente Léo Silvério, que voltará a comandar o time mais longe das quatro linhas. Ainda assim, a influência dos dois nos bastidores é clara e há até um aviso para o próximo técnico: “o próximo treinador que vier vai ter que entender que vai ter que conversar muito com a gente. Não vamos ter mais autonomia cega, tivemos jogadores preteridos que tinham qualidade”.