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Vítima da regra, Wayne trocou futebol por faculdade

4 abr 2010 - 11h50
(atualizado às 12h44)
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Emanuel Colombari
Direto de São Paulo

"A decisão de abandonar o futebol foi certamente a mais difícil de toda a minha vida, embora não tenha sido uma decisão minha. Com todas as situações já expostas e o pesadelo em que se transformou minha carreira, não sobrou outro desfecho que não fosse abandonar meu maior sonho", conta Wayne, hoje ex-jogador do Botafogo de Ribeirão Preto. Afastado dos gramados após o incidente em clássico contra o Comercial, o bancário faz um balanço da carreira.

"Quando você se depara com cenários como os que me defrontei, sendo dispensado pelo clube que defendi por 10 anos, mesmo com todo o meu histórico... Depois ao não conseguir testes, mesmo estando com um bom empresário, nem nos clubes que haviam me convidado anteriormente... E finalmente após uma ótima semana em um clube que precisava de um jogador na minha posição e não ficar, você para e pensa: não vai ser."

Com 17 anos, "desiludido com o futebol", Wayne resolveu priorizar os estudos. Ao 18, ingressou como bolsista na faculdade de administração de empresas. Na mesma época, ganhou seu primeiro filho, "que passou a ser minha fonte de energia e inspiração". "Essas decisões foram fundamentais para a vida que levo. Estou formado desde 2008, trabalho em uma grande instituição financeira e hoje vivo para minha família e amigos."

Durante sua passagem pelos gramados, Wayne fez amigos que se profissionalizaram - casos de Diego Alves, atualmente goleiro do Almería-ESP, e Lima, ex-meia do Atlético-MG. Com alguns desses amigos, o ex-lateral ainda joga futebol em quadras de grama sintética, onde tem a companhia de seu irmão mais novo (Weber).

Além disso, ainda disputa campeonatos amadores em clubes de Ribeirão Preto. "Digo a todos sempre: até o dia em que eu conseguir me manter em pé, vou jogar futebol. E quando não conseguir mais, vou tentar atuar nas embaixadinhas sentado. Se não conseguir, será um dia de luto para mim."

Hoje, é com grande alegria que Wayne fala de sua família. "Tenho um primo que se chama Gabriel. Ele joga nos juniores do Botafogo. Torço imensamente para que ele consiga realizar o seu sonho, pois seria o único da família. Eu, meu irmão e um outro primo não conseguimos", contou o hoje bancário, que cobre a família de elogios.

"Tenho um pai exemplar, uma mãe de ouro. Somos cinco filhos, todos homens. Somos muito unidos. Quando nos cumprimentamos, sempre nos beijamos carinhosamente no rosto. Mesmo sendo todos adultos, chamamos nossos pais de papai e mamãe", contou.

"Atualmente moro com meus pais, com minha mulher Chiara que está grávida de quarto meses, e dois dos meus irmãos. Estamos esperando a entrega do apartamento que compramos, nossa última e maior realização."

Feliz mesmo após o fim de suas expectativas, Wayne adota o tom de confissão na hora de contar sobre sua relação com o Botafogo.

"Por um período de três anos, evitei conversar sobre o Botafogo. Não assistia jogos e repudiava qualquer conquista. No final de 2006, voltei ao estádio para levar meu filho ao seu primeiro jogo. Foi quando senti novamente aquela energia que existe dentro do estádio. Percebi que não valia a pena nutrir aquele sentimento ruim", diz Wayne.

"Hoje assisto aos jogos, pois minha família toda continua sendo botafoguense. Torço pelos bons resultados, porque sei que vão ajudar especialmente a carreira do meu primo e de outros atletas sonhadores, como um dia eu fui."

Fora o incidente com o árbitro Jenkins Barbosa dos Santos, Wayne ainda guarda um grande incômodo de sua tentativa frustrada de jogar futebol.

"A maior dor", como o próprio Wayne destaca, "é o fato de não realizar o sonho de minha avó, dona Cida. Ela sempre dizia que o motivo que a faria imensamente feliz seria me ver jogando profissionalmente. De preferência no Corinthians, visto que ela sempre foi corintiana roxa. Infelizmente, ela faleceu em 2008, e eu falhei com ela."

Dedicado à família, Wayne deixou os gramados. Atualmente, é torcedor, pai e marido. Mas ainda guarda a dor de ter enfrentado o preconceito e a falta de bom senso de um árbitro.

"A grande cicatriz que ficou é ouvir que a prática de esportes é um meio de inclusão social - em especial o futebol, que tem unido povos e países em guerra. Minha deficiência provocou no árbitro uma indignação grande e sem explicação. Até hoje não entendi porque ele fez isso comigo. Com certeza, ele não ganhou nada. Não o vejo arbitrando. Eu, sim, perdi tudo: minha oportunidade de realizar meu maior sonho, meu grande projeto de vida: jogar futebol", encerrou Wayne, em tom de desabafo.

"Desiludido com o futebol", Wayne ainda guarda troféus e medalhas conquistadas em casa
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Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação
Fonte: Especial para Terra
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