Traffic enfrenta momento conturbado e naufrágio em negócios
- Dassler Marques
- Direto de São Paulo
No fim de 2011, um ofício curioso circulava na luxuosa sede da Traffic na Rua Bento de Abreu, em São Paulo. Seria também enviado a Porto Feliz, cidade vizinha à capital onde atua o Desportivo Brasil. O documento tratava de cortes no orçamento do clube criado e mantido pela empresa de marketing esportivo. Entre as disposições mais diversas possíveis, curiosidades como a substituição de peito de peru por presunto no café da manhã dos jogadores e até a demissão das arrumadeiras de cama. Os atletas precisariam assumir esta missão matutina.
» PARTE 2: Traffic reduz investimentos e faz cortes em clube-formador
» PARTE 3: Crise da Traffic tem demissões em massa; empresa silencia
O ajuste de orçamento no Desportivo Brasil é apenas um exemplo da crise sem precedentes que atinge a Traffic nos últimos meses. Cortes drásticos foram realizados a partir de Júlio Mariz, presidente demitido, e uma série de diretores de alto escalão também foram dispensados. O fim da parceria com Ronaldinho e Flamengo foi outro sintoma da tempestade.
Segundo o Terra apurou, a Traffic investiu cerca de US$ 200 milhões (R$ 342 milhões na cotação atual) em projetos como a contratação de Ronaldinho no Flamengo, a compra de direitos de jogadores, profissionais e para as categorias de base, e parcerias com o Estoril (Portugal) e Miami FC (Estados Unidos).
A principal causa para a crise, ainda assim, é o prejuízo pela perda da prioridade na comercialização dos direitos de transmissão da Copa América, justificada por atritos junto à Conmebol. Jota Hawilla, dono da Traffic e amigo antigo de Ricardo Teixeira, já não tem mais relação sólida com o ex-presidente da CBF e perde espaço para o concorrente Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo. Mas não é só. O Terra mostra todos os detalhes desse processo descendente.
Os prejuízos milionários: Teixeira passa bastão de Hawilla para Kléber Leite
Ex-funcionários da Traffic apontam a perda da Copa América como a principal razão para a crise que gera cortes em vários departamentos. Desde 1987, a empresa era responsável pela comercialização dos direitos do torneio. Só em 2011, 54 países compraram a transmissão. A empresa viu o negócio crescer em 40% em relação à edição 2007, mas perdeu espaço.
Em novembro do ano passado, a Conmebol emitiu comunicado que apontava Jota Hawilla como persona non grata e repassou a comercialização da Copa América à empresa uruguaia Full Play. Presidentes das dez filiadas da Conmebol, inclusive Ricardo Teixeira, deram aval à manobra.
O negócio pode parar nas mãos também da Klefer, grupo de marketing esportivo que pertence a Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo e aliado de Teixeira. "Já temos uma parceria com eles, que é para o Superclássico das Américas (amistosos entre Brasil e Argentina). Há a possibilidade de isso se estender também para a Copa América, sim", afirmou Kléber ao Terra.
Os prejuízos milionários: Ronaldinho e Maracanã
Um projeto cujo investimento não será recuperado é Ronaldinho, contratado pelo Flamengo com aval da Traffic. A empresa se responsabilizava por pagar 75% dos salários do jogador (R$ 750 mil mensais) em 2011, mas demorou a conseguir parceiros para explorar a imagem do camisa 10. Até um título de capitalização foi criado para tentar aliviar a falta de recursos.
Traffic e Flamengo romperam no início de fevereiro depois dos direitos de imagem de Ronaldinho atrasarem por seis meses consecutivos. A empresa ainda foi deixada de lado pela Nine, concorrente que pertence a Ronaldo e fechou a cota máster do uniforme rubro-negro com a Procter & Gamble em agosto de 2011. O patrocínio fechado entre Fla e Cosan para a manga da camisa, no começo desse ano, selou o fim da parceria deficitária com o clube carioca.
Bem relacionada no Fluminense, a Traffic imaginava que a parceria com o Flamengo fosse o que caminho perfeito para se tornar a administradora do Maracanã, um lucrativo negócio. As entradas de Eike Batista e da IMX na parada, entretanto, deixaram a empresa de Jota Hawilla para trás. O rompimento do Fla com a Traffic e o próprio Fluminense por conta de Thiago Neves frustraram os planos de uma vez.
Os prejuízos milionários: jogadores
Os maiores investimentos da Traffic foram na contratação de jogadores para praticamente quase todos os grandes e médios clubes do Brasil. Fluminense e Palmeiras foram os principais parceiros, sobretudo o clube paulista. Em 2009, a empresa chegou a ter mais de dois terços do elenco palmeirense e rompeu na reta final da gestão de Luiz Gonzaga Belluzzo.
Não há dados objetivos sobre os prejuízos, mas uma série de jogadores em quem a Traffic investiu não surtiu efeito. Só no Palmeiras, nomes como Marquinhos, Willians, Diego Souza, Jumar, Jefferson, Fabinho Capixaba, Sandro Silva, Lenny, Jefferson, Evandro e Rivaldo não vingaram. As negociações de Keirrison e Henrique, contratados junto ao Coritiba e repassados para o Barcelona, foram os negócios mais lucrativos do projeto, mas se tornaram polêmica na Espanha. Ambos nunca atuaram pelo clube catalão e as portas se fecharam para mais operações desse tipo.
Campeonato Paulista - Série A2
O Terra, maior empresa de Internet da América Latina, exibe ao vivo os jogos da Série A2 do Campeonato Paulista, uma das mais respeitadas e tradicionais competições do País. As partidas são narradas por Marcelo do Ó e comentadas por Ary Pereira Junior e Bruno Prado. Os internautas podem conferir tabelas, classificação e notícias do torneio, além de participar das transmissões por meio de comentários e mensagens via redes sociais.