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Futebol Internacional

Não trocaria minha infância pela dos meus filhos, diz Zé Roberto

5 jun 2009 - 17h46
(atualizado às 17h52)
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A oportunidade de viver 11 anos na Europa ofereceu muitas vantagem para Zé Roberto, que jogou por Real Madrid, Bayer Leverkusen e Bayern de Munique. Com origem humilde e a infância e a adolescência vividas na Zona Leste de São Paulo, Zé se tornou uma pessoa mais madura e centrada.

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Foi justamente pelo conforto encontrado na Alemanha que Zé Roberto optou por deixar o Santos e assinar novamente com o Bayern de Munique. Lá, seus filhos aprendem quatro idiomas e vivem de forma segura. Com altos salários no Brasil, Zé assumiu publicamente a sensação de insegurança, comum às estrelas.

Nem por isso, o jogador desvaloriza suas origens. Em entrevista ao Terra, diz que não trocaria sua infância pela de seus filhos. Gostaria, inclusive, que eles pudessem saber mais sobre a vida, o que não é possível na vida pacata que tem na Alemanha.

Confira a segunda parte da entrevista de Zé Roberto:

Terra - Você estava muito bem no Santos, jogando um grande futebol e com um bom contrato. Foi até chamado para a Copa América em 2007. Valeu a pena retornar para mais dois anos na Alemanha?

Zé Roberto - Ah, com certeza valeu. Não me arrependo, só ficou saudade mesmo. Essa oportunidade aparece poucas vezes. Na minha idade, voltar para o Brasil e depois, ainda assim, para a Europa. É difícil.

É uma oportunidade que dificilmente aparece e eu sei que minha carreira vai terminar e depois darei prioridade para outras coisas.

Voltei visando minha família. Meus filhos iniciaram os estudos lá, nasceram lá, minha esposa gosta muito de lá. Não que aqui não seja bom, estavam muitos felizes, mas para o futuro deles, para os estudos, foi com certeza muito bom. É algo que nunca tive na minha infância: eles falam bem o português, são alfabetizados em alemão, inglês e espanhol. É algo que nunca tive. Nem sonhando isso passava pela minha cabeça.

Terra - Recentemente o Ronaldo disse que preferia dar uma educação européia ao filho dele. É mais ou menos assim que você pensa?

Zé Roberto -Tenho esse pensamento porque eles nasceram lá. Desde criança, se acostumaram com aquilo. Ao mesmo tempo, eu queria passar um pouco da infância que vivi e eu não trocaria a minha pela deles.

Eu ia para a escola e passava até de noite jogando bola e soltando pipa. Essa liberdade eles jamais vão ter. Hoje, os campos foram invadidos, não existem mais, e a criminalidade não te dá mais liberdade. Na minha época, eu fazia fogueira e ia dormir às 11 horas da noite. Hoje são épocas diferentes. Faltava aos meus filhos ter isso que eu tive. Aprender mais sobre a vida.

Terra - A Alemanha talvez seja o país europeu em que os brasileiros mais têm dificuldades de adaptação. A que você acha que isso se deve?

Zé Roberto - No meu ponto de vista, é pela cultura muito diferente da nossa. Se você chega e não tem uma estrutura de personalidade, e o clube não te dá uma estrutura, você dificilmente segura a onda.

Digo isso porque, quando cheguei, foi para jogar no Leverkusen, que já tinha dois brasileiros, Émerson e Paulo Rink. Então tinha uma estrutura para receber os jogadores, com tradutor no campo e para sua família. Isso te ajuda a se adaptar rapidamente a um país. Quando você chega, é como se fosse um choque, pela cultura, pela língua. Se você não tem estrutura, acaba desistindo, como muitos fazem.

O Bayern, e não só por minha causa, mas pelo Élber, pelo Lúcio, tem tradição disso, tem essa estrutura. Como o Schalke, que tem o Rafinha e o Bordon. O próprio Hoffenheim, que começa bem com isso e ganhou o primeiro turno. Essa estrutura é a principal causa para manter esses jogadores lá. Se não tem isso, fica difícil.

Terra - Como você viu a questão do Thiago Neves, que voltou do Hamburgo para o Brasil depois de seis meses? O Alex Silva, que está lá, já fala em voltar também.

Zé Roberto - O Hamburgo não tem essa estrutura, nunca teve essa tradição de ter brasileiros. Por não ter essa tradição, o jogador chega e sente dificuldades.

Terra - Os alemães possuem certa resistência em contratar brasileiros em razão desse tipo de atitude?

Zé Roberto - Na Alemanha, não. Pelo contrário. Cada ano chegam mais jogadores brasileiros e agora mesmo teve o Maicosuel, do Botafogo, que fechou com o Hoffenheim. O Werder Bremen parece estar atrás de outros jogadores para o lugar do Diego. A cada temporada, vêm chegando mais brasileiros. Terra - Falam do Felipe, do Corinthians, no Bayern de Munique. Você sabe de alguma coisa?

Zé Roberto - Ouvi mesmo isso por lá, mas através da imprensa. E o Bayern procura um goleiro.

Terra - O que você pretende fazer ao fim da carreira?

Zé Roberto - Ainda não sei, terei um período de descanso quando encerrar a carreira. Tenho o projeto social que já dei início em documentação e que quero dar continuidade. Não sei se vou continuar no futebol ou partir para alguma outra coisa.

Zé Roberto se adaptou à cultura alemã, atuando por 10 anos no país
Zé Roberto se adaptou à cultura alemã, atuando por 10 anos no país
Foto: Getty Images
Fonte: Redação Terra
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