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Liga dos Campeões

Seguidor de Cruyff, Guardiola inspira sentimento do barcelonismo

28 mai 2011 - 09h34
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Dassler Marques

Costuma se perguntar como Lionel Messi, frágil tal qual uma pulga, resiste a tantas pancadas. Como Carles Puyol, tão baixo para um zagueiro, consegue saltar às nuvens. Também se tem por hábito questionar como Xavi e Iniesta, pequeninos, defendem como volantes, constroem como meias e competem a cada lance. A resposta para todas estas perguntas pode ser uma só: Josep Guardiola. Finalista da Liga dos Campeões pela segunda vez em três temporadas como treinador do Barcelona, Pep aprendeu desde cedo que tamanho e documento nada têm a ver.

Apesar de ter nascido com quatro quilos e meio, Guardiola teve problemas quando garoto por conta da fragilidade de seu corpo esguio. Aos dois anos, uma congestão fazia com que ele respirasse com dificuldades, o que seria solucionado com sessões de banho de mar. Na adolescência, Pep também sofria por seu corpo jovem quando aspirava o futebol. Necessitou de um trabalho específico, comandado pelo preparador Paco Seirulo, para ficar mais forte e fugir das pancadas. Foi quando desenvolveu uma habilidade particular: calcular seus movimentos antes de receber a bola. Pensar bem antes de executar.

A forma como a vida futebolística de Guardiola se desenhou muito tem a ver com o estilo de jogo encantador que o Barcelona dele aplica, sempre dominador independente do adversário que esteja do outro lado. "Sem exagero nenhum, ele é um dos três melhores do mundo. Estou sendo modesto. É duríssimo chegar a tantas decisões. Tem os jogadores, tem o trabalho do clube, mas o que acontece não é à toa. Mesmo jovem, ele é muito talento. Respira futebol, entende de tudo, estuda tudo. É rápido e elétrico", define o brasileiro Sylvinho, campeão europeu sob o comando de Guardiola há dois anos.

Em três temporadas como técnico do Barcelona, Guardiola pode repetir o que o gigante Alex Ferguson demorou mais de 20 para fazer com o Manchester United. "É um treinador jovem que mudou a forma como o time jogava. Deu maturidade para a equipe, mexeu pouco no estilo e na maneira de marcar também. Tem uma presença grande dentro do clube e isso ajuda, mas pelo fato de ser tão jovem é impressionante tudo que já conseguiu alcançar", elogiou o escocês na coletiva de imprensa de sexta-feira em Londres.

Guardiola, Cruyff e o barcelonismo

Para o sentimento do barcelonismo, Guardiola representa a sucessão de Johan Cruyff, que uniu a identidade do jogo holandês à obstinação e à unidade dos catalães. E foi o próprio Cruyff, por duas vezes, o responsável por abrir o caminho para Pep dentro do Barcelona.

A primeira, em 1990, logo que se tornou o treinador. Cruyff foi acompanhar um treinamento das categorias de base e foi atraído pelo jogo de Guardiola, até então um meia direita. Pediu a Carles Rexach, que comandava a atividade, que testasse Pep como volante central. Semanas depois, ele estava no elenco principal. Na temporada seguinte, era o camisa 4 titular da equipe que conquistou a Liga dos Campeões pela primeira vez. Semanas depois, medalha de ouro olímpico com a seleção espanhola.

Quando a Era Ronaldinho no Barcelona estava perto do fim, Joan Laporta tinha dois nomes para suceder Frank Rijkaard: José Mourinho e Arséne Wenger. Antes de tomar sua decisão, Laporta resolveu pedir a sugestão de Cruyff, que surpreendeu ao indicar outro nome. Até aquele momento, Guardiola era treinador do Barcelona B e fazia bom trabalho. Foi o escolhido.

"O Barcelona passava por uma situação esportiva ruim, com dois anos sem ganhar nada. Também haviam problemas políticos. Nunca tinha visto o Camp Nou com 60 ou 70% de lotação. Os atletas estavam desacreditados e esperando por uma faxina. Saíram todos os brasileiros, só eu fiquei. Sabíamos que ele (Guardiola) era talentoso, ele tinha isso. Experiência vem com o tempo e ele deu ânimo para o grupo. Estava trabalhando em casa e o maior papel foi acreditar no grupo e fazer o grupo acreditar", resume Sylvinho.

Diferente de Cruyff, que até os dias atuais se mantém próximo do Barcelona, Guardiola não se vê junto do clube catalão por tanto tempo. O próprio holandês acredita que ele pode deixar o cargo ao fim da temporada. "Trabalhou duríssimo nos últimos anos", diz. Como o personagem que sabe a hora exata de deixar a cena, Pep já tem seu nome na galeria dos imortais. Campeão europeu como jogador do Dream Team de 1992, foi especial para os dois maiores times da história azul-grená.

Guardiola e o Camp Nou, palco de suas maiores vitórias
Guardiola e o Camp Nou, palco de suas maiores vitórias
Foto: Getty Images
Fonte: Terra
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