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Terra na Copa

Ídolo na Espanha, Júlio Baptista defende Dunga e não sabe se volta

9 abr 2012 - 05h00
(atualizado às 09h16)
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O último título da Seleção Brasileira em uma Copa América começou a ser definido com um chute no ângulo que abriu a vitória por 3 a 0 sobre a Argentina na decisão, em 2007. Três anos depois, o autor da jogada foi um dos nomes mais contestados entre os 23 chamados por Dunga para disputar a Copa do Mundo na África do Sul. E olha para sua carreira para entender o motivo. » Raí está certo? Veja se São Paulo de 92/93 é melhor que Barça atual

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Há 12 anos, Júlio Baptista aparecia também com um gol, na final da Copa São Paulo de Futebol Júnior vencida pelo time tricolor paulista, clube que o formou. Há nove, partia para o Sevilla, onde iniciaria uma trajetória de prestígio na Europa, principalmente na Espanha, onde ganhou o apelido de "La Bestia" por usar sua força física para balançar as redes.

O atleta, 30 anos, está tão adaptado ao país ibérico que fala com certa sotaque espanhol - até deixa escapar a palavra "personal", pessoal em português. Na vida europeia, abandonou um pouco seu violão, fiel companheiro no São Paulo e na Seleção, e já nem sabe se voltará a atuar em campos brasileiros. Mudanças que podem ter feito seus compatriotas o esquecerem.

No Brasil, o jogador ainda sente ser lembrado como um volante, não como o meia marcador de gols pelo qual o Real Madrid pagou 20 milhões de euros (cerda de R$ 47,6 milhões) em 2005 e que foi apresentado no ano passado como astro do "novo-rico" Málaga, atualmente comandado pelo sheik catariano Abdullah bin Nasser Al Thani. Como o País não acompanhou sua evolução, ele crê ter sido indevidamente criticado.

O jogador se recupera no Reffis do CT da Barra Funda e está tratando de lesão na perna direita para poder voltar a atuar onde é, definitivamente, idolatrado: a liga espanhola. Tranquilo, Júlio Baptista falou em defesa de Dunga.

Confira a entrevista com Júlio Baptista na íntegra:

Por ter história, não te irritava ser tão contestado?

Júlio Baptista: Irritava de um certo modo. A única coisa complicada que eu não entendia é que não me aceitavam porque não me viam. Como eu não tinha jogado no Brasil, talvez a figura do Júlio Baptista como volante ainda estava na mente das pessoas, não viam que eu tinha crescido muito como jogador, que tinha mudado de posição e jogava como um meia. Mesmo que muitos não gostem do meu futebol, os números estão aí. Não posso fazer as pessoas gostarem do meu futebol. Consegui tudo fazendo o que me ensinaram a fazer depois que fui para a Europa. Essa era para mim a maior prova do meu conhecimento. Eu aceitava bem, o profissional tem que saber aceitar as críticas, mas às vezes há criticas que fogem um pouco do que é o normal. Não são construtivas, são críticas para criticar, não por analisar e ver o jogador, sem olhar as estatísticas, os números. Quando começa a ser mais "personal", mais pessoal que outra coisa, você acaba até deixando de lado, ficando mais tranquilo, fazendo seu trabalho sem se importar muito com isso.

Na época, você já morava na Europa. Como as críticas chegavam a você?

Júlio Baptista: Foi muito mais forte mais perto da Copa. Antes, estava tranquilo. Quando começou a se definir os jogadores que iam para Copa, começou a ser um pouco mais forte porque queriam que fossem outros jogadores.

O Dunga foi muito fiel ao grupo que venceu a Copa América. Depois daquele título em 2007, ele chegou a comentar "você está na Copa"? 

Júlio Baptista: Não, em nenhum momento. Mas estávamos trabalhando ali durante três anos. O mais importante em um time com muitos grandes jogadores é se ter a confiança do treinador, e me sentia muito tranquilo com o Dunga porque sabia que tinha a confiança dele. Entrava sempre nos jogos e conseguia corresponder. Sempre que precisei entrar, acabei jogando bem. As pessoas não entendiam, mas futebol é assim. Tiveram outros jogadores que jogaram na minha frente. Eu era a terceira opção e aproveitei a minha oportunidade.

Em muitos amistosos, você entrou para jogar cinco, dez minutos, mas estava frequentemente entre os convocados. Como era o papo do Dunga com você?

Júlio Baptista: Muito tranquilo. O que ele tentou passar para os jogadores que estavam ali é que deveríamos dar sempre importância ao que estávamos fazendo, visando que o mais importante era o grupo, independentemente dos jogadores que tinham ali. Tanto que os que ficaram de fora algumas vezes eram colocados depois. Com ele não tinha essa de sempre jogar um ou outro, ele colocava os jogadores que achava que tinham que jogar. Por isso tem o respeito hoje de todos os jogadores que trabalharam com ele.

Hoje você ainda pensa em atuar pela Seleção Brasileira?

Júlio Baptista: Jogador tem que pensar em si mesmo primeiro, estar bem consigo mesmo, muito forte no seu clube, fazendo as coisas bem, jogando bem, apresentando um grande nível. Assim, as pessoas veem seu futebol e você é lembrado. Jogar ou não depende muito também da sua característica e de como o treinador pensa. Se o treinador quer outros jogadores, com perfil que ele gosta, às vezes você se encaixa ou não. Depende muito, vai de gosto.

Você acha que se encaixa no esquema do Mano Menezes?

Júlio Baptista: Não sei. Vai depender muito do momento em que me encontrar. Se eu estiver bem, chegar a um nível muito bom, e ele achar que tenho possibilidades de ir, sempre fui à Seleção com todo meu carinho. Todas as vezes que vesti a camisa da Seleção, foi para defender as cores do Brasil. Se eu for chamado outra vez, com certeza será uma oportunidade bem-vinda, a ser recebida com os braços abertos. É um prêmio para todos os jogadores.

Você sentiu que torciam contra a Seleção? 

Ídolo no "novo-rico" Málaga, Júlio Baptista se diz feliz com carreira na Europa
Ídolo no "novo-rico" Málaga, Júlio Baptista se diz feliz com carreira na Europa
Foto: Getty Images
Júlio Baptista: 

Não. O brasileiro é patriota, não torceria contra a sua Seleção por coisas pequenas. Seleção está por cima de todos, de tudo. Seleção é uma coisa única. Quando se fala em Seleção, não é uma ou duas, é um todo e sempre vai ser assim. Os jogadores vão passar e a Seleção sempre vai existir. Não acredito que torceriam contra.

Mas, como você mesmo disse, te contestavam porque não te viam. Na Espanha você tem um prestigio maior do que no Brasil.

Júlio Baptista: A carreira de um jogador é assim. Acabei construindo minha carreira fortemente na Espanha, então é normal que as pessoas de lá tenham um carinho grande por mim, pelo que conquistei e demonstrei, pela história que criei dentro do futebol espanhol. Acabei adquirindo esse respeito pelo tempo que tenho na liga espanhola. É importante, uma coisa boa para mim, me deixa até contente porque é uma trajetória, um caminho.

Você parece bem adaptado à Europa. Já são quase dez anos lá...

Júlio Baptista: Estou muito bem lá. Tenho minha família, minha esposa, minha filhinha. Melhor não poderia ser. Às vezes chega um coquetel de coisas na sua vida e umas são boas e outras são ruins, mas menos mal que as boas são de verdade, para a vida inteira.

Para vida inteira? Isso quer dizer que dificilmente você voltaria para o Brasil? Deve se aposentar lá? 

Júlio Baptista: 

Não sei, não poderia dizer isso. Acredito que ainda vou jogar alguns anos, mas estou bem adaptado mesmo lá. Com o tempo você vai se acostumando ao país, aos costumes. Claro que nunca se sabe o que pode acontecer, pode acabar o que fiz ali e eu ter que ir para outro lugar. Não se sabe o destino. O futebol vai te levando para uns destinos que você achava que não queria. Quem diria que eu e o Van Nistelrooy jogaríamos juntos de novo no Málaga? Já tinha jogado com ele no Real Madrid e nunca imaginei que jogaria de novo, ainda mais no Málaga. É um pouco surreal pensar nisso, mas é verdade. O Málaga cresceu de tal forma que hoje tem grandes jogadores.

Mesmo bem adaptado, você continua tocando seu violão lá na Europa?

Júlio Baptista: 

(Sorri) Não, estou devagar, muito devagar, até mesmo pela minha filha, minha esposa. Fica um pouco mais difícil.

Não é algo que sobrou da cultura brasileira em você? Não sente falta?

Júlio Baptista: Continuo fazendo pagode em casa, com minha família, quando tenho um tempinho. Mas um pouco menos do que era antes. Só que está no sangue. Quando uma pessoa gosta de alguma coisa, é difícil tirar. Vem do meu DNA. Gosto de música, me interesso, entendo de música.

Falando em DNA, você foi formado no São Paulo e apareceu como campeão da Copa São Paulo de Juniores de 2000. Ainda conversa com o pessoal daquele time?

Júlio Baptista: Falo com o Gabriel às vezes, tenho mais contato com ele. Recentemente, encontrei o Saraiva trabalhando nas categorias inferiores do São Paulo, foi legal, uma alegria ver que ele está bem treinando a garotada. O resto do pessoal deve estar por aí no mundo jogando, viajando. É difícil manter contato com todos.

Do time titular, você foi um dos que mais se destacou . Alguns nem seguiram carreira no futebol, e a geração era considerada promissora. O que aconteceu?

Júlio Baptista: (Pensativo) Futebol é complicado, difícil, são muitos espinhos. A dedicação é a coisa mais importante para um atleta conseguir chegar aonde quer. Sonhar com o que tem que sonhar, mas ir atrás. Senão, é muito difícil.

E como você vê as categorias de base do São Paulo atualmente? Você levou dirigentes do Málaga para visitar o Centro de Formação de Atletas em Cotia, que nem é da sua época...

Júlio Baptista:Estão muito bem, é um trabalho muito bem feito. Lá não tem tanto luxo, mas tem tudo. Não há nada que um jogador precise que não tenha lá. O pessoal do Málaga gostou bastante, são coisas que não se encontram na Europa.

Com essa estrutura, dá para pensar em voltar ao São Paulo?

Júlio Baptista: É como falei, não dá para saber o que vai acontecer na vida. Como eu poderia imaginar que sairia daqui e ficaria tanto tempo na Europa? Não consigo responder isso agora. Hoje estou muito bem no Málaga e meu pensamento é no Málaga. O que pode acontecer depois, ninguém sabe.

Hoje você está, pelo menos, se tratando no Reffis. Você teve dois problemas seguidos na perna direita, não é?

Júlio Baptista: Fiz uma operação na parte óssea do pé direito, tive uma fratura um pouco complicadinha. Operei e tudo seguia dentro dos prazos, perfeitamente. Já prestes a voltar, quando comecei a treinar, senti dores, uma fisgada forte perto da panturrilha. Fizemos exames que constataram o rompimento de mais ou menos uns sete milímetros no tendão. Com a operação e tudo, estou parado desde 11 de outubro.

Você estava em ascensão. O time estava invicto e você, em quatro jogos nesta temporada, chamou atenção com um gol de bicicleta nos acréscimos, no dia de seu aniversário, na vitória por 3 a 2 sobre o Getafe. Deixou boa impressão, mas ainda dá para jogar nesta liga?

Júlio Baptista: Vim para cá para isso, para me tratar e atuar nas últimas rodadas da liga. Infelizmente esta lesão cortou um pouquinho o caminho que eu estava seguindo, né? Eu estava indo muito bem. Mas quando um jogador tem uma dor, fica impossível poder fazer o mesmo trabalho. No meu caso, tinha uma fratura no pé e vinha jogando há um certo tempo. Quando descobrimos, não tivemos outra coisa para acudir a não ser a operação.

O que tem achado do Málaga?

Júlio Baptista: Tenho acompanhado. Conseguimos encontrar uma estabilidade, ganhamos jogos importantes, estamos brigando pelas seis primeiras posições. O crescimento é fantástico. Pegar tudo que a diretoria conseguiu ao montar o time em um ano e fazê-lo funcionar já dando resultados é uma coisa excelente.

É grande a diferença em relação ao time que te contratou no início do ano passado e brigava contra o rebaixamento?

Júlio Baptista: Quando cheguei, era o momento mais difícil. O Málaga tinha possibilidade de cair para a segunda divisão, mas com o esforço de todos que estavam lá, voltei bem de uma artroscopia simples no joelho direito e consegui ajudar o time .

E como foi participar da primeira era galáctica no Real Madrid? Pagaram 20 milhões de euros para te tirar do Sevilla na época.

Júlio Baptista: Pagaram bastante. E foi válido, são válidas as experiências que você adquire na vida durante um percurso, é um caminho legal. Consegui atuar com grandes jogadores, em um dos melhores clubes do mundo. E nunca ninguém me facilitou. Tive que me dedicar com muito esforço, dedicação, demonstrando meu trabalho a cada dia, demonstrando alguma coisa a mais que eu poderia fazer. E o prêmio foi jogar no Real Madrid. Infelizmente, o clube passava por muita transição e passaram muitos treinadores. Isso dificulta muito o trabalho de um jogador, necessitamos de muita estabilidade, é uma coisa muito importante no futebol. Mesmo assim, consegui ganhar uma liga , o que é legal, muito importante para o clube. Depois, segui meu caminho.

O problema na Roma não foi lesão também?

Júlio Baptista: Não, foi treinador mesmo.

E a passagem pelo Arsenal?

Júlio Baptista: Cheguei a ir bem, mas fui por empréstimo, né? Para qualquer jogador emprestado na Europa, é difícil ser titular de um time que joga Champions. Mesmo assim, atuei em muitos jogos , fiz dez gols. Foi uma passagem muito boa.

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