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Eusébio saiu de Moçambique para fazer Portugal marcar época no futebol

5 jan 2014 - 20h27
(atualizado em 6/1/2014 às 07h42)
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A ascensão do futebol português na década de 1960 esteve diretamente ligada à trajetória do maior jogador lusitano de todos os tempos. Nascido em 25 de janeiro de 1942, na então província portuguesa de Moçambique, na África, Eusébio da Silva Ferreira entrou para a história do futebol comandando durante muitos anos o Benfica e a seleção portuguesa.

Eusébio foi o primeiro do país a receber uma Bola de Ouro, em 1965, quando a premiação era dada ao destaque da temporada europeia pela revista francesa France Football, prêmio que hoje é dado também com a chancela da Fifa ao jogador considerado o melhor do mundo.

Os outros portugueses que receberam a homenagem foram Luis Figo, em 2000 - o meia foi eleito o melhor do mundo pela Fifa em 2001 -, e Cristiano Ronaldo, que ganhou tanto a Bola de Ouro quanto o prêmio da Fifa em 2008. Os dois, porém, atuavam fora de Portugal, enquanto Eusébio estava no Benfica quando foi agraciado.

O atacante chegou ao clube de Lisboa em dezembro de 1961 e lá conquistou dez títulos do Campeonato Português, uma Copa dos Campeões da Europa e cinco Copas de Portugal. Antes de se tornar ídolo da torcidas dos encarnados, porém, Eusébio teve de ficar alguns meses parado esperando uma decisão da Justiça local.

A confusão começou porque Benfica e o rival Sporting demonstraram interesse no futebol do jogador quando ele ainda defendia clubes de Lourenço Marques, sua cidade natal. Eusébio, então, assinou contrato com os dois rivais de Lisboa e, quando chegou à cidade, foi anunciado por ambas as equipes.

A Federação Portuguesa de Futebol precisou intervir na situação e acabou reconhecendo a contratação do atacante pelo Benfica. Depois de vencer o rival no tapetão, os dirigentes encarnados promoveram sua estreia em 23 de maio de 1962. Na ocasião, os reservas dos encarnados enfrentaram o Atlético de Lisboa no Estádio da Luz.

A primeira partida diante de sua torcida não poderia ter sido melhor. Eusébio deu um show de bola, marcou três gols e comandou a equipe na vitória por 4 a 2. O jogo deu início a uma era de troféus e consagrações a um dos maiores clubes de Portugal. E o Pantera Negra, como ficou conhecido, esteve à frente dessas conquistas.

O mais importante título da carreira de Eusébio foi alcançado logo no primeiro semestre de 1962, quando o clube de Lisboa venceu pela segunda vez a Copa dos Campeões da Europa ao derrotar o Real Madrid, por 5 a 3, na final, disputada em Amsterdã (Holanda).

O título continental foi só a primeira conquista de Eusébio, que continuou ganhando campeonatos até sua despedida do clube, em 18 de junho de 1975. Com a águia do Benfica no peito, o Pantera Negra marcou 43 gols na temporada 1967/68 e, por isso, ganhou a "Chuteira de Ouro", prêmio concedido ao maior artilheiro da Europa a cada ano. Na temporada 1972/73, Eusébio balançou as redes em 40 oportunidades e recebeu pela segunda vez a homenagem.

O desempenho com a camisa do Benfica prova que a grande especialidade do Pantera Negra era mesmo marcar gols. Nas 715 partidas em que defendeu a equipe de Lisboa, o jogador balançou as redes 727 vezes.

Depois de deixar o Benfica, Eusébio teve passagens rápidas por clubes dos Estados Unidos, Canadá e México, onde foi campeão nacional pelo Monterrey. O atacante voltou a Portugal em 1980, ano em que encerrou a carreira atuando pelo Beira-Mar.

Seleção portuguesa

Se a trajetória com a camisa do Benfica foi gloriosa, as atuações de Eusébio pela seleção portuguesa não foram menos marcantes. Credenciado como ganhador da Bola de Ouro em 1965, o atacante comandou os lusitanos na Inglaterra, em 1966, na maior campanha do país em uma Copa do Mundo.

Portugal começou a competição desacreditado, já que estava no grupo do Brasil, então bicampeão mundial, e das fortes equipes de Hungria e Bulgária. Mas venceu seus três jogos e se classificou à fase seguinte. Contra o Brasil de Pelé, Eusébio marcou dois gols na convincente vitória por 3 a 1.

A estrela do Pantera Negra voltou a brilhar nas quartas-de-final, quando enfrentou a Coréia do Norte. Os asiáticos, que já haviam derrotado a Itália na primeira fase, começaram a partida contra os portugueses de forma arrasadora e, em menos de 20 minutos, abriram 3 a 0. No entanto, Portugal contava com o futebol de Eusébio, que marcou quatro gols na vitória histórica por 5 a 3.

Nas semifinais, o Pantera Negra voltou a balançar as redes, mas não evitou a derrota por 2 a 1 para a Inglaterra. O mau resultado foi influenciado pela tendenciosa arbitragem em favor dos donos da casa, mas isso não ofuscou o brilho do atacante. No jogo seguinte, a seleção portuguesa venceu a União Soviética por 2 a 1 e terminou a competição no terceiro lugar. Eusébio sagrou-se o artilheiro da Copa, com nove gols, e ainda recebeu o prêmio de melhor jogador do torneio.

O fato de Portugal não ter se classificado para os mundiais de 70 e 74 fez com que sua trajetória com a camisa de seu país fosse muito menor do que os torcedores esperavam. Ao todo, o atacante realizou 64 jogos defendendo os portugueses e marcou 41 gols.

Relação com o BrasilO fato de ter sido o grande responsável pela vitória de Portugal sobre a seleção canarinho na Copa de 1966 não atrapalhou sua relação com o Brasil. A afeição de Eusébio começou quando ele ainda morava em Lourenço Marques. Durante a adolescência, o Pantera Negra jogava em um time de bairro chamado Brasileiros F. C., nome escolhido pela admiração de seus atletas pelo futebol do país campeão da Copa do Mundo de 1958.

Quando já defendia as cores do Sporting de Lourenço Marques, o jogador chegou perto de ser transferido para um verdadeiro time brasileiro, a Ferroviária. No final da década de 1950, o clube de Araraquara realizou uma excursão por Moçambique e o técnico José Carlos Bauer ficou encantado com o talento do craque português. O treinador, então, solicitou à diretoria do clube paulista a contratação do atacante, mas os cartolas preferiram não apostar naquele que se tornaria o maior jogador português de todos os tempos.

Assim, os brasileiros só puderam ver de perto o futebol do craque quase dez anos depois, quando o Benfica veio ao país para disputar um amistoso contra o São Paulo, no Morumbi. A partida foi realizada justamente no dia em que o Pantera Negra completava 27 anos: 25 de janeiro de 1969. E o que mais o marcou em sua visita ao Brasil foi a homenagem que recebeu dos dirigentes são-paulinos.

"No hotel, os companheiros fizeram uma rodinha, apareceu um bolo, as velas e todos cantaram parabéns. Era uma festa que eu já esperava. Mas o que me surpreendeu foi a atitude do São Paulo. Os dirigentes do clube apareceram no hotel e me ofereceram um relógio de ouro. Nunca mais esqueci aquela atitude dos brasileiros", afirmou Eusébio, anos depois do amistoso.

Quando voltou ao Brasil, em 1972, o atacante também teve a oportunidade de participar de um dos sucessos da televisão nacional da época. Ao lado de nomes como Ronald Golias e Jô Soares, Eusébio se arriscou nos estúdios com a "Família Trapo", humorístico da TV Record. "Quando deixei o palco, a plateia me aplaudiu de pé. Sinceramente, nunca senti uma emoção como aquela", afirmou o jogador, que ainda voltou ao Brasil depois de ter pendurado as chuteiras.

Em julho de 2004, Eusébio estreitou ainda mais sua relação com o Brasil ao tornar-se o primeiro estrangeiro a deixar as marcas dos pés na calçada da fama do Maracanã. O português, que é amigo de craques como Rivelino e Pelé, nunca escondeu sua paixão pelo país do futebol. "Não posso externar minha gratidão por tudo que fizeram por mim. Eu amo esse país", afirmou em uma visita ao Brasil, em 1989.RAIO-X DO PANTERA NEGRA

Nome: Eusébio da Silva Ferreira

Nascimento:

25 de janeiro de 1942, em Lourenço Marques (Moçambique) 

Posição de origem: Atacante

Clubes profissionais em que atuou: Sporting de Lourenço Marques (Moçambique), Benfica (Portugal), Toronto Stars (Canadá), Monterrey (México), Minuteman (EUA), Americans (EUA), Las Vegas Quicksilvers (EUA) e Beira-Mar (Portugal) 

Títulos: Campeonato Português (63, 64, 65, 67, 68, 69, 71, 72, 73 e 75), Copa dos Campeões da Europa (1962), Copa de Portugal (62, 64, 69, 70 e 72) e Campeonato Mexicano (1976)

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