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Gás lacrimogênio e balas de borracha contra manifestantes no Maracanã

16 jun 2013 - 20h34
(atualizado às 20h38)
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Três mil manifestantes que protestavam no entorno do Maracanã contra o preço do transporte público e as despesas do Mundial foram dispersos pela polícia com bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha, no primeiro jogo da Copa das Confederações, disputado no mítico estádio, entre Itália e México (2-1).

Pelo menos oito pessoas foram detidas e não havia ainda um saldo de feridos, segundo a polícia militar do Rio.

Armados até os dentes, centenas de integrantes da tropa de choque, da polícia montada e da força nacional cercaram os manifestantes, que protestavam pacificamente em meio a torcedores que chegabam ao jogo, gritando "sem violência", "da Copa eu abro mão, quero saúde e educação" e "O Maraca é nosso".

O protesto ocorreu após outras manifestações em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e outras cidades do País, convocadas nas redes sociais (#ogiganteacorda, Anonymous Rio, entre outras) contra a alta no preço do transporte público e os bilhões de dólares gastos em investimentos públicos para o Mundial-2014.

"O Brasil resolveu acordar. Não estamos aqui por 20 centavos de aumento" no preço das passagens de ônibus, que subiu de R$ 2,75 para R$ 2,95 no Rio, disse à AFP Camila Mesquita, uma estudante de Teatro de 23 anos.

"Esta foi a gota d'água. A Copa é para a gente de fora e para os brasileiros não há nada", queixou-se, enquanto se protegia das bombas de gás lacrimogênio em um posto de gasolina.

O Brasil atravessa um período de frágil crescimento (0,6% no primeiro trimestre, em relação ao período anterior), com uma inflação de 6,5% ao ano, no teto da meta oficial, que afetou a popularidade do governo Dilma Rousseff.

Outros dois jovens exibiam um enorme cartaz que dizia "Copa FIFA: 33 bilhões de reais. Olimpíadas: 26 bilhões de reais. Corrupção: 50 bilhões de reais. Salario mínimo: 678 reais. E vocês acham que isto é por 20 centavos?".

Em grupos menores, os manifestantes continuaram protestando no entorno do estádio durante o jogo. A 80 metros do Maracanã, que esteve em obras durante mais de dois anos e foi restaurado ao custo de US$ 600 milhões para a Copa das Confederações e o Mundial, um grupo de 130 pessoas gritava palavras de ordem, vigiado por 100 policiais.

"Nos hospitais públicos não há um atendimento básico decente, a educação pública é muito ruim e ainda por cima querem fazer a Copa aqui", queixou-se Fábio Gomes, produtor cultural de 33 anos, enquanto corria e enxaguava os olhos pelo efeito irritante do gás lacrimogênio.

Muitos manifestantes, a maioria jovens, usava bandeiras do Brasil como capa, assim como lenços no rosto ou máscaras e até óculos de solda para se proteger dos gases.

Vários pedestres ficaram presos entre manifestantes e policiais. Agachada atrás de uma banca em uma esquina, uma menina de oito anos chorava assutada com os olhos irritados pelos gases.

A poucos passos, uma mãe tentava lavar os olhos do filho de três anos, enquanto um policial gritava que não fizesse aquilo porque era pior.

Alguns manifestantes levavam vinagre para limpar os olhos e um deles pedia em um cartaz a "legalização do vinagre", depois que policiais confiscaram o líquido em outros protestos.

Ao perseguir um grupo que correu para a Quinta da Boa Vista, os policiais acabaram disparando mais bombas de gás lacrimogêneo e gás pimenta contra famílias que nos fins de semana frequentam o parque.

Dois policiais consultados sobre os protestos calcularam em mais de 3.000 os manifestantes e que a expectativa era de um total de 5.000.

No entanto, a polícia militar estimou em 300 o número oficial de manifestantes.

No sábado, na abertura da Copa das Confederações em Brasília, com o jogo Brasil X Japão, a polícia dispersou com gás lacrimogênio e tiros de balas de borracha os manifestantes, deixando um rastro de 33 feridos e 20 detidos.

"O Brasil venceu ontem o Japão por 3-0 na abertura da Copa das Confederações, mas o Japão está muito mais avançado que o Brasil em tecnologia, em saúde e educação", acrescentou.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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