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Imaginava-se tudo na Copa, menos os protestos

21 jun 2013 - 15h31
(atualizado às 15h36)
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Estádios inacabados, caos aéreo, blecaute de comunicação e ruas congestionadas estavam no cenário imaginado por críticos como possíveis problemas na Copa das Confederações e no Mundial de 2014, mas não se previa que uma onda de protestos em todo o Brasil seria a principal dor de cabeça para a Fifa e o governo.

As manifestações, que começaram como um movimento contra o aumento da tarifa de ônibus nas principais cidades do país, rapidamente encamparam temas como o combate à corrupção e repúdio aos gastos do governo com a realização da Copa do Mundo. Apesar de os protestos serem na maioria pacíficos, em muitas cidades houve confrontos com a polícia e depredações.

Antes da competição, os preparativos de segurança do governo diziam respeito principalmente a combate ao terrorismo, com foco em ameaças externas, proteção de portos, aeroportos e fronteiras. Diante dos acontecimentos, o policiamento no entorno dos estádios precisou ser reforçado de última hora para proteger os estádios e torcedores antes das partidas.

"À luz dos acontecimentos e dos eventos que vão acontecer, a polícia deveria ter aumentado seu cardápio de estratégias para enfrentar essas situações", disse à Reuters o especialista em análise de risco Moacyr Duarte, pesquisador da Coppe/UFRJ.

"Você pode aprender a controlar melhor os conflitos de rua com o que faz a polícia em outras partes do mundo mais acostumadas a viver esse tipo de inquietação", acrescentou.

As seis arenas da Copa das Confederações, construídas ou reformadas ao custo de cerca de 4,8 bilhões de reais, foram alvo de manifestações em dias de jogos. O torneio acontece neste mês como principal ensaio para o Mundial do ano que vem e abre um calendário de grandes eventos que tem ainda a visita do papa Francisco, no próximo mês, e os Jogos Olímpicos de 2016.

Cenas de conflitos entre manifestantes e policiais no entorno das arenas ocuparam o espaço no Brasil e no mundo que os organizadores esperavam que fosse dedicado à alegria dos torcedores.

"Queremos hospitais padrões Fifa" e "Da Copa eu abro mão, quero é investimento em saúde e educação" eram algumas das frases escritas nos cartazes levados às ruas e para dentro dos estádios, questionando o legado propagado pela Fifa e pelo governo pela realização da Copa do Mundo, que terá custo estimado pelo governo de 33 bilhões de reais.

"São espetáculos esportivos, ou arenas-show? O quanto se gasta realmente com o futebol e o quanto se gasta para manter esse show?", questionou Duarte.

Em Salvador, onde a seleção brasileira enfrenta a Itália no sábado, ao menos dois ônibus comuns foram incendiados por manifestantes e dois micro-ônibus a serviço da Fifa foram alvo de pedradas na quinta-feira, pouco antes da partida Uruguai x Nigéria, o primeiro jogo do torneio realizado na capital baiana.

Torcedores que seguiam para a partida na Arena Fonte Nova se viram no meio do confronto, alguns precisando fugir das bombas de efeito moral disparadas pela polícia. Problemas semelhantes também ocorreram em jogos em Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza e no Rio de Janeiro.

"Nem a Fifa, nem o comitê organizador local, nem a mídia, ninguém estava esperando", reconheceu o porta-voz da Fifa, Peeka Odriozola, ao ser perguntado sobre os protestos durante entrevista coletiva no estádio do Maracanã, nesta sexta-feira.

TENDÊNCIA DE DIMINUIÇÃO

A Fifa se viu obrigada a desmentir nesta sexta-feira especulações de que a competição poderia ser suspensa e que a entidade estaria até considerando retirar a Copa de 2014 do Brasil. Principalmente por problemas econômicos, mas também em consequência da violência, a Copa do Mundo de 1986 precisou ser transferida da Colômbia para o México.

"Em nenhum momento, repito, em nenhum momento, a Fifa, o Comitê Organizador Local ou o governo federal discutiram ou consideraram cancelar a Copa das Confederações", disse o porta-voz da entidade.

"Estamos em contato constante com todos os envolvidos, incluindo os times, para mantê-los atualizados", disse, acrescentando que não receberam "nenhum pedido para sair de nenhum time".

De acordo com Moacyr Duarte, o especialista em análise de risco, dificilmente os protestos terão fôlego para prosseguir até o Mundial. "Simplesmente ficar convocando as pessoas para ir às ruas sem uma pauta específica, a tendência estatística e histórica é de que o movimento diminua", disse.

"A atenção que a gente vai ter que ter é a mesma que a gente já estava se preparando para os eventos, mas não como consequência do que está acontecendo hoje."

NO RESTO, POUCOS PROBLEMAS

Se agora precisam lidar com um problema totalmente inesperado em meio à competição, os organizadores ao menos podem comemorar o bom funcionamento da maioria dos serviços relacionados à Copa das Confederações. Filas nos estádios e na retirada dos ingressos, e problemas no transporte público em Recife, foram as únicas queixas apresentadas pelos torcedores até o momento.

Com quase metade da competição disputada, os aeroportos têm suportado os voos de torcedores e da mídia entre as seis cidades-sede, e os estádios acabaram ficando prontos e foram aprovados nas partidas.

Deve ser considerado, no entanto, que apenas 3 por cento dos quase 800 mil ingressos vendidos para o torneio foram comprados por moradores do exterior, o que alivia o tráfego nos aeroportos se comparado com o que se espera para a Copa do Mundo, entre 600 mil e 1 milhão de turistas estrangeiros.

Em termos de segurança, houve uma denúncia de furto dentro de alguns quartos do hotel em que a seleção espanhola ficou hospedada em Recife.

(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)

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