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Indignado, Uruguai vê punição a Suárez como 'infâmia'

26 jun 2014 - 13h26
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Denise Mota

De Montevidéu para a BBC Brasil

A notícia de que o atacante Luis Suárez não poderá voltar a jogar nesta Copa e estará suspenso do futebol por quatro meses foi recebida com indignação e críticas em Montevideu nesta quinta-feira.

"Indignante a resolução da Fifa" foi o comentário da presidente da Frente Ampla (coalisão governista do Uruguai, no poder há quase dez anos), Monica Xavier. "A notícia que o Uruguai não queria ouvir", definiu Joel Rosenberg, o jornalista de rádio mais ouvido de Montevidéu poucos minutos depois do anúncio da Fifa.

Canais de televisão imediatamente consideraram a punição como "a pior notícia" para o país, uma "infâmia", "a sanção mais dura da história das Copas".

Surgiram na mídia declarações da família de Suárez e do restante da seleção do país, que estaria consolando o jogador neste momento. "A Celeste fica sem seu goleador", publicou o jornal El País, o mais lido do Uruguai, em sua versão online.

Nas redes sociais, torcedores começaram a organizar um movimento de defesa de Suárez na praça chamada Suárez, em Montevidéu. Apesar de levar o sobrenome do jogador (e por isso ser o lugar aventado para o encontro), a praça homenageia Joaquin Suárez, político uruguaio no século 19.

Bons modos

Na quarta-feira, torcedores, personalidades e a imprensa uruguaia - sem contar o próprio presidente do país, José Mujica - apoiaram o atacante depois da sua mordida no ombro do zagueiro italiano Giorgio Chiellini. "Não o escolhemos para ter bons modos. É um excelente jogador", disse Mujica.

Pouco antes da meia-noite de quarta-feira, quando ainda não se sabia da decisão da Fifa, a hashtag #DeOficioTodosoNinguno (algo como "investigação para todos ou para ninguém") estava entre os tópicos mais comentados no Twitter em todo o mundo.

Com o uso da hashtag o companheiro de seleção de Suárez, Jorge Fucile, escreveu que "todos os jogadores são iguais. Se vale para um, vale para todos ou não vale para nenhum". Outros jogadores da "Celeste", como Alvaro Pereira, Diego Pérez e Nicolás Lodeiro, apoiaram Suárez na mesma linha.

Ao longo do dia, as redes sociais reproduziram comentários de igual teor vindos de anônimos e de outros integrantes do futebol local como Sebastián Bauzá (ex-presidente da Associação Uruguaia de Futebol - AUF), que dizia que "os tribunais da Fifa" tinham "que agir com independência".

Entre declarações de "orgulho" com relação a Suárez, emitidas por âncoras de noticiários de televisão, os principais argumentos dos uruguaios dentro ou fora dos meios de comunicação foram que, se a mordida tivesse partido de qualquer outro jogador ou de algum atleta de outro país, as consequências seriam diferentes.

A opinião foi compartilhada publicamente por Alejandro Balbi, advogado e integrante da AUF, que falou com a imprensa uruguaia antes de entrar no Copacabana Palace, onde se reuniu a Comissão Disciplinar da Fifa na quarta-feira.

Para ilustrar a opinião, a cotovelada de Neymar no croata Luka Modric no jogo de abertura da Copa, mencionada por Diego Lugano em entrevista coletiva, foi mencionada entre jornalistas e comentaristas esportivos como exemplo de atitude igualmente passível de sanção pela comissão da Fifa, mas que não alcançou maiores consequências.

Brasil

Outra linha de argumentação bastante corrente no país agora é a de que, "para não enfrentar o Uruguai com Suárez", equipes como a do Brasil, principalmente, estariam interessadas no afastamento de Suárez.

"Foi uma decisão claramente tendenciosa", disse o apresentador de um flash informativo do canal Teledoce, de TV aberta, ao comentar a sanção na manhã de hoje.

A nota dissonante ficou por conta de Alcides Ghiggia, herói do "Maracanaço" (quando o Uruguai ganhou do Brasil na final da Copa de 1950, no Maracanã), que disse, segundo informação da agência Reuters, não saber o que Suárez "tem na cabeça"

"É necessário censurar essas coisas em um campo de jogo. Isso não é uma guerra", disse a lenda uruguaia.

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