PUBLICIDADE

Alemanha

Capitão e feliz na Europa, Josué celebra confiança de Dunga

11 abr 2009 - 07h29
(atualizado às 07h37)
Compartilhar

Disciplinado nos treinamentos, forte marcador dentro de campo e dono de comportamento exemplar fora dele, Josué costuma se dar bem com treinadores rígidos. Sob o comando de Muricy Ramalho, se transformou em um dos principais volantes do futebol brasileiro. Já com o alemão Felix Magath, famoso por levar os jogadores à exaustão, chegou a subir montanhas para se condicionar fisicamente. Ganhou prestígio e a braçadeira de capitão.

» Veja mais fotos de Josué

» Veja a classificação atualizada

» Confira a tabela completa

» Opine: Josué merece ser convocado por Dunga?

Como seria natural, também agrada ao rígido Dunga e já foi chamado em 15 convocações da Seleção Brasileira. Mas, juntamente com Gilberto Silva, é um dos nomes mais criticados pelo desempenho dos volantes que vestem verde-amarelo. Nada disso, porém, perturba Josué.

"Procuro trabalhar e não assisto programa esportivo, não leio jornal e nunca fui de ver notícias. Não dou ouvidos para coisas ruins e não quero ver o que falam de mim", afirma, taxativo, em entrevista exclusiva ao Terra.

Se hoje é motivo de críticas no Brasil, Josué é quase uma unanimidade em Wolfsburg, pequena cidade alemã sede da Volkswagen. Líder do Campeonato Alemão, a equipe do brasileiro - que jogou todas as 26 partidas do torneio - não perdeu jogos em 2009 e assumiu a ponta. No centro disso está o capitão, ex-São Paulo, um dos destaques na temporada.

Confira a entrevista de Josué na íntegra:

Terra - Mais que no Brasil, o capitão de um time é muito valorizado na Europa. Como você tem se saído na função, a despeito das barreiras do idioma?

Josué - Estou super feliz com isso. Primeiro porque não é fácil sair do Brasil e, depois de uma temporada, se tornar capitão e trabalhando com um treinador muito reconhecido. Um dos nomes mais fortes da Alemanha.

A dificuldade da língua é normal, mas o clube dá quantas aulas você quiser, com o professor indo até sua casa. Costumo ter de duas a três aulas por semana e isso tem me ajudado bastante. No começo, eu era preguiçoso, mas depois que recebi essa confiança, me senti pressionado em falar melhor e não só o básico. Então falo o suficiente para me acompanharem e também me viro com a linguagem do futebol.

Terra - O Magath é famoso pelo jeito rígido e pelos treinamentos físicos inusitados. Como é trabalhar com ele?

Josué - Cada treinador tem sua filosofia e o Magath não é diferente. Ele é exigente, mas nunca exige mais do que cada um pode dar e sabe qual o limite de cada um.

Ele tem esse método de não usar muito uma academia, e sim você faz exercícios usando seu próprio corpo como peso. Isso vai desde subir cordas com uma mão, com as duas, como subir montanha de 3 mil metros. Se você falar assim, vão estranhar, mas ele é um treinador bom, que procura colocar sua filosofia. A gente se adaptou bem e vem se entendendo. Por isso o sucesso do Wolfsburg.

Terra - A liderança do Alemão tem passado de mão em mão. Como fazer para mantê-la?

Josué - Não é nada fácil e o campeonato está bem nivelado. Hoje, estamos no topo, mas temos que assimilar que não é fácil de manter. Só estamos liderando no saldo de gols e as perguntas dessa semana são sempre nessa linha de manter. Então não podemos desviar o foco, pois foi assim que a gente conseguiu a liderança. Temos jogos difíceis, mas não podemos deixar a ponta iludir.

Terra - Na última temporada, vocês dispararam no fim e arrancaram a vaga na Copa da Uefa. Agora, o Wolfsburg cresce de novo após a parada de inverno e ainda não perdeu nesse ano. A explicação é física ou técnica?

Josué - Um pouco de cada coisa. Na temporada passada aconteceu isso também. Não tivemos um primeiro turno tão bom, mas no returno fomos quase perfeitos. O Magath tem uma coisa na cabeça e não muda de forma alguma: jogador trabalha sempre no limite, sempre em potência máxima. A pré-temporada aqui é muito forte mesmo em relação ao Brasil e aos outros clubes da Europa. Jogador sofre, sofre muito.

Para quem chega do Brasil e vai encarar isso logo de cara, vai sentir. Graças a Deus, cheguei no ano passado com a pré-temporada terminada, então escapei (risos). E aqui você treina, inclusive, no dia do jogo.

Terra - O Grafite está em alta, é artilheiro do Alemão. Como você tem acompanhado essa fase dele?

Josué - É um dos melhores momentos que ele passa na carreira. Vem desequilibrando pra nós, mas digo que além dele, que é o homem mais importante, há um grupo forte, sem superstar. É um elenco de peças importantes e cada um tem sua função dentro de campo. Por muitos jogos em que ele não esteve, outros jogadores, como o Dzeko, foram muito bem. Mas realmente ele vive um grande momento.

Terra - E o Dunga, já perguntou sobre ele para você?

Josué - Quando você está lá na Seleção, se fala muito de futebol. E pela fase dele, os jogadores perguntam sobre o Grafite. E eu digo que está muito bem. O Dunga observa muito os jogadores brasileiros, tanto que chamou vários jogadores de longe quando assumiu, como o Elano e o Daniel Carvalho. Mas não é tanto de perguntar essas coisas. Se o Grafite continuar assim, logo será chamado.

Terra - Sobre a vida na Alemanha. Como é a cidade de Wolfsburg e a ligação entre clube e Volkswagen?

Josué - A cidade é pequena, tem uns 120 mil habitantes e é bem pacata. Claro, fria como toda a Alemanha. Wolfsburg gira em torno do clube e principalmente da fábrica (Volkswagen), que tem uma ligação forte com a equipe, pois tem 90% das ações.

A Volks é onde está o poder financeiro e até por isso trouxe o Magath. Aqui ele é manager, diretor, tudo. Tem o clube nas mãos e a única que pode demiti-lo é a Volks. A partir da chegada dele, se investiu muito e tem dado resultado. Já no primeiro ano, ficamos na quinta posição e estamos bem de novo.

Terra - E como é a vida por aí? Você se adaptou com facilidade?

Josué - Minha vida fora de campo é sossegada. Tenho dois filhos e sou casado, então gosto do meu churrasco, aproveito as folgas para ficar com a família. A adaptação foi super rápida e o futebol alemão é diferente do brasileiro. Não pára nunca.

Não tem tanta técnica, em comparação, mas é muito pegado e os juízes não dão tantas faltas. Só quando é falta mesmo. Então não tive muitas dificuldades de me adaptar, já que sou marcador.

O bom para mim também é que tive seqüência. Cheguei e já joguei de cara. Também pude me adaptar pela ajuda do Marcelinho Paraíba, que estava aqui e me dava dicas. Aqui, se você dá um carrinho, a torcida vibra, se dá um chapéu, não. No Brasil, tem o espaço maior, aqui não tem tanto espaço. Por causa do frio, o campo está sempre liso e o jogo fica perigoso.

Terra - Aliás, o Marcelinho tinha essa fama de rebelde na Alemanha, apesar de ter jogado muito bem, sobretudo pelo Hertha Berlin. Como era o contato com ele?

Josué - Ele sempre teve aquele estilo explosivo, todos o conhecem. Às vezes, se envolvia em uma ou outra coisa, mas nos conhecemos e virou um grande amigo. Pensava que ele era meio maluco, e lógico que todos têm seus problemas, mas nos tornamos grandes amigos.

Ele foi embora daqui, mas não por ter problemas, mas sim pois ele queria mesmo voltar ao Brasil. Já era reconhecido na Alemanha e tinha um assédio enorme de todos.

Terra - O Mineiro, que fez aquela grande dupla com você no São Paulo, não deu tão certo na Alemanha e vem sem receber chances no Chelsea. O que será que acontece com ele?

Josué - O Mineiro é um cara sensacional, um amigo que tenho até hoje. Mantemos contato, nos falamos quase todas as semanas e nossas esposas também são muito amigas. O Mineiro, pela personalidade, é mais tímido, e aqui na Alemanha você precisa impor sua postura. Às vezes, podem querer te tratar como um qualquer, por chegar de um país de terceiro mundo.

Às vezes pode ter sido isso. Porque pelo próprio futebol, ele tem e muito. Ou por uma opção de treinador mesmo.

Terra - Quando você jogava no São Paulo, todos te pediam na Seleção. Agora, você é um dos mais criticados. Como vê essa situação?

Josué - É sempre assim. Quando você está fora, querem você. E quando está, não querem mais. O povo se ilude muito, achando que a Seleção tem que vencer todos os jogos por quatro ou cinco. Isso é impossível hoje, está tudo muito nivelado. Você pode jogar contra qualquer time, sei lá, um Iraque, e terá dificuldades.

O futebol ficou força mesmo e o físico é que vem superando a parte técnica. Sou um cara que procuro trabalhar, não assisto a programa esportivo, não leio jornal e nunca fui de ver notícias. Não quero ver o que falam de mim e não dou ouvido para as coisas ruins. Acho que isso só atrapalha.

Quem pode me tirar é o Dunga, mas ele vem mostrando que tem confiança em mim e sempre estive presente nas últimas convocações. A confiança que preciso conquistar é do Dunga, não dos torcedores. É ele que observa, acompanha, então é ele quem eu preciso convencer.

Terra - Como é o ambiente da Seleção? A mentalidade mudou muito com a presença do Dunga?

Josué - Tive pouco tempo com Parreira e Luxemburgo. Foi um jogo só com cada um. Já com o Dunga, o ambiente é bacana, animado. Sempre há comentários de que a Seleção trabalha pouco, mas ele é um trabalhador, passa confiança. Ele gosta de trabalhar. E eu procuro aproveitar ao máximo, pois é um ambiente saudável. Mas é aquele negócio: se a Seleção ganha de 1 a 0, existe mais crítica que elogio. Prefiro jogar mal e ganhar do que dar espetáculo e perder. Acabou o show, não se ganha assim.

Terra - Como você tem acompanhado o Adriano? Ele estava tranqüilo durante a última convocação ou falou algo sobre a festa que foi repercutida?

Josué - Quando se envolve nomes de grandes jogadores, é aquela coisa. As pessoas vão querer notícia, transformar tudo em polêmica. Ele estava com a cabeça tranqüila e não se envolveu com nada nessa festa. Até foi bom o travesti aparecer e dizer isso, ainda bem que teve sinceridade e não colocou o nome do Adriano como o mal da história. Sobre ele desaparecer, a gente já não sabe muito bem.

Terra - Você vai ficar muito ainda na Europa ou pensa em voltar para o Brasil?

Josué - Tenho mais dois anos de contrato, mas já houve interesse de uma renovação. Não sei por quanto tempo, mas estou prestes a completar 30 anos. Se fosse para mais dois anos, eu ficaria até os 34. Então retornaria para jogar um ano só no Brasil. Ou nem isso. Vai depender de como vão estar minhas pernas. Vamos ver se vai dar pra ficar.

Terra - Quando você saiu, o Hernanes virou teu substituto. Como tem acompanhado o crescimento dele?

Josué - Ele é diferenciado e um cara que se cuida muito. É um pregador da palavra de Deus, um evangélico fervoroso e um grande amigo. Desde que chegou, já jogava assim, mais adiantado. Chegou a ser emprestado, ganhou experiência e retornou depois da minha saída. Daí, jogando como volante, ele abraçou a posição e teve seus méritos. Hoje, vem sendo o diferencial do time, foi para a Seleção e vem sendo cogitado de novo. É muito novo, vai passar por muitas coisas. Mas é para ser observado.

Capitão do Wolfsburg, Josué vive momento importante na Alemanha e agrada a Dunga
Capitão do Wolfsburg, Josué vive momento importante na Alemanha e agrada a Dunga
Foto: Getty Images
Fonte: Redação Terra
Compartilhar
Publicidade