PUBLICIDADE

Futebol Internacional

Balotelli e Cassano: as loucuras dos bad boys que tentam salvar Itália

18 jun 2012 - 10h39
(atualizado às 11h04)
Compartilhar
Dassler Marques
Direto de Gdansk (Polônia)

"A Itália tem dois grandes talentos, mas são loucos". A definição é de Fabio Capello e direciona para dois protagonistas do futebol europeu quanto o assunto é unir técnica e loucuras nas mesmas proporções. Antonio Cassano, 29 anos, e Mario Balotelli, 21 anos, formam o ataque italiano que busca a vaga nas quartas de final da Eurocopa, nesta segunda-feira, contra a Irlanda em Poznán. Carregam, junto da ala veterana formada por Pirlo, Buffon e Chiellini, o sonho de vencer o título europeu pela segunda vez.

» Concurso cultural: autor de frase mais criativa ganha camisa da Inglaterra

» Torcedores agitam nos estádios da Eurocopa; veja fotos

O sempre lúcido Cesare Prandelli só não pode esperar o mesmo de seus dois atacantes prediletos. Os três são símbolos de uma Itália que tenta e consegue, de certa maneira, se reconstruir desde a queda na primeira fase da última Copa do Mundo. Cassano e Balotelli são a reserva de genialidade do futebol italiano, mas as limitações de seus feitos no esporte, ainda que de gerações diferentes, passa pelo que são capazes de produzir em momentos de explosão.

Como quase sempre, os perfis controversos surgem a partir de uma infância nada linear. Cassano cresceu com muitas dificuldades em um bairro barra-pesada de Bari, sua cidade natal. Mario Balotelli, o segundo negro a jogar na seleção italiana após Liverani, mais difícil: filho de imigrantes ganeses, veio ao mundo em Palermo mas foi abandonado logo após o primeiro aniversário. Criado no interior, tinha em sua cor de pele um artigo de exceção no colégio onde estudou.

Italiano e único

Mario fatalmente se constituiu homem em cima desses parâmetros. As atitudes que pode incluir em uma eventual biografia já riquíssima são diversas. Sugerem rebeldia: já pisou na cabeça de Scott Parker, do Tottenham, e foi suspenso por quatro partidas, o mesmo número de colegas de Manchester City com quem já partiu às vias de fato. Também sugerem ingenuidade: invadiu uma prisão feminina, certa vez, para saber mais sobre como funcionavam as coisas por ali. Ou mesmo insanidade: xingado por torcedores do City após uma eliminação, parou o carro e quis resolver no braço.

Há tantas loucuras envolvendo Balotelli que algumas delas viraram lenda. Em Manchester, afirma-se que em um certo dia de Natal ele vestiu-se de Papai Noel e distribuiu dinheiro. "Quando é Mario, acredito em qualquer coisa", disse Roberto Mancini, o treinador a apostar em sua contratação. Há um lado doce no irascível atacante de movimentos elásticos, dribles improváveis e chutes poderosos. Há cinco anos, ele auxiliou um abrigo para mulheres carentes em favelas brasileiras nas festas de fim de ano. Deixou a Inglaterra rumo à Milão, invadiu a apresentação do jovem treinador Andrea Stramaccioni na Inter e, após apertar sua mão e desejar boa sorte, voltou imediatamente.

O agressivo e doce Mario também podia se candidatar a embaixador da ONU, quem sabe. Ele já fez campanha contra o serviço militar infantil no Leste Europeu, por exemplo. Mas, pensando melhor, suas atitudes não permitem servir exatamente de espelho. Por dentro de sua cabeça coberta por um ralo moicano branco, por trás de seu sorriso espontâneo, há um sujeito imprevisível. Que se divertiu com tiros de dardos em jogadores mais jovens do City ou que incendiou a própria mansão enquanto brincava com amigos e fogos de artifício.

O episódio de Mario e seus amigos ocorreu simplesmente na véspera de um clássico contra o Manchester United, o que não impediu de que ele fosse o astro da partida. Primeiro por ter aberto o caminho para uma goleada por 6 a 1. Depois porque celebrou seu gol, o que também é raro, com uma camisa que marcou a temporada: "por que sempre eu", perguntava. Balotelli, que nasceu para brilhar, ainda não brilhou na Euro. Titular contra Espanha e Croácia, deve ter a presença na primeira equipe anunciada minutos antes do jogo em Poznán.

Mulherengo e renascido

Cassano, oito mais velho que Balotelli, já registrou sua vida em uma biografia. É nela que constam algumas de suas histórias mais assombrosas. A mais famosa delas dá conta de que, até jogar pelo Real Madrid em 2008, Antonio já havia dormido com mais de 700 mulheres. Muitas, admite, na concentração e com relações amorosas seguidas por muitos croissants. A combinação de gula e luxúria teve seu auge em Madri e ele virou El Gordito, cerca de 10 quilos acima do peso. Ronaldo, claro, era El Gordo para os espanhóis.

Capello, treinador daquela época, chegou a dar um nome às maluquices do italiano: Cassanadas. Na Itália, àquele momento, elas já eram famosas. O menino que destruiu a Inter de Milão no Giuseppe Meazza aos 18 anos e foi vendido por 35 milhões de euros à Roma, em Madri, saiu de cena após ser flagrado com críticas irônicas ao técnico, mas não sem antes trocar farpas com o presidente. Na Sampdoria, reconstruiu a carreira que tivera seu auge com gols contra Bulgária e Suécia na Euro 2004, insuficiente para levá-lo à Copa 2010.

Embora também tenha brigado com o presidente da Sampdoria em sua saída para o Milan, Cassano está mais calmo. As brigas com árbitros eram rotina para ele. A Nicola Pierlapoli atirou a camisa após um vermelho e chamou para a briga. A Rosetti, sugeriu infidelidade de sua mulher. Os dois feitos renderam nove jogos de suspensão, por exemplo. Mas os tempos atuais são diferentes, jura Cassano, titular absoluto na seleção de Prandelli. Casado com Carolina Marcialis há dois anos e pai de Cristopher, em 2011, Antonio renasceu.

Vítima de um AVC isquêmico em outubro de 2011 perdeu toda a temporada pelo Milan após ser submetido a uma cirurgia no coração, mas ganhou a vida outra vez. E a chance de jogar uma Eurocopa como titular. Chamar homossexuais de "frocios", expressão pejorativa aos italianos, foi sua mais nova polêmica na Polônia. Tudo que ocorreu nos últimos três anos poderia render a segunda edição de sua biografia. A Itália espera que o último capítulo seja o título da Euro.

Polêmicos fora de campo, Balotelli e Cassano são as esperanças de título da Euro para Itália
Polêmicos fora de campo, Balotelli e Cassano são as esperanças de título da Euro para Itália
Foto: Reuters / AP
Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade