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Futebol Internacional

Com ajuda brasileira em coreografias, islandeses viram febre

10 ago 2010 - 11h56
(atualizado às 14h09)
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Diego Freire

O jogador islandês Jóhann Laxdal admitiu que não sabia muito sobre o Brasil até duas semanas atrás: "eu conhecia pouco, sabia apenas que vocês são um povo que joga futebol bonito e alegre, sempre fui fã do Ronaldinho, que joga com um sorriso no rosto", comentou o zagueiro, 20 anos, em entrevista exclusiva ao Terra.

Hoje, ele tem um perfil no site de relacionamentos Orkut unicamente para interagir com amigos do País, graças a uma incrível história: por meio da internet, quatro brasileiros sugeriram que Laxdal comemorasse um gol na Islândia fazendo uma "bicicleta humana" com os companheiros. A inusitada ideia foi aceita e colocada em prática na última quinta, na vitória do KR por 3 a 1 sobre o Stjarnan, sua equipe.

O atacante Halldor Orri Björnsson, companheiro de Laxdal no Stjarnan - atual sexto colocado do Campeonato Islandês, disputado por 12 clubes - não poderia imaginar que uma pescaria com seu pai tomaria proporções mundiais.

Foi nesse momento que surgiu a ideia de comemorar um gol da equipe simulando uma pesca (no caso, Laxdal atuou como peixe, se contorcendo no gramado quando "fisgado"). A imagem da brincadeira rodou o mundo e fez especial sucesso em uma comunidade de futebol no Orkut, onde os internautas Reinaldo Andrade, Leonardo Wetzel, Jorge Antunez e Lucas Padilha tiveram acesso ao vídeo e partiram em busca de mais informações.

Por intermédio dessa pesquisa, Reinaldo, estudante de Logística da cidade de Santos (SP), descobriu o perfil de Jóhann Laxdal no Facebook. O carioca Leonardo Wetzel, formado em Relações Internacionais, sugeriu que alguém entrasse em contato com o islandês e lhe apresentasse o vídeo da "Bicicleta Humana", um funk do grupo carioca Mulekes Piranhas, cuja coreografia poderia ser reproduzida pelos jogadores do Stjarnan.

Foi então que Lucas Padilha, estudante de Jornalismo de Cruz Alta (RS), e Jorge Antunez, estudante de Direito de Porto Alegre (RS), enviaram mensagens para o zagueiro, que gostou da proposta e prometeu colocá-la em prática.

"Por incrível que pareça, eu estava otimista de que ele ia cumprir a promessa, pelo jeito como sempre foi receptivo no Facebook", contou Lucas Padilha, que agora busca outro feito difícil: "prometi que se eles fizessem a comemoração da 'bicicleta humana' eu compraria uma camisa do Stjarnan, mas não encontro em lugar nenhum na internet".

A expectativa para que a coreografia fosse executada na comemoração foi tamanha que Reinaldo Andrade tentou acompanhar o jogo entre KR e Stjarnan direto do Brasil.

"Eu tentei assistir ao jogo ao vivo, mas só encontrei o link de uma rádio islandesa que transmitia, e não consegui ouvir. Depois que soube que tinham feito gol fui imediatamente procurar no Youtube, mas as imagens só apareceram um dia depois... Quando fiz a pesquisa já encontrei o nome 'bicycle celebration'. Eu vi e nem acreditei, comecei a rir que nem bobo", lembra.

Também empolgado com o sucesso da iniciativa, Jorge Antunez não descarta a possibilidade de enviar novas propostas para Laxdal: "se todo mundo for no Facebook do cara e pedir 300 comemorações diferentes agora, ele pode se chatear. Mas depois que baixar a poeira eu vou ver se mando outra coisa... Se bem que achar um negócio tão original quanto a 'bicicleta humana' vai ser difícil demais", avaliou.

O próprio Laxdal, no entanto, já vislumbra novas coreografias para as próximas partidas: "temos algumas comemorações em mente, algumas boas e outras nem tanto".

O jogador conta com o incentivo de seus companheiros de time e compatriotas em geral pra dar prosseguimento às brincadeiras: "além da repercussão no mundo inteiro, a imprensa islandesa se divertiu muito com o que fizemos. Não foi fácil realizar a 'bicicleta humana', tivemos que ensaiar muito, mas aparentemente somos bons nisso e não mediremos esforços para praticar se a comemoração for realmente boa", promete.

Na vitória por 3 a 2 contra o Selfoss, nesta segunda, o Stjarnan deu uma amostra de que o repertório está longe de se esgotar. Com uma média baixa de gols, o time não marcava três vezes em uma mesma partida desde o início de julho. Ainda assim, não faltaram coreografias para o jogo mais inspirado da equipe desde o começo da sequência de comemorações criativas: os jogadores divertiram a torcida encenando um parto, um tropeço e o movimento de dar corda em um atleta que ficou "sem bateria".

"Eles têm potencial para se tornarem o Harlem Globetrotters do futebol", comparou Leonardo Wetzel, em referência ao irreverente time de basquete americano.

Em constante contato com Laxdal pelo Facebook, o brasileiro lhe apresentou aos "Meninos da Vila" do Santos, que também criaram fama pelas danças após os gols - embora nenhuma tão complexa quanto a "bicicleta" islandesa: "recomendei ao Laxdal que desse uma olhada nas comemorações dos 'Meninos da Vila', mas na verdade acho que os jogadores do Santos que deveriam se inspirar no Stjarnan, pois no quesito comemorações eles são campeões mundiais", concluiu.

Islândia

Atual 79ª colocada no Ranking da Fifa, a Islândia ainda tem um futebol semi-profissional, em que a maioria dos jogadores precisa exercer um trabalho paralelo para se sustentar. É o caso de Jóhann Laxdal, que, aos 20 anos, é jardineiro na cidade de Garðabær, de 10 mil habitantes, embora seja um promissor atleta com passagens pelas categorias de base da seleção do seu país.

"Tudo que eu conhecia da Islândia era o vulcão (Eyjafjallajoekull, que recentemente entrou em erupção e provocou caos aéreo na Europa), o Gudjohnsen (jogador de futebol islandês mais famoso, com passagens por Chelsea e Barcelona), a Björk e a banda Sigur Rós", listou Lucas Padilha, que vem aprendendo mais sobre o país por intermédio do intercâmbio cultural com o ídolo das comemorações inusitadas.

"Fico impressionado como o Jóhann, mesmo sendo um jogador de primeira divisão, ainda tem tempo de brincar no Facebook, falar com os fãs, e curtir o rock clássico dos amigos", disse Leonardo Wetzel, salientando a diferente realidade da vida dos jogadores de futebol da Islândia, nação que sempre figura entre as primeiras no ranking dos maiores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do planeta, apesar de ter sido uma das mais atingidas pela última crise econômica mundial, por conta da dívida externa acumulada após a falência dos seus principais bancos.

Já nas primeiras conversas com Laxdal, Leonardo declarou sua torcida para que a Islândia se classifique para a Copa de 2014: "gostaria de ver toda aquela criatividade de perto, aquelas comemorações em uma Copa do Mundo seriam um momento mágico", imaginou.

O jogador, porém, é realista e vê o sonho como algo muito distante: "acho incrível um brasileiro, que mora no país de melhor futebol do mundo, torcer para a Islândia. É muita honra, um grande sonho, mas é algo quase impossível se classificar para a próxima Copa, já que enfrentamos nações muito difíceis nas Eliminatórias da Europa", explicou.

Na tentativa de se classificar para o Mundial de 2010, a seleção islandesa foi a última colocada em um grupo que também tinha Holanda, Noruega, Escócia e Macedônia. Sua única vitória foi contra os macedônios, por 1 a 0, jogando em casa, na capital Reykjavik.

Brasileiros sugerem e time islandês imita funk após gol:
Fonte: Especial para Terra
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